O ano passado foi o segundo mais quente alguma vez registado no continente europeu, tendo as temperaturas ficado acima da média durante 11 meses do ano e setembro sido o mais quente já registado. São as conclusões do relatório “Estado do Clima na Europa em 2023”, realizado pelo Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S), com o apoio da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Tanto o inverno como o outono foram as segundas estações do ano mais quentes já registados na União Europeia (UE), tendo-se verificado uma tendência crescente no número de dias com “forte stress térmico” e um número recorde de dias com “stress térmico extremo”.
Segundo a investigação, maio foi o único mês em que a temperatura na Europa como um todo esteve ligeiramente abaixo da média.
Em agosto do ano passado, grande parte da Europa registou temperaturas mais altas do que a média, exceto algumas zonas do norte europeu, sendo que muitas regiões sofreram ondas de calor, enquanto outras sofreram inundações.
Segundo o estudo, as ondas de calor afetaram grandes áreas na Europa, com vários recordes diários de temperatura quebrados em diversos países. No pico de uma onda de calor em julho de 2023, um número recorde de 41% do sul da Europa foi afetado por stress térmico “forte”, “muito forte” ou “extremo”.
“Embora o verão de 2023 não tenha sido o mais quente já registado na Europa, a estação registou condições que foram, por vezes, extremas. Houve grandes contrastes de temperatura e precipitação, de um mês para o outro, que ficam mascarados quando se olham para as médias sazonais”, explica o relatório do Copernicus.
De acordo com a análise, as temperaturas na Europa como um todo mostram tendências de aquecimento a longo prazo, destacando que os três anos mais quentes já registados na UE ocorreram desde 2020.
No que toca à temperatura média da superfície do mar, em toda a Europa foi a mais quente alguma vez registada. Segundo o estudo, “o oceano é um importante reservatório de calor no sistema climático, cobrindo mais de dois terços da superfície da Terra. O oceano absorveu 90% do excesso de calor relacionado com as emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa”.
Impacto do calor na saúde
Neste sentido, o relatório “Estado do Clima na Europa em 2023” adianta que o número de impactos adversos na saúde relacionados com fenómenos meteorológicos e climáticos extremos está a aumentar.
Desde 1970, o calor extremo tem sido a principal causa de mortes relacionadas com as condições meteorológicas e climáticas na Europa, com um aumento substancial desde 2000, adianta a investigação europeia.
Desta forma, a mortalidade relacionada com o calor aumentou cerca de 30% nos últimos 20 anos e estima-se que as mortes relacionadas com o calor tenham aumentado em 94% das quase 1000 regiões europeias monitorizadas, explica a análise.
As organizações deixam o alerta de que “as atuais intervenções sobre as ondas de calor serão em breve insuficientes para fazer face ao esperado impacto de saúde relacionado com o calor”.
Incêndios florestais
Durante a maior parte do ano, a Europa registou um perigo de incêndio acima da média, refere a investigação do Copernicus, que adianta terem sido registados altos níveis de perigo de incêndio no início do verão no norte da Europa e, mais tarde, no sudoeste europeu.
O relatório refere que, no verão, ocorreram grandes incêndios em Portugal, Espanha, Itália e, especialmente, na Grécia, tendo a época de incêndios florestais sido a quarta maior área ardida alguma vez registada na UE, num total de cerca de 500.000 hectares.
“As condições de seca conduziram a grandes incêndios, incluindo em partes da Península Ibérica, que registaram precipitação e uma humidade do solo particularmente abaixo da média em março e abril”, explica o relatório.
2023 foi o segundo ano mais quente dos últimos 93 em Portugal