Descarbonização

“Europa queima o equivalente a 15 milhões de pães por dia em automóveis”

A Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E), da qual a ONG ZERO faz parte, alertou, tendo em conta um novo estudo, que a Europa transforma diariamente dez mil toneladas de trigo – o equivalente a 15 milhões de pães [1] – em etanol para utilização em automóveis a gasolina.

A ZERO apelou, em comunicado, a uma suspensão na queima de culturas alimentares como o trigo em biocombustíveis e rotulou como “imoral” a pressão do lobby dos biocombustíveis para o aumento da produção de biocombustíveis numa época de aguda escassez alimentar global.

“Todos os anos queimamos nos nossos carros milhões de toneladas de trigo e outras culturas para alimentar os nossos automóveis. Isto é inaceitável face a uma crise alimentar global. Os governos têm de parar urgentemente a queima de culturas alimentares nos automóveis para reduzir a pressão sobre os fornecimentos críticos”, declarou Maik Marahrens da T&E.

De acordo com o estudo, a remoção do trigo dos biocombustíveis europeus compensaria em mais de 20% o fornecimento de trigo ucraniano em colapso para o mercado global. “Em países como o Egipto, que importa mais de 60% do seu trigo, principalmente da Rússia e da Ucrânia, estes abastecimentos adicionais ao mercado resultariam na poupança de vidas” nota ainda a organização.

A denúncia da ZERO

“Há apelos crescentes, particularmente entre o lobby europeu dos biocombustíveis (ePure e European Biodiesel Board), para que o petróleo russo seja substituído por biocombustíveis produzidos a partir de culturas como trigo, milho, cevada, girassol, colza e outros óleos vegetais”, denuncia a ZERO.

A ONG portuguesa explica que “mesmo que a Europa duplicasse a área de terras agrícolas que dedica aos biocombustíveis – equivalente a pelo menos 10% das terras agrícolas da UE (União Europeia) para culturas – isto substituiria apenas 7% das importações de petróleo da UE da Rússia. Para substituir todas as importações russas de petróleo por biocombustíveis produzidos internamente, seriam necessários utilizar pelo menos dois terços das terras agrícolas do bloco europeu para a produção de culturas para biocombustíveis”.

Em conjunto com as associações ambientalistas FAPAS (Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade), GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente) e Oikos – Cooperação e Desenvolvimento, a ZERO enviou uma carta ao Ministro do Ambiente e da Ação Climática a pedir a suspensão imediata da utilização de alimentos para consumo humano e animal na produção de biocombustíveis em Portugal.

[1] Com base num pão típico de 750 gramas.

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