A agenda europeia de acordos sobre políticas e estratégias ecológicas e de sustentabilidade já não constitui novidade. Mas a recente Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade (mais conhecida pelo acrónimo inglês CSRD) vai começar a impactar a forma como vivemos e comunicamos o tema já a partir de 2024. Resumidamente, será obrigatório reportar a forma como a atividade empresarial impacta as pessoas e meio ambiente. Numa primeira fase falamos apenas de grandes empresas, mas o processo será gradual e vai chegar a todos. Na data de fecho desta edição estavam a ser divulgados os standards de reporte (ESRS – European Sustainability Reporting Standards), o mesmo é dizer, os vários domínios em que estes relatórios terão de incidir.
Em suma, a partir de agora não basta dizer, é preciso mostrar com evidências que se está a cumprir um plano de sustentabilidade sem o qual as empresas terão dificuldades em aceder, por exemplo, a financiamento. Os standards são vários e muito transversais. Mas o tema dos colaboradores, quer internos quer na cadeia de valor, será um dos padrões a reportar e, provavelmente, um dos mais desafiantes, dado o nível de controlo exigido a quem trabalha com fornecedores de vários pontos do globo. Mas será, acredito, o ponto que pode gerar uma verdadeira transformação na forma como ‘escolhemos’ fornecedores: Que produto é este? De onde vem? De que materiais é feito? Qual o impacto no ecossistema? Esta informação já não chega. Quem produz estes materiais ou produtos? Em que condições? Com que salários? Estas podem ser as próximas perguntas. Porque temos uma economia assente em competitividade, que vive de longas cadeias onde o fator distância justifica(va) muito desconhecimento ou um desinteresse mais ou menos assumido.
A sustentabilidade tem de ser, também, um motor de desenvolvimento. De negócios mais sustentáveis e de criação de valor para as comunidades. E não basta dizer que podemos viver com menos se for mais durável (e mais caro). É preciso acomodar o desafio de democratizar o acesso a produtos e serviços mais ecológicos. Isso faz-se com inovação, com investimento em I&D, com estímulos para a mudança. Mas estamos preparados para isso?