Embora não existam estudos que deem a conhecer com exatidão a penetração do outsourcing logístico no mercado português, a perceção de quem está no mercado é que é muito inferior à média europeia e do mercado espanhol.
Continuam a ser as grandes empresas e as multinacionais quem mais opta pelo outsourcing da globalidade das atividades logísticas, desde o aprovisionamento, até à logística in-house, com a colocação das matérias-primas à boca da produção, passando depois para o fim do ciclo produtivo na receção do produto acabado, preparação e expedição. Mais comum é recorrer apenas ao outsourcing externo, entendido como a receção dos produtos, gestão de stocks, expedição e transporte.
Os operadores logísticos defendem que o outsourcing “é muitas vezes a chave para produzir com mais eficiência no custo ou vender com maior disponibilidade e sobretudo, em momentos económicos difíceis como o atual, beneficiar de uma estratégia de custos variáveis versus custos fixos”, como adianta Eduardo Rangel, Presidente do Conselho de Administração da Rangel. A própria APOL – Associação Portuguesa de Operadores Logísticos foi criada tendo como objetivo principal a promoção do outsourcing logístico junto do universo empresarial português.
Efeitos da crise
Apesar do reconhecido potencial do outsourcing logístico em Portugal, as consequências da crise económica para o setor não são ainda claras. Por um lado, espera-se um aumento gradual da procura ao nível do outsourcing em serviços logísticos, justificado pela necessidade das empresas de se concentrarem no seu core business e transformarem custos fixos em variáveis. “Existirá uma forte pressão para externalizar a operação logística transformando custos fixos em variáveis e assim beneficiar de eficiências que uma plataforma multicliente é capaz de oferecer”, acredita Luís Ferreira, Business Development, Transport & Key Account Manager da Univeg Portugal. Dando conta de uma realidade que não é apenas comum ao setor onde atua, a logística de frio, a Univeg explica que ainda se verifica “uma resistência elevada em transferir a gestão da operação para as mãos de terceiros, mesmo especializados nos requisitos da logística e transporte de frio, por parte de indústrias, incluindo os principais retalhistas que integram o setor da moderna distribuição e, em alguns casos, adotando movimentos de insourcing”.
 Por outro lado, muitas empresas que investiram somas avultadas em recursos logísticos não encontram na atual fase o melhor momento para empreender mudanças, preferindo dar continuidade a uma tradição de logística in-house. Nesse sentido, será de esperar para o curto prazo uma “manutenção da tendência decrescente dos últimos meses/ano”, nas palavras de Jorge Martins, National Logistics Manager da Agility Portugal.
Menos volume, mais custos
Para os operadores logísticos, o clima económico desfavorável tem implicado uma diminuição generalizada dos volumes transacionados no mercado nacional, o que incrementa o peso dos custos fixos na estrutura total de custos. Face a esta realidade, a estratégia dos operadores logísticos tem sido a diversificação da carteira de clientes, com a entrada de novos clientes que compensem a diminuição da atividade gerada pelos clientes habituais.
A par da perda de volume, os operadores logísticos confrontam-se com o aumento significativo do preço dos combustíveis e eletricidade, “um problema de difícil resolução a médio prazo”, de acordo com o responsável da Univeg Portugal, que sugere como solução uma “reorganização da cadeia de abastecimento no sentido de criar o máximo possível de eficiências, como por exemplo através do incremento do peso médio por entrega, redução da frequência de entrega e, ainda, medidas de eficiência energética”.
Outras tendências são “a procura pelo mercado de sistemas partilhados e de massificação, que permitam alcançar maior eficiência de custos”, como refere Sérgio Soares, Diretor Geral da STEF Portugal, a par da “simplificação da cadeia, através da eliminação de intermediários”. Será ainda de esperar uma contínua “especialização e progressiva evolução dos transportadores para operadores logísticos”, assim como uma continuação da política de “fusões e aquisições”, segundo José Domingos, Diretor de Desenvolvimento da Entreposto Logística.
Oportunidades de crescimento
Existem nichos de mercado que continuam com tendência de crescimento, como os produtos farmacêuticos, cosméticos ou os produtos sujeitos a frio e temperatura controlada, como aponta o responsável da Rangel. O diretor da STEF Portugal vê potencial de subcontratação de serviços logísticos por parte de algumas fileiras alimentares historicamente associadas a operações logísticas com meios próprios. “Têm dado passos firmes na externalização, ainda que mais visível a nível do transporte, com continuidade posterior nas operações de armazém, nomeadamente na gestão de stocks com preparação de encomendas”, afirma. Assinala também “o forte crescimento do transporte internacional, em particular na exportação em grupagem de produtos alimentares portugueses”.
A internacionalização das empresas de logística continua a ser uma aposta promissora. Jorge Carvalho, Diretor de Marketing e Vendas da Schenker Portugal, aponta Moçambique e a América Latina como “algumas das melhores apostas”.
Mesmo sem se internacionalizarem, os operadores logísticos podem beneficiar da necessidade das empresas portuguesas de explorarem novos mercados, a qual “tem vindo a aumentar, de forma gradual e consolidada, a procura de soluções relacionadas com a exportação, tais como o “desenvolvimento de linhas de grupagem, soluções de customização, como repacking e etiquetagem, e postponement”, como refere o responsável da Univeg Portugal.
Novos modos de transporte
José Cardoso, Administrador-delegado da Dachser Portugal, lança mais uma pista sobre as potenciais linhas de crescimento dos operadores logísticos. Desta vez no que respeita a modos de transporte. É sua opinião que a ferrovia, o transporte marítimo de curta distância e até a conjugação intermodal destas duas soluções se assumem como “as apostas com maior potencial de crescimento do setor, a curto e médio prazo”. Aconselha as empresas a redirecionarem o investimento para estas soluções de transporte, não apenas pelas “múltiplas vantagens ambientais e económicas”, mas também como forma de ajudar a contornar a escalada do preço dos combustíveis e a reduzir o impacto decorrente do decréscimo das importações. “Trata-se de modalidades de transporte one way, permitindo, por isso, superar a discrepância entre o volume de importações, que tem vindo a diminuir, e das exportações, que está a aumentar”.
Pedro Silva, Diretor Geral da Citymover, aposta no crescimento de serviços logísticos ligados ao Terminal XXI, em Sines. “Face ao aumento de carga marítima haverá necessidade de serviços de apoio para fazer face às novas rotas com escala em Sines”, defende.
Serviços com potencial
No que respeita a serviços a prestar, os operadores logísticos que participam neste dossier são unânimes em defender o potencial dos serviços de valor acrescentado. Pequenas manipulações, embalamentos, rotulagem, cobranças, kitting, copacking, verificação de qualidade, assemblagem e reparação, planeamento e gestão de stocks ou aprovisionamentos, customização, assemblagem ou procurement / sourcing são exemplos de serviços apresentados onde o operador logístico pode desempenhar um papel mais relevante. A Rangel lembra ainda que “em tempos de abrandamento da economia, os serviços logísticos de stock control deveriam tendencialmente crescer, fruto de maior outsourcing das empresas”.
Já o responsável da Agility Portugal sugere o crescimento dos serviços de distribuição e de logística inversa.
Leia esta análise na íntegra na edição de setembro/outubro da LOGÍSTICA & TRANSPORTES HOJE

 
                    									 
							 
							 
							 
							 
							 
							