Vários cientistas apelaram a uma resposta global coordenada para travar a poluição marinha, alertando que a ausência de ação internacional concertada está a acelerar a degradação dos ecossistemas oceânicos e a perda de biodiversidade.
O alerta resulta de uma nova análise global liderada por Patricia Pinto, investigadora do CCMAR – Centro de Ciências do Mar do Algarve, que sublinhou o impacto crescente de centenas de contaminantes que entram diariamente no oceano.
As principais conclusões revelaram “lacunas críticas na proteção dos organismos marinhos”, nomeadamente:
- Os organismos marinhos estão sub-representados em estudos sobre perturbações endócrinas e ecotoxicologia, particularmente os invertebrados, deixando grandes lacunas na compreensão de como os poluentes afetam a vida oceânica, desde a microescala até à microescala;
- A análise de mais de 500 espécies marinhas mostra uma elevada conservação de alvos proteícos relacionados com o sistema endócrino, indicando uma suscetibilidade generalizada aos EDC em diversos grupos taxonómicos;
- As diretrizes internacionais de teste e os programas de monitorização existentes não são adequados para cobrir a diversidade da vida marinha, dependendo fortemente de modelos terrestres e de água doce e, muitas vezes, extrapolando a biologia dos vertebrados para os invertebrados, de uma forma que pode induzir em erro.
Os autores defenderam que a proteção da biodiversidade marinha face à poluição química exige uma resposta global coordenada, assente no avanço do conhecimento científico e no diálogo entre cientistas, reguladores, decisores políticos, indústria e sociedade.
Além disso, a rede elaborou um conjunto de recomendações dirigidas aos diferentes intervenientes, com o objetivo de orientar estratégias que reforcem a proteção da vida marinha face a ameaças micro e invisíveis à saúde dos oceanos.
Entre as medidas propostas estão o desenvolvimento de quadros de ensaio adequados ao meio marinho, o reforço da monitorização ambiental e a integração de ferramentas genómicas e bioinformáticas na avaliação dos riscos químicos.
Assim, a mensagem deixada pelos especialistas é clara: a poluição marinha não conhece fronteiras e só uma ação coordenada à escala global permitirá proteger a vida nos oceanos, assegurando um ambiente marinho saudável e resiliente para as gerações futuras.
Publicado na revista Biological Reviews, o documento assume a forma de um paper de posicionamento, intitulado “Prioritising research on endocrine disruption in the marine environment: A global perspective”, que reúne a contribuição de mais de 80 especialistas internacionais e apela a uma ação urgente para compreender, monitorizar e mitigar os efeitos dos micropoluentes químicos desreguladores endócrinos (EDC) no oceano.
O trabalho resultou da rede Model-EDC, financiada pela EuroMarine e coordenada pelo CCMAR, que reúne especialistas em ecotoxicologia, desregulação endócrina e endocrinologia comparativa. A iniciativa está alinhada com a Década dos Oceanos das Nações Unidas, reforçando o papel do CCMAR na promoção de investigação que contribui diretamente para as metas globais de saúde dos oceanos.

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