Uma técnica que mistura resíduos plásticos com asfalto está a ganhar destaque como solução sustentável para a construção de estradas. Desenvolvida e aplicada por investigadores brasileiros, esta abordagem pretende não só dar nova vida ao plástico, como também aumentar a durabilidade do pavimento. Os primeiros testes numa autoestrada no interior de São Paulo revelaram resultados promissores.
Segundo um estudo recente da Universidade de Tsinghua, na China, foram descartadas mais de 268 milhões de toneladas de plástico em 2022, das quais apenas 9,5% foram recicladas. Cerca de 194 milhões de toneladas tiveram um destino inadequado, acabando em rios, oceanos e zonas verdes.
Com o objetivo de dar nova utilidade a este tipo de resíduos, surgiu na Holanda, em 2018, o Plastic Road, o primeiro projeto de ciclovia feita integralmente com plástico reciclado. A estrutura, pré-fabricada, durava três vezes mais que o asfalto convencional e com menos necessidade de manutenção. Ainda assim, o projeto foi descontinuado por falta de viabilidade comercial. Apesar disso, inspirou soluções em países como o Reino Unido, México e Brasil.
Na América do Sul, uma equipa de engenheiros brasileiros decidiu adaptar o conceito à escala rodoviária. A concessionária Eixo SP, em parceria com a Stratura Asfaltos, desenvolveu um método que mistura plástico pós-consumo com betume tradicional, tornando-o adequado para suportar tráfego pesado de camiões e autocarros.
A técnica, conhecida como “via-húmida”, envolve a fusão do plástico com o asfalto a altas temperaturas, juntamente com aditivos, permitindo uma mistura homogénea e resistente. O primeiro teste foi realizado num troço da Rodovia Washington Luiz (SP-310), em Rio Claro, com a aplicação de 1,5% de plástico reciclado na composição, o que correspondeu a cerca de 200 mil embalagens de plástico doméstico.
Embora a técnica ainda esteja em fase de testes, os resultados iniciais foram promissores. O teste em território brasileiro vem juntar-se a outras iniciativas que procuram reaproveitar resíduos — como a borracha de pneus — para melhorar a qualidade das estradas. Além da durabilidade, o novo asfalto com plástico reciclado mostrou melhor desempenho face às variações de temperatura e ao desgaste provocado pela circulação intensa.