Portugal subiu para a 12.ª posição do Índice de Desempenho das Alterações Climáticas 2026 (CCPI), o equivalente ao 9.º lugar, registando uma subida face ao ano anterior, quando ocupava a 15.ª posição, num ranking que avalia a ambição e execução das políticas climáticas de cada país.
Segundo a nota de imprensa da ZERO, que participa na publicação do índice, a classificação efetiva de nono lugar atribuída a Portugal resulta do facto de os três primeiros lugares permanecerem vagos, já que nenhum país cumpre plenamente o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
De acordo com o comunicado de imprensa, os países mais bem posicionados no CCPI 2026 são a Dinamarca, que continua a liderar o ranking no 4.º lugar graças ao desempenho destacado em política climática e ao forte investimento em energias renováveis, sobretudo offshore; o Reino Unido, que sobe para 5.º lugar após concluir a eliminação do carvão, embora ainda tenha de acelerar nas renováveis; e Marrocos, em 6.º lugar, com resultados consistentes em quase todas as categorias, emissões per capita muito baixas, investimentos relevantes em transportes públicos e uma nova meta climática ambiciosa para 2035.
No CCPI, os piores resultados deste ano são os da Arábia Saudita (67.º), Irão (66.º) e Estados Unidos da América (65.º).
Portugal entre os países com melhor desempenho climático
Portugal apresenta um “bom desempenho” no CCPI deste ano, obtendo uma classificação elevada nas Emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) e uma avaliação média na Utilização de Energia, Energias Renováveis e Política Climática.
Segundo a comunicação, apesar da avaliação favorável, especialistas nacionais apontam que o país continua a enfrentar desafios relevantes. O setor dos transportes mantém uma tendência de subida das emissões, com um aumento de 7% em 2023 e uma fatia de 29% do total de GEE em 2022, pressionando o cumprimento das metas nacionais e exigindo decisões mais firmes para reverter este rumo.
A fraca adesão ao transporte público e a forte dependência do automóvel nas cidades mostram que é necessário acelerar estratégias de mobilidade urbana sustentável e orientar o sistema para soluções mais eficientes no médio prazo.
Outros problemas centrais incluem a falta de estabilidade no preço do carbono, agravada pela recente redução da taxa sobre produtos petrolíferos, e a manutenção de subsídios e isenções fiscais aos combustíveis fósseis. Estes elementos travam a descarbonização dos setores mais emissores, como a refinação de petróleo e a produção de cimento, e exigem correções claras para permitir avanços consistentes nos próximos anos.
No campo das energias renováveis, a expansão rápida de grandes projetos no território continental tem gerado preocupações socioambientais, sobretudo pela ausência de um ordenamento claro do espaço e de processos de planeamento e AIA capazes de antecipar riscos e orientar o desenvolvimento de forma mais equilibrada.
Neste sentido, a ZERO defende como prioritário:
– Reforçar a redução das emissões nos transportes, ampliando o uso de transportes públicos, soluções de mobilidade urbana sustentável e alternativas de baixo carbono.
– Estabilizar o sinal do preço do carbono e eliminar gradualmente subsídios e isenções fiscais aos combustíveis fósseis, garantindo coerência com os compromissos internacionais.
– Acelerar a expansão das energias renováveis com critérios sólidos de planeamento e Avaliações de Impacto Ambiental robustas, assegurando uma ocupação do território equilibrada.
– Integrar de forma efetiva os princípios de transição justa, concretizando um Plano Social Climático que proteja os grupos mais vulneráveis.
– Cumprir integralmente a Lei Nacional do Clima e alinhar todas as políticas com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme o Acordo de Paris.
Segundo a comunicação, estas medidas “são essenciais para que Portugal continue a ser um exemplo de boas práticas climáticas, mantendo um desempenho elevado no CCPI e contribuindo efetivamente para a estabilidade climática global”.
Se Portugal atuar de forma mais eficaz na redução das emissões nos setores críticos, como os transportes, poderá alcançar poupanças de 16 mil milhões de euros até 2030 e evitar mais de 1.300 mortes prematuras por ano.
A Zero refere ainda que, em Portugal, o setor dos transportes destaca-se como o principal ponto crítico, com emissões em crescimento e em claro desalinhamento face às metas definidas nos planos nacionais. De acordo com os dados mais recentes reportados à UNFCCC, este setor representou quase um terço das emissões de gases com efeito de estufa em 2021, gerando impactos relevantes na qualidade do ar, no ruído e na saúde pública.
Países do G20 continuam a apresentar um “desempenho fraco”
De acordo com o comunicado, apesar do avanço global das renováveis e da eletrificação, o desempenho climático dos principais emissores, os países do G20, continua a ser insuficiente. Apenas o Reino Unido atinge uma classificação elevada, enquanto dez países se mantêm no nível muito baixo: Turquia, China, Austrália, Japão, Argentina, Canadá, Coreia, Rússia, EUA e Arábia Saudita. Outros três países, nomeadamente a África do Sul, Indonésia e Itália, permanecem na categoria baixa.
A China, maior emissor mundial, subiu para o 54.º lugar, mas mantém uma classificação muito baixa, exceto na política climática, onde alcança um nível alto. Apesar do forte avanço em tecnologias verdes, como veículos elétricos, baterias e renováveis, e de metas relativamente ambiciosas, continua a expandir a produção de combustíveis fósseis. Para travar o crescimento das emissões e iniciar uma redução rápida, é essencial que a expansão das renováveis e da mobilidade elétrica seja acompanhada de uma eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
A nota de imprensa também sublinha que a Índia, no 23.º lugar, caiu de forma acentuada para a categoria média. O aumento das emissões e do consumo de energia, combinado com a falta de um plano claro para eliminar o carvão, explica esta descida. Se travar a construção de novas centrais a carvão e mantiver o crescimento das renováveis, poderá recuperar posição já no próximo ano.
Paralelamente, o contexto geopolítico continua marcado por ceticismo climático, ilustrado pela saída temporária dos EUA do Acordo de Paris, um retrocesso relevante dado o seu peso como grande emissor.
Os EUA caíram de forma acentuada e ocupam agora o terceiro pior lugar da classificação, logo acima da Rússia. Já os maiores produtores de petróleo e gás mantêm-se praticamente isolados e sem sinais de abandonar os combustíveis fósseis, desperdiçando a oportunidade de avançar para soluções mais sustentáveis.
O CCPI avalia os progressos na mitigação climática de 63 países, mais a União Europeia (UE) enquanto conjunto, responsáveis por 90% das emissões globais. Cada Estado-Membro é analisado individualmente e o bloco europeu é igualmente avaliado. O índice funciona como uma ferramenta essencial de transparência da política climática internacional, permitindo comparar o esforço e o desempenho de cada país na proteção do clima.
O índice é publicado pela Germanwatch e pelo NewClimate Institute, com participação da ZERO, e tem como propósito destacar os países com melhores práticas climáticas e incentivar aqueles que ainda não adotaram medidas suficientemente ambiciosas para garantir a estabilidade climática global.

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