Transição Energética

Indústria do futebol emite cerca de 66 milhões de toneladas de CO2e por ano

Indústria do futebol emite cerca de 66 milhões de toneladas de CO2e por ano iStock

As emissões poluentes da indústria mundial do futebol fixam-se entre as 64 e 66 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) por ano, o que equivale às emissões de um país como a Áustria e cerca de 60% mais o Uruguai.

A conclusão é de um relatório das organizações New Weather Institute e Scientists for Global Responsability, que pretende oferecer “uma perspetiva clara” da situação atual do mundo do futebol profissional e para onde precisa de ir em terços de impacto climático no planeta.

O estudo avança ainda que, em relação a estas toneladas de CO2, mais de 75% deve-se a acordos de patrocínio com empresas que apresentam um elevado teor de carbono.

Que impactos foram gerados?
Ao mesmo tempo, os especialistas referem que quatro grandes contratos de patrocínio da final do Campeonato do Mundo de Futebol masculino em 2022 foram, em conjunto, responsáveis por emissões de gases com efeito de estufa (GEE) superiores a 16 milhões de toneladas de CO2e.

Já os quatro maiores acordos de patrocínio entre clubes europeus e companhias aéreas, em 2023, foram responsáveis por emissões de GEE de mais de 8 milhões de toneladas de CO2e. Os quatro principais clubes envolvidos foram oParis Saint-Germain (França), Real Madrid (Espanha), Manchester City (Reino Unido) e Arsenal (Reino Unido).

Além disso, os especialistas estimam que a pegada mundial de carbono das atividades não relacionadas com o patrocínio do futebol seja de 13 a 15 milhões de toneladas de CO2e por ano, o que equivale às emissões de GEE de uma nação como a Costa Rica.

O estudo indica ainda que mais de 93% destas emissões se devem às atividades ligadas às ligas nacionais de elite e aos torneios internacionais.

E que emissões se registam por jogo?
O relatório estima que as emissões de GEE por jogo numa competição nacional de clubes de elite masculina – como a Premier League inglesa – são de cerca de 1.700 toneladas de CO2e, com as emissões relacionadas com as deslocações e as viagens aéreas a representarem cerca de metade deste total.

O total aumenta cerca de 50% para um jogo numa competição internacional de clubes, principalmente devido às deslocações aéreas dos espetadores. Já um jogo de uma final de um campeonato do mundo de futebol masculino é responsável por entre 44.000 toneladas de CO2e e 72.000 toneladas CO2e – entre 26 vezes e 42 vezes mais do que um jogo de um clube de elite.

As emissões de um jogo do campeonato do mundo são equivalentes a uma média das deslocações de 31.500 a 51.500 automóveis durante um ano inteiro.

Os especialistas referem ainda que estes valores não incluem as emissões relacionadas com os patrocínios, “que estimamos, em média, aumentarem as emissões totais por jogo em mais de 350%.

O impacto do Campeonato mundial de futebol masculino
De acordo que o relatório, o Campeonato mundial de futebol masculino – incluindo as finais e a qualificação – foi responsável, nos últimos quatro anos, por 6,5 milhões de toneladas de CO2e, com a maioria das emissões a registarem durante a fase final do evento.

Além disso, os especialistas estimam que as competições e jogos internacionais masculinos, como o Euro ou a Copa América, são responsáveis por uma média de 1,5 milhões de toneladas de CO2e por ano. Já o alargamento da fase final do campeonato do mundo de 32 para 48 equipas – a partir de 2026 – vai conduzir a um aumento das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

Mas quais as principais fontes de poluição e como resolver?
De acordo com a análise, as principais fontes de poluição do futebol são as viagens para jogos internacionais, a construção de estádios e os acordos de patrocínio com empresas com operações que registam elevados níveis de poluição e que “utilizam o futebol para vender e normalizar os seus produtos poluentes junto de milhares de milhões de pessoas”.

Os especialistas responsáveis pelo relatório apontam três formas de diminuir o impacto climático da indústria do futebol no mundo. Em primeiro lugar, reduzir, e não aumentar, o seu próprio impacto climático. Em segundo lugar, não promover produtos e estilos de vida que sejam “altamente poluentes” e que agravam o problema. Por último, tornar-se numa “voz positiva” para a ação climática.

A investigação sublinha também que um número cada vez maior de jogadores e clubes de futebol estão a reconhecer a oportunidade que têm para mudar o paradigma climático, com os clubes a implementar fontes de energia renovável, a oferecer mais opções alimentares de base vegetal e a incentivar os seus adeptos a escolherem opções de viagem sustentáveis. Já os jogadores estão cada vez mais a falar sobre a sua preocupação com a crise climática e apelam à ação.

Também o topo do futebol já reagiu à urgência climática com a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e a União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) a subscreveram os objetivos climáticos da ONU para reduzir as suas emissões em 50% até 2030 e atingir o nível zero até 2040.

Os compromissos e as contradições das organizações de futebol
Os responsáveis pelo estudo enfatizam também que, apesar destes compromissos, a liderança da indústria do futebol, no que toca ao clima, “está a ir na direção errada”.

Em abril do ano passado, a FIFA assinou um acordo com uma das maiores empresas petrolífera do mundo, a Saudi Aramco. Já a UEFA detém um acordo de patrocínio de longa data com a Qatar Airways, e o mesmo se passa com várias ligas europeias, em que os patrocínios das companhias aéreas estão presentes em vários momentos e em diversos lugares.

Também a expansão dos calendários internacionais de competições conduz a um crescimento da poluição, exigindo a construção de mais estádios e a realização de mais viagens aéreas e terrestres.

De acordo com o relatório, as emissões de um jogo do campeonato do mundo de futebol masculino são equivalentes entre 31.500 e 51.500 automóveis de ligeiros de passageiros do Reino Unido conduzidos durante um ano inteiro.

Neste sentido, os especialistas sugerem que o futebol deixe de ser uma plataforma de venda de produtos que ameaçam a saúde e a segurança das pessoas e do planeta, assim como deve ser desenvolvido um calendário de jogos “adequado ao tempo em que vivemos”, ou seja, ser criado um calendário mais curto e mais regional.

Futebol feminino e compensações de carbono
No que toca às emissões de GEE por parte do futebol feminino, o estudo indica que representam uma fração muito pouco significativa comparativamente com o futebol masculino, “mas é provável que aumentem rapidamente com a atual expansão do desporto”.

Foram também as principais jogadoras de futebol feminino que apelaram ao fim do acordo de patrocínio da FIFA com a Saudi Aramco. No mesmo sentido, o Bayern de Munique (Alemanha) abandonou a Qatar Airways como patrocinador das suas camisolas, na sequência dos protestos dos adeptos devido, “mostra que a mudança é possível”, lê-se no estudo.

É ainda frisado no relatório que os esforços para combater as emissões de GEE do futebol estão ainda numa fase inicial, apesar do seu importante papel relativamente à crise climática.

Além disso, os especialistas referem ainda que os esforços para reduzir as emissões, onde existem, são muitas vezes limitados ou postos de lado devido às compensações de carbono, uma abordagem fortemente criticada tanto por cientistas como pelas entidades reguladoras.

 

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