Quando surgiu a necessidade de internacionalizar a atividade da CTT Expresso?
Comprámos a Tourline Express em Espanha em 2005 num processo que nasceu da vontade de internacionalizar e de alargar mercados. Até ao ano de 2009, a gestão esteve entregue a espanhóis, alguns deles acionistas e a partir de 2010 assumimos integralmente aquela companhia. A nossa estratégia num determinado período, nomeadamente numa primeira fase, foi a de conhecer o mercado e não criar muito ruído para percebermos com humildade o que era o mercado espanhol porque era um território quatro a cinco vezes superior ao nosso em quase todas as dimensões: económicas, sociais, de tráfego, entre outras.
Os mercados são completamente distintos e os hábitos dos clientes em cada país diferenciam-se entre si. Aquele grande ícone da globalização “Think global, Act local” aplica-se muito a estes dois mercados. Quando olhamos para a Península Ibérica verificamos que em Espanha existem várias realidades com muitas diferenças culturais e hábitos de consumo muito distintos.
Os primeiros anos foram de aprendizagem?
Sim, durante quatro anos estivemos essencialmente a aprender. No nosso quinto ano, assumimos a gestão da companhia e foi por volta dessa altura que fizemos uma reportagem com a vossa revista em que a palavra chave era a expansão para Espanha. Passados quase cerca de três anos, muita coisa aconteceu. Fomos trabalhando para unificar estas duas empresas mantendo as marcas por dois lados porque são mercados diferentes com abordagens completamente distintas até porque o modelo de negócios em Espanha assentava basicamente em franchising. O nosso caminho em Espanha tem sido o de ganhar autonomia naquilo que é o negócio do expresso, ou seja, estarmos com posição própria, centros próprios, plataformas e emissão de envios nossos. O fluxo transfronteiriço tem de ser dominado por nós sendo Espanha o primeiro mercado para Portugal e Portugal terceiro mercado para Espanha à frente de toda a América Latina. Fomos trabalhando muito neste sentido e em Portugal, a CTT Expresso continua a fazer o seu trabalho histórico mantendo a liderança no mercado.
Há dez grandes marcas em Espanha que têm cobertura nacional e cada uma dessas marcas tem 200, 300 franchisados. O mercado tem 4000 licenças atribuídas de distribuição, cada um na sua zona. Em 2005, comprámos a empresa que era resultado da fusão de quatro empresas nacionais (uma catalã, uma madrilena, uma lusa e uma basca) e no business case tínhamos previsto apostar cada vez mais no negócio próprio com os nossos CTT. Há cerca de três anos tínhamos 6% do negócio e hoje estamos nos 31,69%.
São números muito entusiasmantes para a atividade…
A ideia é duplicar rapidamente esta percentagem. Há zonas de Espanha muito isoladas onde iremos sempre manter os franchisados. Vamos crescer mantendo toda a nossa equipa e a nossa rede.
A ANACOM apresentou resultados muito recentemente que indicam que a CTT Expresso é líder em Portugal com 32,7% (1/3 de mercado está na nossa mão), seguida da Choronopost com 24,6%. A Nacex está em Espanha com uma presença muito forte, a Seur é colíder com a MRW. Estes são os nossos principais concorrentes na Península Ibérica. 19% do negócio da empresa são representados pelas microempresas e pelos franchisados em Espanha.
Neste momento e após fecho do ano de 2012, podemos afirmar que somos o terceiro player na Península Ibérica porque a nossa diferença em Espanha para a Nacex que era de 1,8% é muito compensada em Espanha com o desempenho que tivemos em Portugal.
Somando tudo o que é o mercado, temos uma quota global que ronda atualmente os 7,4%. Queremos também ser líderes na Península Ibérica.
Em é que é que falta apostar?
Nos primeiros quatro anos estivemos a aprender e analisar o mercado espanhol, nos outros quatro anos começámos a introduzir as nossas práticas de gestão e o nosso plano atual para os próximos cinco anos é o de liderar na Península Ibérica no transporte urgente de mercadorias. Pretendemos continuar a trabalhar muito como até aqui. Neste momento, falta consolidar este projeto de crescermos, termos uma presença própria em todas as províncias espanholas e termos mais 16 centros próprios onde ainda não estamos com uma estrutura nossa pois ainda dependemos de terceiros (neste momento estamos com 34 centros próprios). Não esquecemos que esta rede cresceu em Espanha através do modelo de franchising, respeitamos muito o passado e todos os nossos partners continuarão a sê-lo no futuro porque estão imbuídos deste espírito de fazer deste grupo o mais importante na área do Expresso da Península Ibérica.
O nosso trabalho será o de conquistar a concorrência. Desde dezembro do ano passado, o Conselho de Administração o mesmo e a estrutura orgânica das duas empresas é exatamente igual. Há dois anos, o tráfego de Portugal para Espanha representava apenas 5% quando a nossa quota em Portugal era de 30%. Felizmente soubemos perceber essa nossa falha a tempo de corrigi-la. Somos a única empresa que tem a operação montada dos dois lados com a dimensão que se vê. Neste momento, decidimos ter um único Conselho de Administração embora estejamos a falar de sociedades distintas com direitos distintos porque estão em diferentes países. A integração ibérica está a dar-se ao nível das operações e do suporte a uma velocidade incrível mas a nossa abordagem comercial e de marketing será sempre específica porque são mercados e consumidores distintos.
Os próximos cinco anos preveem-se muito desafiantes…
Num horizonte de cinco anos queremos ser uma referência neste cantinho da Europa para todos os integradores mundiais, todos os grandes expositores mundiais de venda online e sermos os parceiros privilegiados para todo o massmail em Portugal e Espanha, o que nos obriga a ter este chapéu de 500 anos CTT sempre presente. A nossa marca será sempre CTT Expresso ou Expresso dos CTT sempre que estejamos fora da Península Ibérica. Vamos operar a área do Express Parcels sempre com estas duas empresas (CTT Expresso em Portugal e Tourline Express em Espanha) mas queremos ir pelo mundo vender o grupo como um parceiro privilegiado para todas as grandes empresas que nos confiem a entrega domiciliária na Península Ibérica. Isso consegue-se quando as grandes companhias percebem que temos hoje essa dimensão. Não existe outra empresa na Península Ibérica com esta dimensão humana e este investimento. Fora da Península Ibérica queremos ser líderes absolutos no outbound na Península Ibérica através da tradição de relações do grupo CTT e nomeadamente os CTT, SA têm pelo mundo. Os CTT são uma grande referência e estão sempre nos primeiros lugares de níveis de qualidade de serviço em termos de postais e cartas. Em termos de encomendas, se existisse um barómetro que medisse exatamente o nível de qualidade no Parcels, seríamos certamente os primeiros ou segundos pois temos 99,9% de qualidade de serviço. Falhamos 0,01% das entregas em Portugal na CTT Expresso. Em Espanha, estamos com 99,8%. São valores extraordinariamente altos que requerem investimentos incríveis a todos os níveis (formação, meios tecnológicos e meios operacionais).
Ambicionamos dominar no Sul da Europa este negócio da logística integral, queremos ser um parceiro privilegiado no e-commerce e queremos continuar a expandir a nossa atividade, quer na fileira de serviços, quer nas geografias.
Leia a entrevista na íntegra na edição nº103 da LOGÍSTICA & TRANSPORTES HOJE