Transição energética

Transição energética entra em fase decisiva e obriga a equilibrar custos, segurança e descarbonização

Transição energética entra em fase decisiva e obriga a equilibrar custos, segurança e descarbonização iStock

A transição energética está a avançar para uma etapa decisiva, marcada por uma transformação estrutural do sistema global, concluiu o novo relatório The Energy Transition’s Next Chapter, da Boston Consulting Group, que mostrou ainda que a segurança de abastecimento e a acessibilidade dos preços ganharam peso estratégico e terão de evoluir em equilíbrio com os objetivos de descarbonização que moldam o futuro do setor.

O estudo da BCG indicou que, apesar de a transição energética continuar a ser inevitável, o seu avanço deixou de seguir uma linha única. Em vez de um processo global uniforme, multiplicam-se transições regionais com ritmos, prioridades e opções tecnológicas distintas.

Sete forças macroeconómicas que estão a redefinir a transição energética
A BCG apontou sete mudanças estruturais de alcance global que, neste momento, estão a redirecionar o rumo da transição energética:

  • A segurança energética ganhou urgência, levando vários países a reforçar a presença de renováveis no seu mix e a desenvolver cadeias de valor locais para tecnologias críticas de baixo carbono, apoiadas por políticas industriais e mecanismos de proteção comercial;• A Europa tornou-se a região onde o acesso à energia mais se deteriorou nas últimas duas décadas, agravando-se nos anos recentes. Em países como Alemanha e França, consumidores industriais e domésticos pagam cerca de 2,5 vezes mais do que utilizadores em mercados mais competitivos, como EUA, China ou Índia. A pressão dos preços reduziu o apoio público a medidas de mitigação e desviou o foco para políticas de adaptação climática, cuja preferência subiu, entre 2020 e 2024, de 33% para 44% na Alemanha, de 34% para 43% em França e de 22% para 29% em Itália;• A procura de eletricidade entrou num superciclo estrutural, impulsionada pela expansão dos data centers e pelo avanço da refrigeração, da mobilidade elétrica e da eletrificação de edifícios e processos industriais. Até 2030, o consumo deverá crescer entre 350 e 450 TWh na China, 100 a 130 TWh nos EUA e 50 a 70 TWh na Europa;

    • A energia nuclear, solução sem emissões diretas, vive um momento de renovado interesse, enquanto se prevê que a capacidade de geração a gás natural aumente cerca de 40%, sinal da necessidade de fontes firmes para assegurar estabilidade ao sistema e resposta contínua à procura.

  • O investimento global em infraestruturas energéticas deverá aumentar cerca de 50% até 2030, passando de 7 para 10 biliões de dólares, equivalente a 1,5% do PIB mundial. O custo de construção de grandes redes elétricas é hoje até seis vezes superior ao verificado no último grande ciclo de expansão, tornando o custo de capital o elemento económico dominante do setor;
  • A procura de petróleo e gás mantém-se acima do previsto, sustentada pelo crescimento dos mercados emergentes e pelo ritmo lento de substituição tecnológica;
  • Os custos tecnológicos seguem trajetórias distintas: desde 2010, o preço médio da energia solar recuou 86%, o da eólica onshore 49% e o das baterias LFP 88%, enquanto o hidrogénio verde e o armazenamento de longa duração permanecem dispendiosos e avançam de forma desigual.

“Ao analisarmos esta nova fase da transição energética, percebemos que o futuro exigirá equilíbrio, transparência e escolhas difíceis. Não basta ambicionar descarbonizar: é fundamental garantir soluções que sejam competitivas, seguras e sustentáveis a longo prazo. O desafio desta década será conciliar estes três pilares enquanto aceleramos a transformação”, destacou Jaime Ruiz-Cabrero, Managing Director & Senior Partner da BCG Lisboa.

O relatório destacou também um conjunto de ações dirigidas aos principais intervenientes, operadores e proprietários de redes, consumidores, produtores e fornecedores de energia, para acelerar a transição energética. Em articulação com os decisores responsáveis por orientar este processo, o êxito da transição dependerá da capacidade conjunta de alinhar pragmatismo com ambição.

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