Descarbonização

Há mais profissionais recém-formados em combustíveis fósseis do que em energias renováveis

Há mais profissionais recém-formados em combustíveis fósseis do que em energias renováveis iStock

As universidades a nível mundial continuam a formar mais estudantes em áreas relacionadas com os combustíveis fósseis do que no setor das energias renováveis, é a principal conclusão do estudo “O fracasso da descarbonização do sistema global de ensino no domínio da energia”, que analisou dados de 18 400 universidades em 196 países.

O objetivo da análise passou por perceber a prevalência nas universidades relativamente a programas educacionais virados para o setor dos combustíveis fósseis e para as energias renováveis.

De acordo com o estudo, em 2019, 68% dos cursos no âmbito da energia a nível mundial estavam centrados na área dos combustíveis fósseis, enquanto 32% nas energias renováveis. Em termos numerais, 546 universidades revelaram ter cursos e/ou faculdades dedicadas aos combustíveis fósseis, já 247 universidades tinham cursos e/ou faculdades agregadas às energias renováveis.

O número de cursos em energias renováveis cresceu significativamente, passando de um total de 95, em 2009, para 653, em 2019. No entanto, de acordo com os analistas, este número ainda é muito menor do que os 1372 diplomas em combustíveis fósseis oferecidos aos estudantes um pouco por todo o mundo.

“Isto significa que as universidades não estão a conseguir dar resposta à crescente procura por uma força de trabalho em energia limpa. No ritmo atual de mudança, os diplomas universitários focados em energia seriam 100% dedicados às energias renováveis apenas no ano 2107. Como uma carreira pode durar até 30 a 40 anos, isto cria um risco de bloqueio de carbono de longo prazo e um conjunto de habilidades suspensos por meio de (des) educação”, refere o estudo.

A Ásia-Pacífico, a América do Norte e a Europa são as regiões que mais avançaram na transição educacional em relação à energia renovável, explica o estudo, salientando haver “uma lacuna notável” entre estas regiões e, por exemplo, África, o Médio Oriente e a América Central e do Sul, onde ainda são oferecidos muito poucos programas educacionais em energia limpa comparativamente aos programas focados em combustíveis fósseis.

O estudo, da autoria dos investigadores Roman Vakulchuk e Indra Overland, revelou também que a educação em combustíveis fósseis “é muito mais desenvolvida” do que a educação em energias renováveis. A análise avança ainda que, muitas universidades, oferecem uma ampla variedade de campos especializados relacionados com o setor dos combustíveis fósseis, em contrapartida, a maioria das universidades que oferecem educação em energias renováveis têm uma menor especialização.

A análise comparou universidades públicas e privadas, tendo concluído que a quota global de programas de licenciatura em energias renováveis nas universidades públicas aumentou de 16%, em 1999 e para 34%, em 2019, tendo sido inferior à das universidades privadas, que registaram um aumento de 21%, em 1999 e para 39%, em 2019.

Neste sentido, as universidades privadas têm sido “ligeiramente mais ativas” do que as universidades públicas nesta transição para o ensino das energias renováveis.

“Mudar da educação sobre combustíveis fósseis para energias renováveis não é simples. A educação para as energias renováveis é altamente multidisciplinar e, por conseguinte, requer uma abordagem diferente da educação para os combustíveis fósseis”, avançou o estudo, explicando que a educação no âmbito das energias renováveis “deve incluir um estudo dos processos de conversão, tecnologias, recursos, conceção de sistemas, economia, dimensões ambientais, estrutura da indústria e políticas, tudo num pacote integrado”.

“De 2010 a 2024, houve uma crescente escassez global de mão de obra qualificada para a área da energia renovável e uma escassez mais severa é prevista no futuro. Se não for abordado, o problema estrutural no sistema global de educação energética pode ter um impacto prejudicial na transição energética”, conclui a análise.

 

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