Apesar da pandemia, as florestas tropicais primárias foram destruídas a um ritmo maior em 2020, quando comparado com o ano anterior. De acordo com o World Resources Institute, que analisa anualmente estes dados, o aumento foi de 12%. O instituto nota ainda que é o segundo ano consecutivo em que a perda de florestas piorou nas zonas tropicais.
12,2 milhões de hectares de cobertura florestal é o valor de cobertura arbórea perdido nas zonas tropicais. Desse total, 4,2 milhões de hectares, uma área do tamanho da Holanda, ocorreram em florestas primárias tropicais húmidas. A análise do instituto refere que as emissões de carbono resultantes dessa perda equivalem às emissões anuais de 570 milhões de automóveis, mais que o dobro do número de veículos que circulam nos Estados Unidos da América.
Em declarações ao The New York Times, o diretor global do programa florestas do instituto, Rod Taylor, afirmou que se está “a perder florestas primária a um ritmo inaceitável”. “Um aumento de 12 por cento de um ano para o outro é demasiado quando a tendência deveria estar a diminuir”, acrescentou.
O Brasil foi novamente o país que mais perdeu as suas florestas primárias, no ano passado. Em segundo lugar, distante do Brasil, ficou a República Democrática do Congo.
Camarões e a Colômbia foram alguns dos países que mais aumentaram essa perda de um ano para o outro. Em sentido inverso, a Indonésia (pelo quarto ano consecutivo) e a Malásia conseguiram diminuir as perdas florestais em relação ao ano anterior.
Tal como nos anos anteriores, o instituto afirma que a principal causa de perda florestal em zonas tropicais é agricultura, com a produção de comodidades como o óleo de palma e o cacau ou esforços de subsistência de pequenos agricultores.
Situação no Brasil
Maior parte da destruição de florestas no Brasil ocorreu na floresta amazónica. No entanto, o instituto destaca a situação do Pantanal, uma região pantanosa do sul do país, que sofreu uma seca histórica. Essa seca originou um incêndio que provocou 16 vezes mais perdas em 2020 que no ano anterior.
Uma das colaboradoras do instituto, Frances Seymour, disse ao NYT que o que aconteceu no Pantanal foi apenas um exemplo do crescente papel do aquecimento global na perda de florestas. “O sinal mais sinistro dos dados de 2020 é o número de casos em que as próprias florestas foram vítimas das alterações climáticas”, afirmou. “A natureza tem-nos sussurrado este risco há muito tempo, mas agora ela está a gritar”, acrescenta.
O diretor global do programa florestas do instituto, Rod Taylor, afirmou que, apesar de alguns relatórios apontarem para o aumento da desflorestação devido à pandemia, “nenhum sinal óbvio de mudança sistémica” nas perdas florestais, como resultado da pandemia, foi detetado pela análise.
Os dados do relatório foram fornecidos por cientistas do laboratório Global Land Analysis and Discovery da Universidade de Maryland, que elaboraram métodos para analisar imagens de satélite para determinar a cobertura da floresta. O World Resources Institute refere as suas descobertas como “perda de cobertura florestal” em vez de “desflorestação”, porque a análise inclui árvores perdidas de plantações e não distingue entre árvores perdidas para atividades humanas e as que se perdem por causas naturais.