Transição Energética

Sustentabilidade recupera espaço na agenda dos CEO’s, diz estudo

Sustentabilidade recupera espaço na agenda dos CEOs, diz estudo iStock

A sustentabilidade deixou de perder terreno na agenda dos líderes empresariais e começa agora a estabilizar, de acordo com a terceira edição do relatório The Visionary CEO’s Guide to Sustainability 2025 da Bain & Company.

Apesar de falarem menos sobre o tema, os CEOs continuam a agir com foco na sustentabilidade. A análise, baseada em 35.000 declarações de dirigentes de 150 grandes empresas entre 2018 e 2024, revelou que 54% associam hoje sustentabilidade a criação de valor para o negócio, mais 18 pontos percentuais do que em 2018.

“Após os primeiros anos de grandes ambições e discussão de metas, os CEOs fizeram no último ano uma reflexão realista sobre a sua agenda de sustentabilidade. Hoje poderão falar menos sobre o tema, mas o que não expressam em palavras traduzem-no em ação — passaram do ‘dizer’ ao ‘fazer’”, afirmou Francisco Sepúlveda, partner da Bain em Lisboa.

E continua: “o estudo mostra que cada vez mais compradores B2B procuram fornecedores sustentáveis e que os consumidores B2C valorizam de forma crescente este fator, premiando as empresas que oferecem produtos inovadores, acessíveis e sustentáveis”.

Inteligência Artificial em ascensão
Segundo o relatório, a adoção de inteligência artificial está em forte crescimento, com as empresas a utilizarem esta tecnologia para cortar consumo energético, reduzir desperdícios, reforçar a segurança laboral e acelerar o cumprimento das metas de sustentabilidade.

Entre 400 executivos e responsáveis de sustentabilidade de nove países, cerca de 80% identificam na IA uma grande ou muito grande oportunidade para impulsionar estas iniciativas, embora mais de metade admita estar ainda nas fases iniciais de testes e exploração.

A análise também refere que, contudo, o setor deve considerar o impacto ambiental do crescimento da IA. Segundo estimativas da ferramenta INTERSECT da Bain, que cruza dados climáticos e económicos, num cenário de forte expansão os centros de dados e a IA poderão emitir 810 milhões de toneladas de CO₂ por ano até 2035 — o equivalente a 2% das emissões globais e 17% das emissões industriais. Nos Estados Unidos, a fatia de emissões industriais atribuídas à IA poderá subir de 18% em 2022 para mais de 50% em 2035.

“A inteligência artificial deixou de ser opcional — é hoje essencial para desbloquear impacto sustentável. Enquanto muitas empresas ainda estão em fase de testes, líderes já aplicam a IA para reduzir energia e desperdício, melhorar a segurança e acelerar metas ambientais, capturando simultaneamente valor de negócio. A mensagem é clara: a IA não deve ser vista como um extra, mas integrada de forma estratégica e ambiciosa no centro da agenda de sustentabilidade”, afirmou Diogo Rebelo, senior manager da Bain.

B2B e B2C reforçam pressão por sustentabilidade
O estudo também sublinhou que as empresas B2B reconhecem cada vez mais a relação entre sustentabilidade e rentabilidade. Num inquérito da Bain a mais de 750 clientes dos setores automóvel, embalagens, químicos, maquinaria, metais e construção, metade revelou já privilegiar fornecedores mais sustentáveis e quase 70% pretende aumentar essas compras nos próximos três anos.

Já 90% das empresas com crescimento de receitas acima da média esperam que a sustentabilidade tenha impacto positivo nos seus negócios nos próximos três anos. Esta perceção é partilhada por líderes de todas as regiões, mesmo naquelas onde houve recuos nas políticas governamentais.

Consumidores mantêm foco no tema
A investigação também revelou que os consumidores B2C mantêm uma forte valorização da sustentabilidade. Num inquérito da Bain a mais de 14.000 pessoas em oito países, quatro em cada cinco continuam a considerar o tema importante, apesar da ligeira queda de preocupação causada pela instabilidade geopolítica e pelo aumento do custo de vida.

Nos últimos três anos, os Boomers adotaram mais novos hábitos sustentáveis do que a Geração Z, impulsionados pela maior capacidade financeira e disponibilidade para mudanças significativas.

Segundo a Bain, os consumidores continuam a enfrentar barreiras para adotar um estilo de vida sustentável, sendo o custo a principal dificuldade, sobretudo nos mercados desenvolvidos. Nos EUA, por exemplo, os consumidores dizem estar dispostos a pagar até 13% mais por produtos sustentáveis, mas dados da Universidade de Nova Iorque indicam que o prémio médio praticado é de 28%.

Outra barreira apontada pelo estudo é o conhecimento limitado sobre produtos sustentáveis. Embora mais de 60% dos consumidores digam sentir-se confiantes a identificar opções ecológicas, a maioria não consegue comparar de forma precisa o impacto carbónico de escolhas do dia a dia, como comer um hambúrguer versus fazer um voo de curta distância. Quase metade aponta a falta de informação clara e transparente como um dos principais obstáculos.

A investigação aponta que a tecnologia está a ajudar a reduzir essa lacuna. Mais de metade dos utilizadores de IA generativa, como o ChatGPT, dizem usá-la para viver de forma mais sustentável e cerca de um terço confia nestas ferramentas para recomendações de produtos ecológicos. Para não perder relevância, as empresas precisam perceber o que é prioritário para os consumidores e disponibilizar dados transparentes, acessíveis tanto a pessoas como a sistemas de IA.

Potencial de redução de emissões
Neste sentido, o relatório concluiu ainda que é possível reduzir 25% das emissões globais de dióxido de carbono de forma rentável, através de medidas com retorno positivo como maior eficiência energética, design circular e relocalização das cadeias de abastecimento.

Outros 32% dos mecanismos de redução de emissões podem tornar-se rentáveis a médio prazo, desde que haja evolução nas políticas públicas, progresso tecnológico e mudanças no comportamento dos consumidores.

O relatório analisou também os hábitos de consumo e revela que cerca de um terço dos inquiridos pratica seis ou mais hábitos sustentáveis por dia. Além disso, 70% manifestam intenção de adotar rotinas ainda mais ecológicas, tendência consistente em diferentes regiões e perfis demográficos.

 

Não perca informação: Subscreva as nossas Newsletters

Subscrever