E se conseguíssemos monitorizar a atividade das abelhas e de outros insetos polinizadores de forma contínua e 100% automática e partilhar a informação em rede para fomentar a biodiversidade na agricultura?
A Syngenta está a desenvolver um sensor baseado em Inteligência Artificial para monitorizar a biodiversidade nos campos agrícolas 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem necessidade de intervenção humana.
A ambição desta companhia multinacional da área das sementes e da proteção das plantas é criar a primeira rede mundial de monitorização da biodiversidade em campos agrícolas, a partir de sensores automáticos, fiáveis e de baixo custo e partilhar a informação de forma aberta com agricultores, investigadores e decisores públicos, em prol do bem público.
A nossa alimentação depende em grande medida dos insetos polinizadores, sem eles muitas plantas comestíveis, como o tomate ou as framboesas, não frutificariam, por esse motivo conservar a biodiversidade na agricultura é uma necessidade e uma responsabilidade coletiva. No entanto, sabemos pouco sobre a atividade dos insetos polinizadores e auxiliares e a influência das práticas agrícolas no seu comportamento.
“O Projeto Sensor de Biodiversidade surgiu porque há falta de informação sobre a biodiversidade nos campos agrícolas. Apesar de existirem inúmeros trabalhos de investigação e estudos publicados, não permitem obter uma visão espacial ou temporal sobre as espécies de insetos presentes, quando ocorrem, a sua atividade durante o dia ou o impacto de fatores como as alterações climáticas”, explica Kiran Joseph, Digital Product Manager no Departamento de Sustentabilidade da Syngenta.
Driscoll’s testa sensor de biodiversidade na cultura da framboesa
A Driscoll’s, uma das maiores empresas produtoras de frutos vermelhos do mundo, vai testar o sensor de biodiversidade da Syngenta nas suas quintas de produção de framboesas, na Califórnia, a partir do próximo mês de setembro. O objetivo é monitorizar a atividade das abelhas melíferas na polinização da cultura para ajudar a gerir as colmeias de forma mais eficiente. O sensor será testado no interior dos túneis de produção de framboesa e em seu redor.
“Ter um sensor no campo que observa as plantas o tempo todo, que deteta a presença, o tipo e a quantidade de polinizadores que estão no campo permite que a nossa equipa de investigadores realize ensaios de forma ainda mais rigorosa”, afirma Peter Navarra, Applied Sustainable Farming Lead na Driscoll’s. “Acredito que o Sensor de Biodiversidade pode realmente ser uma tecnologia transformadora para desenvolver uma melhor polinização para as nossas culturas e, no futuro, contribuir para aumentar a presença global da biodiversidade nas nossas quintas”.
O sensor de biodiversidade é um sistema digital low-cost que recorre à Inteligência Artificial e a algoritmos de machine-learning para detetar os movimentos, identificar e quantificar os insetos
Como funciona o sensor?
O sensor de biodiversidade é um sistema digital low-cost que recorre à Inteligência Artificial e a algoritmos de machine-learning para detetar os movimentos, identificar e quantificar os insetos. O equipamento funciona de forma 100% autónoma, a partir de energia solar, e à prova de água. Tem incorporada uma câmara grande angular de deteção de movimento a 180 graus e pode conter sensores para medir temperatura, humidade e intensidade da luz.
“No futuro, pretendemos incorporar outros elementos, tais como microfones, para ouvir pássaros e mamíferos fora do campo de visão do sensor, que é atualmente de 2 metros, mas poderá evoluir”, revela Kiran Joseph.
O sensor de biodiversidade está a ser testado em diversos casos de estudo em culturas agrícolas como a framboesa, a melancia e o girassol, a nível mundial.
“Em primeiro lugar, o sensor será usado em culturas que dependem da polinização por insetos para produzir frutos; depois em quintas aderentes ao nosso programa Operation Pollinator, para ajudá-las a medir o impacto das margens multifuncionais, e o nosso objetivo final é ter o sensor de biodiversidade a trabalhar em campo aberto, para monitorizar a atividade das abelhas selvagens e solitárias em contexto de alterações climáticas e perceber se a ação humana condiciona o comportamento destes polinizadores. À medida que a rede de sensores se alargar, mais e melhor informação poderemos partilhar publicamente”, explica o responsável do projeto.
A Syngenta trabalha com três parceiros chave no Projeto do Sensor de Biodiversidade: o Instituto Fraunhofer de Biologia Molecular e Ecologia Aplicada (Fraunhofer IME), que validará os métodos científicos utilizados para detetar e classificar os insetos, o Indian Institute of Technology Ropar (IIT Ropar), que desenvolveu o hardware para o sensor, e a Alliance for Biodiversity Knowledge para partilhar conhecimento e aprender.
“Acreditamos que esta tecnologia pode ser útil para as gerações vindouras para poderem ter melhor informação sobre a biodiversidade na agricultura, mas também em áreas de conservação da biodiversidade em perímetros urbanos. As oportunidades são ilimitadas, mas neste momento queremos validar a tecnologia nos casos de estudo, garantir que atinge a fase de maturidade, e obter aprovação dos nossos parceiros científicos”, remata Kiran Joseph, revelando que o sensor de biodiversidade chegará ao mercado em 2024.
O sensor de biodiversidade está a ser testado em diversos casos de estudo em culturas agrícolas como a framboesa, a melancia e o girassol, a nível mundial.
O compromisso da Syngenta com a Biodiversidade
A biodiversidade está a diminuir a um ritmo vertiginoso. Este declínio tem sérias implicações na agricultura, dada a sua dependência da biodiversidade para manter um equilíbrio saudável com a natureza e garantir a resiliência da produção alimentar. A Syngenta trabalha com os agricultores para combater a perda de habitats selvagens e estimular a biodiversidade na agricultura. Um dos programas mais emblemáticos da companhia é o Operation Pollinator, que consiste em instalar margens floridas multifuncionais nos terrenos agrícolas para fornecer alimento e refúgio às abelhas e outros insetos polinizadores e auxiliares. Em Portugal e Espanha, o Operation Pollinator já beneficiou mais 16.200 hectares, em pomares, vinhas e campos de cereais. Várias empresas agrícolas, tais como a Vitacress, a Veracruz, a Sogrape, o grupo Sogepoc, entre outras, aderiram a este programa.