Os bioplásticos não foram considerados como alternativas viáveis pelas empresas e entidades presentes no painel sobre bioplásticos da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), em parceria com a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED).
Para a representante do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Ana Cristina Carrola, “é essencial que estes bioplásticos, quando colocados com alguma dimensão no mercado, sejam efetivamente encaminhados pelo cidadão para um destino adequado, um contentor de recolha seletiva que, neste caso, deixa de ser o contentor amarelo e passa a ser o dos biorresíduos”.
“Para tal importa que seja passível de o cidadão os distinguir dos outros, devendo apostar-se numa marcação que permita claramente efetuar esta distinção junto do consumidor”, acrescentou a responsável.
Fernanda Ferreira Dias, da Direção-Geral das Atividades Económicas, deu o exemplo de Bruxelas, cidade onde, desde 2010, são operados 12 fluxos de resíduos, e reconhece o atraso de Portugal nesta matéria. Mas alerta que “a mensagem a dirigir às empresas é uma única: tem de haver um alinhamento de objetivos entre os agentes públicos e privados. E o caminho da ecologia e do digital é irreversível. As empresas têm necessariamente de se adaptar a este novo paradigma”.
Às lacunas existentes ao nível da correta separação dos bioplásticos, somam-se os desafios do tratamento em fim de vida destes materiais. Inês Baeta Neves, da Valorsul, revelou que muitos destes bioplásticos não se degradam nos processos de compostagem existentes e acabam por ter de ser encaminhados para incineração ou, quando tal não é possível, para aterro.
Ana Vera Machado, da Universidade de Aveiro, admitiu que “está a trabalhar-se muito no desenvolvimento e na substituição de embalagens de uso único, mas os desafios também passam muito pela nossa sociedade. As pessoas têm de ter informação (…) e é necessário potenciar a reciclagem.”
Outras problemáticas
Por sua vez, o Diretor-Geral da APED, Gonçalo Lobo Xavier, afirmou que o plástico não vai acabar. “Esta diabolização que assistimos do plástico está enferma de muito desconhecimento por parte da população e às vezes por parte das autoridades, o que urge combater. O que defendemos é o uso racional e responsável do plástico”. O responsável deixou ainda dúvidas quanto à racionalidade económica dos bioplásticos que está longe de estar provada, com consequências óbvias para as empresas e para os consumidores.
Tiago Filipe, da Silvex, empresa que produz bioplásticos desde 2009 – com cerca de 50% da faturação proveniente da exportação, nomeadamente para Itália, Espanha e França – reconheceu que existem desafios no que toca às finalidades de utilização dos bioplásticos, mas também em termos legislativos: “Achamos que não faz sentido que um material que vá para compostagem, esteja a pagar algum tipo de ecotaxa”, afirmou o responsável da empresa.