Ao contrário do verificado na Europa, América do Norte e Ásia, no Golfo as práticas ESG não se refletem em melhor desempenho financeiro, nem os bons resultados financeiros se traduzem em maior compromisso com a sustentabilidade.
A conclusão é de uma equipa de docentes da Nova School of Business & Economics (Nova SBE, Portugal) e da ESMT Berlin (Alemanha), que realizou o mais amplo estudo académico sobre sustentabilidade empresarial na região do Golfo — Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Qatar.
O artigo, intitulado “ESG-financial performance in the Gulf region: a bidirectional examination” e publicado na revista académica Sustainable Communities, analisou 14 anos de dados de empresas cotadas.
De acordo com comunicado de imprensa, a inovação desta investigação estatística reside na abordagem bidirecional. Enquanto a maioria dos estudos se limita a avaliar se o investimento em sustentabilidade aumenta a rentabilidade, este trabalho acrescenta a questão inversa: empresas financeiramente sólidas aplicam parte dos seus recursos em práticas ESG? Em ambos os sentidos, os resultados mostraram-se fracos, inconsistentes e sem relevância estatística significativa.
Os investigadores sublinharam que foram encontrados indícios de causalidade bidirecional em apenas duas das 54 empresas analisadas (3,7% da amostra). Já em dez empresas (18,5%) observou-se causalidade unidirecional, seja quando fatores de sustentabilidade influenciaram os resultados financeiros, seja quando o desempenho financeiro impulsionou a adoção de práticas ESG.
“Queríamos testar os dois lados da equação. Em grande parte do mundo, a sustentabilidade e as finanças alimentam-se mutuamente, criando um círculo virtuoso. No Golfo, não encontrámos esse ciclo em nenhum sentido”, explicou Rodrigo Tavares, Professor Catedrático Convidado na Nova SBE e coautor do estudo.
Segundo os investigadores, as conclusões do estudo trazem implicações relevantes. Enquanto nos mercados maduros os investidores valorizam práticas sustentáveis com maior prémio bolsista, no Golfo a lógica é distinta.
A adoção de métricas ESG resulta menos da pressão de mercado e mais de políticas públicas e estratégias nacionais de diversificação económica, como a Visão 2030 da Arábia Saudita ou a estratégia Net Zero 2050 dos Emirados Árabes Unidos. Assim, as empresas da região tendem a alinhar-se sobretudo com as metas definidas pelos governos.
“No Golfo, a sustentabilidade corporativa não se desenvolve a partir da lógica empresarial, mas, possivelmente, da vontade do Estado. É um laboratório único para perceber como políticas públicas podem substituir ou complementar pressões de investidores”, acrescentou Catalina Stefanescu-Cuntze, professora de ciência da gestão e responsável académica do Mestrado em Análise e Inteligência Artificial da ESMT Berlin e coautora do estudo.
Ao revelar estas dinâmicas, o estudo não só contrasta com a experiência europeia e norte-americana, como também questiona a ideia de que “sustentabilidade compensa financeiramente” de forma universal. Para os autores, a relação depende menos de uma lógica económica global e mais do contexto político e institucional de cada região.

iStock
