Em 2024, a Auchan Retail Portugal alcançou uma taxa de valorização de resíduos de 92%, um marco expressivo no seu compromisso com a sustentabilidade.
Este resultado foi possível graças a uma gestão de resíduos “rigorosa”, sustentada por medidas bem definidas nas lojas e pela mobilização dos colaboradores. A empresa, contudo, pretende ir mais além, tendo estabelecido como meta atingir o objetivo de zero resíduos para aterro até 2032.
Além do trabalho interno, a Auchan envolveu também os seus clientes nesta missão, incentivando-os à redução de resíduos no momento da compra, permitindo o uso de sacos e embalagens próprios para frutas, legumes, pão e produtos frescos.
Também no ano passado, a retalhista conseguiu reduzir o seu consumo de energia em 5,2% face a 2023, graças à adoção de tecnologias mais eficientes e à aplicação de práticas inovadoras na gestão energética.
Para compreendermos melhor o impacto destas medidas e conhecer a visão da empresa para o futuro, conversámos com Rita Cruz, Diretora de Responsabilidade Corporativa Ambiental e Social da Auchan Retail Portugal, que nos explica como funcionam os bastidores destas conquistas e os próximos passos no caminho para um retalho cada vez mais ‘verde’.
– Em 2024, alcançaram uma taxa de valorização de 92% dos vossos resíduos. De que forma chegaram a este resultado? Que medidas implementaram?
Na Auchan, a gestão de resíduos é gerida de forma muito rigorosa. Desta forma, tomamos medidas que tenham impacto ao nível interno, junto dos nossos colaboradores, mas também ao nível externo, para que possam incentivar os nossos clientes a contribuir para as metas que nos propomos a alcançar.
Internamente, além da implementação de um programa de gestão de resíduos, damos formação a todos os colaboradores sobre a separação de resíduos e dispomos de zonas específicas para a deposição seletiva – parque de resíduos – com sinalética explicativa e contentorização adequada, de forma a facilitar a correta separação e posterior reciclagem/tratamento.
Assim, atuamos de forma consciente em cinco parâmetros que consideramos fundamentais para alcançarmos os 92% de taxa de valorização de resíduos: começamos pela prevenção, através do controlo de stocks e quebras, bem como da doação de artigos; seguimos com a minimização e reutilização, reutilizando internamente produtos que, apesar de estarem em bom estado, não podem ser vendidos devido a danos nas embalagens; e avançamos para a reciclagem, com um processo de triagem que atualmente abrange cerca de 21 tipos de resíduos diferentes.
Além disso, pautamo-nos ainda pela valorização energética, ou seja, enviamos os resíduos não valorizáveis de outra forma para valorização energética, em incineradoras ou para operadores que posteriormente os reencaminham como CDR (combustível derivado de resíduo) e, por fim, a deposição em aterro, em que, por norma, apenas enviamos resíduos para a aterro em regiões onde não é permitido atuar de outra forma.
No que diz respeito a ações externas, tentamos ajudar o cliente e oferecer-lhe soluções para a recolha de diferentes tipos de resíduos. Assim, dispomos de pontos de recolha nas nossas instalações, que desempenham um papel determinante na continuidade da cadeira de reciclagem de vários tipos de resíduos. Assim, nas lojas Auchan recolhemos equipamentos elétricos e eletrónicos usados, óleos alimentares usados, lâmpadas, pilhas e baterias portáteis; tinteiros; rolhas de cortiça; baterias de automóveis e cápsulas de café dos nossos fornecedores.
Com estas ações conseguimos reduzir o impacte ambiental e aumentar a percentagem de resíduos valorizados.
Na Auchan, a gestão de resíduos é gerida de forma muito rigorosa.
– Que tipo de resíduos são mais difíceis de valorizar e como lidam com esse desafio?
Os resíduos mais difíceis de valorizar são aqueles que em determinadas zonas do país não têm um destinatário relativamente próximo, o que faz com que os resíduos tenham de fazer grandes viagens até conseguirem ser valorizados. Exemplo disto são os biorresíduos, que ainda não têm destinatários em todo o país.
São também resíduos mais difíceis de valorizar, as embalagens primárias de plástico e vidro, por dois motivos. Em primeiro lugar, apesar de fazermos a separação seletiva deste tipo de resíduos, em muitas zonas do país, estes não estão a ser aceites pelos sistemas de gestão de resíduos urbanos municipais e multimunicipais. Por outro lado, mesmo os destinatários privados não estão preparados para receber esta tipologia de resíduos, pois estes são produzidos essencialmente no fluxo urbano, nas recolhas dos ecopontos amarelo e verde.

Rita Cruz, Diretora de Responsabilidade Corporativa Ambiental e Social da Auchan Retail Portugal
– Existe algum plano para atingir a meta de zero resíduos desviados para aterro?
Temos a ambição de gerar zero resíduos para aterro até 2032. O plano que seguimos atualmente consiste em seis pilares, nomeadamente a redução da quebra (retirados de venda), doação de alimentação humana, em que doamos alimentos não vendidos para pessoas carenciadas; doação de alimentação animal, reciclagem e valorização, que se baseia na triagem e encaminhamento de materiais para reintegrar no processo de fabrico de novos produtos, compostagem, assim como incineração e aterro, em que encaminhamos para valorização energética e deposição em aterro.
Por norma, valorizamos enquanto resíduo tudo o que não conseguimos evitar como desperdício.
– De que forma incentivam os clientes a participarem na redução de resíduos?
Junto dos clientes, o que fazemos é apelar à utilização das nossas soluções mais sustentáveis e incentivar à reciclagem, sempre que possível. A escolha de sacos reutilizáveis, embalagens mais ecológicas, compras a granel ou as boxes contra o desperdício, por exemplo, permitem-nos motivar os clientes a criarem hábitos que levam alcançar uma maior redução de resíduos.
A parceria com a To Good to Go é outra forma de evitarmos desperdiçar diariamente alimentos em bom estado de conservação. Além disso, criámos ainda produtos com alimentos que seriam desperdiçados como o gelado vegan de banana, que permite salvar grandes quantidades de banana madura que já não seria vendida.
Por norma, valorizamos enquanto resíduo tudo o que não conseguimos evitar como desperdício.
– Também reduziram o consumo de energia em 5,2%, que tecnologias e práticas foram executadas para tal?
A nossa principal meta é termos 100% de eletricidade proveniente de fontes de energia renováveis. Atualmente, temos contratos de fornecimento de energia elétrica provenientes de fontes renováveis, com certificados de garantia de origem. Pretendemos ainda produzir a nossa própria energia, através de fontes renováveis.
– Quais os próximos passos para aumentar a produção de energia renovável nas vossas lojas?
As lojas Auchan já operam a 100% com fontes de energia renováveis, à exceção das lojas adquiridas ao Grupo Dia. O nosso próximo passo será, por isso mesmo, dotar estas novas lojas com a mesma tecnologia, de forma a termos uma operação 100% renovável.
Junto dos clientes, o que fazemos é apelar à utilização das nossas soluções mais sustentáveis e incentivar à reciclagem, sempre que possível.
– Como medem e avaliam o impacto ambiental das vossas operações e quais os principais indicadores utilizados?
De forma a avaliar o impacte ambiental das nossas operações, analisamos vários indicadores dentro de cada um dos tópicos nos quais nos propomos a trabalhar.
Avaliamos a percentagem de energia renovável utilizada e controlamos as emissões de gases de efeito de estufa, monitorizamos e rentabilizamos o consumo de água e reutilizamos ou reciclamos sempre que possível. No que diz respeito aos resíduos, fazemos todas as medições necessárias para garantir a máxima valorização dos mesmo e no que toca às embalagens, optamos, sempre que possível, por embalagens recicláveis, compostáveis ou reutilizáveis. Para isto, temos softwares que nos ajudam a gerir os nossos níveis de sustentabilidade e utilizamos e seguimos normas e diretrizes reconhecidas internacionalmente para esse efeito.
Assim, estamos permanentemente a avaliar os seguintes parâmetros: consumo de energia e de água, pegada de carbono/ emissões de CO2 equivalente, taxa de desperdício alimentar e produção e valorização de resíduos
– Como envolvem os colaboradores nestas iniciativas e na consciencialização para uma gestão responsável dos resíduos?
Os nossos colaboradores estão familiarizados com as nossas metas de sustentabilidade e somos transparentes na divulgação dos resultados que vamos alcançando ao longo dos anos. Além disso, iniciativas como a dos 94 minutos acabam por envolvê-los na nossa política de sustentabilidade e fazer com que se sintam parte integrante dos resultados alcançados.
Reforçamos ainda estes conhecimentos com formação em gestão ambiental, separação de resíduos, boas práticas de utilização de água e energia, entre outros.
A sustentabilidade já é um pilar importante para todas as marcas e o futuro passa especificamente pela adoção de práticas que contribuam para a descarbonização dos setores.
– Acreditam que as práticas sustentáveis que tem vindo a aplicar influenciam a perceção dos consumidores e as suas decisões de compra?
Acreditamos que sim! Claro que existe muita coisa que uma empresa pode fazer no caminho para se tornar sustentável e que não está à vista, mas existem outras ações que cada vez mais têm impacto na perceção dos consumidores e nas suas decisões de compra.
Além da comunicação transparente sobre os esforços de sustentabilidade que fazemos, as redes sociais desempenham um papel crucial na divulgação de ações, produtos ou mesmo práticas mais sustentáveis. Acreditamos que uma oferta de produtos biológicos consistente e a opção por embalagens recicladas, são um claro indicador de que uma marca caminha para a sustentabilidade e tem um impacto na fidelização de consumidores, que cada vez mais têm uma preocupação crescente por este tipo de produtos.
Sob o mote ‘Cultivamos o Bom’, a Auchan dá ainda preferência aos produtores locais (-50km) o que permite uma redução da sua pegada ecológica, uma melhoria da oferta aos clientes e um maior apoio às comunidades de agricultores locais. Vários são também os exemplos de produtos de economia circular tais como os cogumelos Nãm, desenvolvidos a partir do aproveitamento de borras de café, ou o já referido gelado vegan de banana.
– As práticas sustentáveis podem influenciar a competitividade das marcas de retalho nos próximos anos?
Sem dúvida! A sustentabilidade já é um pilar importante para todas as marcas e o futuro passa especificamente pela adoção de práticas que contribuam para a descarbonização dos setores.
Atualmente, já vemos marcas a diferenciarem-se cada vez mais nestas áreas, pelo que acreditamos que no futuro, este vai ser um dos pontos que influenciará a competitividade.