Um novo estudo alemão afirma que a combinação da energia solar com os micróbios poderia produzir dez vezes mais proteína que colheitas como a da soja. Os investigadores afirmam que o sistema teria pouco impacto no ambiente, avança o The Guardian.
O conceito utiliza eletricidade proveniente de painéis solar e o dióxido de carbono do ar para criar combustível para os micróbios, que são cultivados em reatores biológicos e depois transformados em pó de proteína seco. A investigação revela que o método poderia ser utilizado em qualquer lugar, não só em países com grande exposição solar ou terrenos férteis.
A nova avaliação, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America,é a primeira comparação quantitativa do uso da terra e da eficiência energética entre a agricultura tradicional e os sistemas de produção microbiana movidos a energia solar.
O responsável do estudo realizado pelo Max Planck Institute of Molecular Plant Physiology em Potsdam (Alemanha), Dorian Leger, afirmou ao The Guardian: “Pensamos que os alimentos microbianos são muito promissores e serão um dos principais contribuintes para a resolução da potencial crise alimentar”.
Metodologia e resultados em específico
Os investigadores usaram dados sobre as tecnologias atuais para calcular a eficiência de cada passo do processo, incluindo a captura de carbono do ar e a transformação dos micróbios em alimentos que as pessoas podiam comer. Descobriram que o sistema microbiano utilizava apenas 1% da água necessária pelas culturas e uma pequena fração do fertilizante, a maioria dos quais é desperdiçado quando usado em campos.
A análise estimou que o processo solar-microbiano poderia produzir 15 toneladas de proteína por hectare ao ano, o suficiente para alimentar 520 pessoas, o que os cientistas disseram ser uma estimativa conservadora. Em comparação, um hectare de soja poderia produzir 1,1 toneladas de proteína, alimentando 40 pessoas. Mesmo em países com níveis relativamente baixos de luz solar como o Reino Unido, a produção de proteínas microbianas foi pelo menos cinco vezes maior de cada hectare do que as plantas.
A proteína microbiana custaria cerca do mesmo que as proteínas atuais consumidas por pessoas, como soro de leite ou ervilha, sugeriram os investigadores. No entanto, comparada com a atual alimentação animal, é várias vezes mais cara. O cenário poderá ser alterado com futuras melhorias tecnológicas.
Um dos próximos passos vai ser o teste do sistema em conjunto e em escala, em particular a captura de CO2 do ar. Os investigadores pretendem também garantir que os painéis solares usados podem ser reciclados. “Para a alimentação humana, há também muita regulação que precisa de ser ultrapassada”, disse Dorian Leger.
A conversão do consumidor a implementar a proteína microbiana na alimentação e o facto de esses alimentos poderem não ser nutricionalmente completos foram alguns dos problemas detetados por outros investigadores.