O aquecimento global causado pela ação humana foi responsável por duas em cada três mortes relacionadas com o calor extremo na Europa durante o verão deste ano, segundo uma análise preliminar de mortalidade em 854 grandes cidades.
Os cientistas estimam que 16.500 das 24.400 mortes ocorridas entre junho e agosto se devem às temperaturas mais elevadas provocadas pelas emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
O estudo, ainda não revisto por pares, concluiu que as alterações climáticas aumentaram em média 2,2 °C a temperatura nas cidades, intensificando de forma significativa a mortalidade associada ao calor extremo.
“A cadeia causal entre o uso de combustíveis fósseis, o aumento do calor e a mortalidade acrescida é inegável,” afirmou Friederike Otto, cientista climática do Imperial College London e coautora do relatório. E continua: “se não tivéssemos continuado a queimar combustíveis fósseis nas últimas décadas, a maioria das 24.400 pessoas na Europa não teria morrido este verão”.
A análise usou a relação entre temperatura e mortalidade local para estimar o excesso de mortes nos meses mais quentes, comparando os resultados com um cenário hipotético sem alterações climáticas.
Os investigadores concluíram que cerca de 68% das mortes foram causadas pelo calor adicional. Os mais afetados foram os idosos: 85% tinham mais de 65 anos e 41% mais de 85 anos.
“A grande maioria das mortes por calor acontece em casas e hospitais, onde pessoas com problemas de saúde pré-existentes são levadas ao limite,” explicou Garyfallos Konstantinoudis, epidemiologista no Imperial College London e coautor do estudo. O cientista sublinhou ainda que “o calor é raramente mencionado nas certidões de óbito”.
O investigador referiu ainda que “ninguém esperaria que alguém arriscasse a vida a trabalhar sob chuva torrencial ou ventos de furacão, mas o calor severo ainda é tratado com demasiada leveza”.
São já vários os médicos e especialistas a defenderem planos de ação locais para ondas de calor, nomeadamente mais espaços verdes nas cidades e acesso a ar condicionado para grupos vulneráveis, como os residentes em lares.
“Se não agirmos agora, o número de vítimas vai aumentar. É urgente eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e implementar políticas que protejam os mais vulneráveis das ondas de calor cada vez mais mortais”, concluiu Madeleine Thomson, especialista em adaptação climática da Wellcome, em declarações ao The Guardian sobre os resultados do estudo.

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