Quando pensamos em sustentabilidade o lado ambiental acaba por pesar mais. No final do dia, por mais que o espírito ESG esteja imbuído nas organizações, são as contas da pegada carbónica que mais ordenam quando se definem estratégias e pontos de ação. E é aí que as empresas estão a concentrar os seus esforços de investimento, naquilo que pode ser verdadeiramente transformador, com solidez e impacto, e com resultados medidos.
Mas, como também sabemos, isso não é tudo. E há uma declaração do chef português Alexandre Silva, que entrevistámos esta edição, que fica a ressoar: “A mim não me interessa ter um fine dining que se preocupa com tudo [a nível de sustentabilidade] mas depois 90% da equipa não é paga e estão quase como escravos a trabalhar 18 horas por dia, para receber um papel a dizer que estiveram lá”. Esta reflexão é um murro no estômago. Até porque está longe de ser um ‘exclusivo’ do setor da restauração. E sim, apregoar sustentabilidade sem ter em consideração as pessoas é um exercício esvaziado no seu sentido. Queremos regenerar o planeta para podermos ter condições de poder viver nele por mais uns séculos, certo? E então as pessoas? Queremos que sejam ‘escravos modernos’? Queremos ser super sustentáveis nos processos, mas descuramos o capital humano? Não faz sentido, e sim, não é sustentável.
A ‘responsabilidade social’ não pode cair apenas em ações de solidariedade. De pouco serve apregoar que apoiamos projetos sociais quando dentro de casa não valorizamos, ou maltratamos, o nosso maior ativo. A sustentabilidade tem de ser um compromisso sério em todas as suas vertentes e não apenas parágrafos virtuosos num relatório de contas. As pessoas deviam ser a prioridade, dentro e fora das organizações, até porque é para elas que estamos a fazer este caminho. Ou não?