Transição Energética

Estudo revelou que políticos subestimam apoio público à ação climática

Estudo revelou que políticos subestimam apoio público à ação climática iStock

Os políticos e decisores “subestimam significativamente” a disposição dos cidadãos para contribuir para o combate às alterações climáticas, o que limita a ambição e o alcance das políticas ‘verdes’, conclui uma nova investigação apresentada na Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA).

Os delegados presentes foram convidados a estimar que percentagem da população mundial estaria disposta a doar 1% do rendimento para ajudar a travar as alterações climáticas. A média das respostas ficou nos 37%, mas o estudo revelou que o valor real é de 69%.

A mesma investigação apurou ainda que 89% dos inquiridos acreditam que os seus governos “deveriam fazer mais para combater o aquecimento global”. Para os autores do estudo, esta discrepância traduz um caso preocupante de “ignorância pluralista”, em que as pessoas tendem a subestimar a vontade dos outros em agir sobre determinado problema, o que conduz à manutenção do status quo.

O chamado “fosso de perceção” surpreendeu os investigadores, já que o inquérito envolveu 191 delegados de 53 países, incluindo 24 negociadores ativos de políticas climáticas, todos com elevado nível de envolvimento e conhecimento nesta área. Ainda assim, 83% dos delegados reconheceram que os cidadãos têm capacidade para agir de forma significativa no combate climático.

“O estudo descobriu a existência de uma desconexão entre a perceção dos decisores políticos e as opiniões daqueles em nome de quem atuam”, afirmou a investigadora Ximeng Fang, da Saïd Business School da Universidade de Oxford e autora principal da investigação.

Já a coautora Stefania Innocenti, da Smith School of Enterprise and the Environment de Oxford, referiu que “os decisores políticos vão tentar jogar pelo seguro se sentirem que não têm mandato público… e vão tentar diluir propostas arrojadas. A dimensão deste resultado é um apelo à ação… se não fecharmos esta lacuna, ficaremos apenas com ambições frustradas”.

Segundo Ximeng Fang, outra implicação do estudo é a necessidade de mudar o foco, referindo que “os decisores políticos devem dar prioridade a falar sobre soluções climáticas e como as concretizar, em vez de desperdiçar tempo e energia a debater a sua necessidade”.

“A neutralidade carbónica não é apenas viável, é também economicamente sensato”, acrescentou a investigadora, sublinhando que a chave está em convencer o público ao dar a conhecer os potenciais benefícios. Construir narrativas climáticas assentes em otimismo e esperança poderá, segundo os autores, ajudar a fechar o “fosso de perceção” e contrariar “o impacto dos meios de comunicação, que oferece visões ideológicas particulares”.

Na visão de Joshua Ettinger, outro dos coautores da investigação, do Center for Climate Change Communication da George Mason University, “esta investigação poderá encorajar os responsáveis políticos a serem mais audazes e a perseguirem políticas climáticas mais ambiciosas, pois têm mais apoio público do que imaginam”.

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