O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), responsável por investigações como os Panama Papers e os Luanda Leaks, descobriu que grandes empresas de auditoria ambiental ignoraram ou falharam em reconhecer danos ambientais causados por clientes cujas práticas certificaram como sustentáveis.
Segundo explicado pelo consórcio, os auditores e empresas de certificação validaram produtos como sustentáveis que estavam ligados à desflorestação, exploração madeireira em zonas de conflitos e outros abusos. Entre os casos detetados está, por exemplo, uma empresa brasileira de produtos à base de madeira que foi certificada apesar de ter sido multada 37 vezes desde 1998 por armazenar e transportar madeira sem documentação legal.
A investigação teve como base registos de inspeções, dados de violação ambiental e processos judiciais, relativos a empresas em pelo menos 50 países. A análise identificou 48 empresas de auditoria que declararam sustentáveis as práticas de empresas do setor de produtos florestais acusadas de violações.
Desde 1998, mais de 340 empresas certificadas na indústria de produtos florestais foram acusadas de crimes ambientais ou outras irregularidades. Cerca de 50 dessas empresas possuíam certificados de sustentabilidade quando foram multadas ou condenadas por uma agência governamental.
“É todo o sistema em que confiamos, nas certificações em geral, que não funciona”, considera o consultor Grégoire Jacob. “Somos levados a acreditar que teremos produtos mais virtuosos. Às vezes é verdade; às vezes é falso.” Grégoire Jacob é um dos consultores consultados pelo ICIJ que afirmou que os padrões de certificação eram inadequados e os procedimentos ineficazes.
Por sua vez, o advogado na ClientEarth – instituição de solidariedade de direito ambiental -, Jonathan White nota que a auditoria ambiental é em grande parte não regulamentada, em contraponto com a regulamentação existente nas auditorias financeiras.
A reputação das organizações de certificação e dos auditores
A reputação das organizações de certificação voluntária da floresta como a e a PEFC, segundo os especialistas e os grupos ambientais ouvidos pelo ICIJ, é posta em causa pela falta de transparência nos processos de auditoria e certificação, escândalos que envolvem clientes certificados, alegações de conflito de interesse e falta de supervisão dos auditores afiliados.
Em resposta, o diretor geral da FSC, Kim Carstensen responde que “acreditamos que somos um bom rótulo em vários critérios. Temos um sistema de governação que envolve as partes interessadas. Temos regulamentos ambientais rigorosos. Temos regras sociais rígidas também”.
O FSC recorre à Assurance Services International (ASI) para credenciar auditores e monitorar suas atividades. Em resposta, um porta-voz da ASI revelou que os seus investigadores “bloquearam” 88 empresas detentoras de certificações FSC nos últimos cinco anos, retirando-lhes a certificação.
Por sua vez, o diretor de comunicações da PEFC, Thorsten Arndt, afirma que “a credibilidade do PEFC e de outros sistemas de certificação foi avaliada várias vezes”, acrescentando que as Nações Unidas reconheceram o grupo PEFC “como um indicador para o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e ao Acordo de Biodiversidade”.
Já as empresas de auditoria contactadas pelo ICIJ admitiram que pode haver casos em que um auditor ignora ou interpreta mal os problemas ou mesmo as intenções fraudulentas dos clientes. Mas, segundo eles, representam apenas uma pequena percentagem dos casos auditados.
“Para os críticos que afirmam que a certificação é simplesmente greenwashing, eu diria que eles estão tentando usar a exceção para provar a regra”, disse a cofundadora da empresa de auditoria SCS Global Services, Linda Brown.