Transição energética

Relatório europeu aponta Portugal como bom exemplo no planeamento climático

Relatório europeu aponta Portugal como bom exemplo no planeamento climático iStock

Um relatório do projeto LIFE TogetherFor1.5, desenvolvido por um consórcio de organizações da sociedade civil europeia, alertou que vários Estados-Membros da União Europeia (UE) estão a negligenciar o planeamento climático de longo prazo. Portugal é apontado como um bom exemplo no planeamento climático, mas continua a enfrentar enormes desafios na implementação.

Segundo o comunicado de imprensa, esta falha coloca em risco os esforços para atingir a neutralidade carbónica até meados do século e o alinhamento com os objetivos do Acordo de Paris.

O relatório, intitulado “Estará o processo de Estratégias de Longo Prazo a funcionar? Evidência e recomendações de casos nacionais selecionados”, avaliou o estado de elaboração ou revisão das Estratégias de Longo Prazo (LTS) em dez países da UE, incluindo Portugal. As conclusões apontam para falhas significativas: baixa ambição, reduzida participação pública e fraco alinhamento com outros planos climáticos nacionais, como os Planos Nacionais de Energia e Clima (PNEC).

O relatório destacou cinco conclusões principais:

– Metade dos países analisados não tem qualquer plano para rever a sua Estratégia de Longo Prazo;

– A consulta pública é limitada ou inexistente, comprometendo a legitimidade democrática;

– Verifica-se uma falta generalizada de coordenação entre planos, dificultando a coerência das políticas climáticas;

– Poucos países ligam as suas estratégias a metas legais ou objetivos intermédios obrigatórios, como os de 2030 ou 2040;

– Portugal e Espanha são apontados como exemplos positivos, graças a processos mais participativos e ao alinhamento com os PNEC, embora persistam dúvidas quanto à implementação.

Neste contexto, a recente proposta da Comissão Europeia de reduzir em 90% as emissões até 2040, apesar de considerada insuficiente face à ambição necessária, constitui uma orientação para que os Estados-Membros definam e acelerem as suas estratégias de longo prazo. Sem esse esforço, a Europa arrisca comprometer a sua contribuição para travar o aquecimento global e mitigar as suas piores consequências.

E Portugal?
Em Portugal, a elaboração da Estratégia de Longo Prazo — o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050) — distinguiu-se por um processo participado e transparente, com envolvimento da sociedade civil, universidades e especialistas independentes, além da exclusão dos créditos de carbono como forma de atingir a neutralidade climática. O plano apresenta um alinhamento razoável com as metas para 2030 e já se encontra em revisão para ajustar-se às metas atualizadas do PNEC.

No entanto, a ZERO alerta que “a implementação concreta das medidas permanece muito incerta e exige reforço político”. Neste sentido, a associação entende que “Portugal está a mostrar que é possível desenvolver uma estratégia climática com base científica, transparente e aberta à sociedade, mas entende que planear é fácil – implementar é que é difícil”.

A ZERO alertou ainda que o RNC2050 não está alinhado com a meta de 1,5 °C do Acordo de Paris. O roteiro atual define a neutralidade carbónica para 2050, quando, de acordo com o cenário PAC2.0, todos os países europeus deveriam atingir esse objetivo até 2040. Este cenário demonstra que tal meta é tecnicamente viável, social e economicamente benéfica, permitindo, no caso de Portugal, uma poupança estimada em 16 mil milhões de euros.

Assim, a associação defende que “é urgente” colocar em consulta pública o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2045 (RNC2045) que reflete “o compromisso que Portugal assumiu de antecipação da neutralidade climática em cinco anos, no nosso entender um passo intermédio para desejavelmente se trabalhar para o objetivo de a atingir no ano de 2040”.

Além disso, a Zero sublinha ainda ser “essencial” que, numa altura em que o país está assolado por graves incêndios rurais que emitem quantidades gigantescas de dióxido de carbono, “o roteiro responda à pergunta de como assegurar no longo prazo que o esvair para a atmosfera do carbono armazenado e capturado nas florestas, matos e solos, não compromete os objetivos climáticos do país face à destruição deste que é o principal sumidouro de carbono”.

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