Capital Natural

Apenas 2% das áreas marinhas da UE têm planos de gestão ativos

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Atualmente, apenas 11,39% das áreas marinhas da União Europeia (UE) estão designadas como protegidas, e apenas 2,04% têm planos de gestão ativos. A conclusão é de um novo relatório da WWF, intitulado “Protecting and restoring our seas: Europe’s challenge to meet the 2030 targets”.

Entre os mares regionais, a maior cobertura de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) ocorre no Mar Mediterrâneo (17,97%), seguido do Mar Báltico (17,21%) e do Mar Negro (14,07%). O Atlântico Nordeste, onde se inclui Portugal, apresenta a menor cobertura: apenas 8,04%.

A nível nacional, as diferenças entre os Estados-Membros são notórias, avança a análise. Apenas oito países submeteram formalmente compromissos de biodiversidade — e só três (Dinamarca, Alemanha e Espanha) apresentaram dados completos sobre as AMPs propostas.

Na Alemanha, essas áreas cobrem quase 45% do espaço marinho; em contraste, as propostas da Dinamarca e Espanha abrangem menos de 2%. Apenas as AMPs da Dinamarca incluem zonas de proteção estrita — e mesmo estas representam apenas 4.171 km², cerca de 0,000004% da sua área marinha.

Portugal é apontado entre os países com baixa implementação de planos de gestão nas AMPs. Apesar da designação formal de áreas, a ausência de gestão ativa compromete os objetivos de conservação e restauração, colocando o país entre os que mais arriscam falhar as metas europeias.

De acordo com o estudo, em 2019, a WWF avaliou a rede europeia de AMPs e concluiu que, embora muitas áreas tivessem sido designadas, a proteção real e a gestão eficaz estavam significativamente ausentes. Com o objetivo de proteger 30% dos mares da UE até 2030 (10% sob proteção estrita), a WWF apresentou agora uma nova análise baseada em dados oficiais da UE atualizados até 2023.

O relatório alerta ainda para o facto de os Estados-Membros estarem sob pressão crescente para cumprir estas metas. Após a adoção da Lei de Restauro da Natureza, em junho de 2024, os países europeus estão agora a preparar os seus Planos de Restauro da Natureza (PRN) e devem acelerar urgentemente os esforços para designar, gerir e restaurar os ecossistemas marinhos.

Segundo a Agência Europeia do Ambiente, mais de 90% das áreas marinhas da UE estão sob pressão de atividades humanas, ameaçando a saúde e a resiliência destes ecossistemas críticos. Apesar de cobrirem mais de 70% do planeta, os oceanos continuam subvalorizados e subprotegidos.

O estudo enfatiza ainda que, sem planos de gestão eficazes, muitas AMPs não oferecem proteção real, continuando a permitir atividades prejudiciais como pesca destrutiva, dragagem e mineração, o que cria o fenómeno dos “parques de papel”: áreas que existem apenas no papel, mas sem resultados concretos de conservação.

O relatório destacou também que 14 dos 22 Estados-Membros costeiros não possuem ou têm poucos planos de gestão para as suas AMPs.

Deste modo, a WWF deixou algumas recomendações, nomeadamente:

  1. Melhorar a qualidade e consistência dos dados sobre AMPs a nível nacional e europeu;
  2. Incluir medidas concretas de conservação e fiscalização em todos os planos de gestão;
  3. Garantir coerência entre políticas e legislação, como a Lei de Restauro da Natureza, a Diretiva-Quadro Estratégia Marinha (DQEM) e o Ordenamento do Espaço Marinho;
  4. Apoiar a conservação marinha através da gestão das pescas, incluindo zonas restritas a determinadas atividades;
  5. Promover a cooperação transfronteiriça, com partilha de dados e boas práticas;
  6. Assegurar a coerência ecológica na rede de AMPs, tendo em conta representatividade, replicação e conectividade.

 

 

 

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