Manuel Moura: para crescer vamos ter de investir

Manuel Moura: para crescer vamos ter de investir

Consultor na área dos transportes, deixa um olhar crítico e abrangente sobre o setor dos transportes, que acaba por ser um espelho da atual situação económica do país. Acredita que depois da dura prova que está a passar, Portugal conseguirá dar a volta e que a retoma económica requer passar da atual contenção de custos pura e simples para uma nova política de investimentos, mas desta vez marcada por maior racionalidade.

Afirmou recentemente sentir-se “um elemento da orquestra do Titanic”. É como vê o setor dos transportes em Portugal e mais especificamente a situação da ferrovia, área da sua especialidade?

Acho que sim, francamente. Em Portugal, e sobretudo no domínio da ferrovia, gastou-se dinheiro sem qualquer sentido, projeto ou viabilidade, porque não há um plano de estruturação da ferrovia em Portugal. Com exceção de alguns projetos, como a rede de Metropolitano de Lisboa ou o Metro do Porto, foi dinheiro mandado fora… Não acabam os exemplos: o metro do Mondego, a linha do Norte, a variante de Alcácer, a linha de Évora…

A atual rede ferroviária em mais de 50% não serve a nada nem a ninguém: o comboio leva ar e traz vento! Dos 2500 quilómetros de linha que temos, apenas 1000 têm sentido. Nunca houve a coragem política de dizê-lo às câmaras.

A ferrovia é um meio de transporte pesado que faz sentido apenas para grandes distâncias, que não temos em Portugal, ou para grandes concentrações urbanas. Como 90% da população portuguesa vive a 60 quilómetros da costa, é aí que tem de haver comboio.  

No caso das mercadorias, a ferrovia deve ser utilizada para fazer a ligação entre os portos e para ligar Portugal à Europa. Com uma linha mista, sempre, na minha opinião. A situação portuguesa é muito diferente da espanhola, em que Madrid está a 600 quilómetros de qualquer porto. Cá, os centros de consumo e de produção estão em cima dos portos: 75% da carga da carga descarregada em Lisboa, na Liscont, dirige-se a 60 quilómetros a norte de Lisboa. Que sentido faz fazer a sua distribuição através da ferrovia? A que custos?

 

Na sua opinião, o Plano Estratégico de Transportes (PET) apresentado pelo atual governo é um bom documento ou um mal menor?

Estou completamente de acordo com o PET, sobretudo porque aponta um caminho, ainda que seja um plano de curto prazo, que visa regular a situação atual. Começa por identificar um problema essencial, a dívida do setor dos transportes, e aponta soluções para a sua resolução.

Temos uma dívida de 17 mil milhões de euros para pagar, a que acumulam anualmente juros e dívida de exploração. Isto é insustentável! Temos uma obrigação de serviço público, mas não pode ser a qualquer preço.

É preciso acabar com uma política de investimentos perfeitamente errada, com acordos de empresa sem sentido, em que se pagam valores salariais incomportáveis com a bolsa do contribuinte e com o acumular da dívida.

 

A solução apontada no PET passa sobretudo por concessionar e privatizar.

Eu julgo que é por aí que temos de ir, até porque não há remédios santos. Há exemplos de concessões que estão a funcionar: a Rodoviária Nacional, um dos grandes problemas que tínhamos nos transportes, foi privatizada e está a funcionar, sem encargos para o contribuinte. Outros exemplos são o Metro  Sul do Tejo e a Fertagus.

 

 Defendeu a existência de uma única empresa ferroviária, afirmando que tal pode permitir racionalizar a gestão e gerar poupanças. A que se refere?

Creio que a CP e a Refer devem juntar-se, pois não temos dimensão para manter ambas. Quando se pensa entregar a exploração, o que fica é a gestão da infraestrutura, que tem de ser pública. Penso que os serviços da CP que não forem concessionados devem ficar integrados na mesma empresa que gere a infraestrutura, independentemente do nome que se escolha.

 

Leia a entrevista na íntegra na próxima edição da revista Logística & Transportes Hoje

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