Os Estados Unidos da América (EUA) anunciaram recentemente o seu plano para acelerar a transição para os veículos elétricos. A aposta é vista como a resposta à decisão europeia de banir os veículos a combustão em 2035. O caminho foi cheio de obstáculos na Europa e na América o caminho não parece nada fácil. Para perceber o que pode ou não resultar, conheça as abordagens da Noruega e de Singapura: dois casos paradigmáticos nesta área.
A abordagem ao nível das regras de poluição
A administração de Joe Biden apresentou novas regras ao nível da poluição automóvel, que deverão levar a um aumento da adoção de veículos elétricos e que os mesmos sejam responsáveis por dois terços das vendas de novos veículos até 2032.
A proposta requer que o escape dos veículos só possa emitir apenas 82 gramas de CO2 por cada milha, em média. A medida será obrigatória a partir do modelo do ano 2032. Atualmente, apenas a Tesla conseguiria cumprir essa regra.
A proposta da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América (EPA)prevê que as emissões para novos veículos caiam em média 40% entre 2027 e 2032. A agência está ainda a propor normas mais rigorosas para veículos médios e pesados, incluindo autocarros, reboques entre outros.
O governo norte-americano já anunciou créditos fiscais que ajudariam a economizar até 7500 dólares na compra de um veículo elétrico.
A medida já está a ser criticada pelos republicanos, uma vez que nem toda a população possui capacidade financeira para comprar um veículo elétrico. Os estados republicanos, liderados pelo Texas, já processaram a EPA por considerar que o órgão ultrapassou a sua autoridade ao elaborar as novas regras.
Aliado a isso, poderá ser difícil de convencer os norte-americanos. Um estudo da Gallup aponta que quatro em cada dez adultos não compraria um veículo movido a bateria elétrica.
O caso de sucesso da Noruega – Poderá a situação manter-se assim?
Graças aos subsídios estatais, a percentagem de carros elétricos na Noruega tornou-se a mais alta do mundo. Em 2020, a percentagem de novos carros elétricos excedeu a compra de veículos a combustão. No ano passado, registou-se um recorde – 79,3% dos carros vendidos eram elétricos. No entanto, começam a surgir dúvidas se a situação se manterá assim.
Apesar do sucesso dos incentivos ficais, estes custam 39,4 mil milhões de coroas norueguesas (cerca de 3,4 mil milhões de euros) ao estado norueguês. Dessa maneira, o governo está a procurar limitar os benefícios dados aos veículos topo de gama.
Está a ser estudada uma taxa baseada no peso dos veículos. No entanto, a Norwegian Automobile Federation (NAF) alerta que poderá ter um impacto negativo nos veículos elétricos, por estes serem mais pesados que os equivalentes a combustível fóssil.
O caso de Singapura – Nem sempre os subsídios são a resposta
De um caso de sucesso, mostramos um exemplo de dificuldades, apesar de tomar medidas semelhantes.
Singapura está entre os poucos países que tem como objetivo abandonar as vendas de carros a combustão até 2030. Neste grupo estão países como a Islândia, a Suécia e os Países Baixos. Nesses países as vendas estão a aumentar. Mas em Singapura, estes veículos compuseram apenas 12% das vendas em 2022.
Há dois anos que o governo deste país asiático está a oferecer incentivos no valor de 45 mil dólares singapurianos (equivalente a cerca de 31 mil euros) e a apostar na expansão da rede de carregamento. Apesar disso, as vendas não têm acompanhado.
Em 2021, as vendas de carros elétricos eram de quase 4%. Em 2022, o valor subiu, mas os veículos, no seu total, só representam 1% de todos os carros na estrada. Quando se compara com carros desportivos a combustão, nota-se que, por exemplo, estes compõem 1,65% de todos os veículos na estrada. Aliado a isso, a compra de carros de luxo em disparados. Na última década, o número de Ferraris aumentou 67% e os Lamborghinis em 38%.
Um dos fatores é que é necessário pagar pelo menos 88 mil dólares singapurianos para ter o direito de deter um pequeno carro durante uma década, excluindo o custo do veículo. Aliado a isso, até 2030, 13% da população poderá tornar-se milionária, a maior percentagem mundial.