Um novo relatório, assinado por 50 especialistas climáticos e da biodiversidade, pede que o problema do aquecimento global seja abordado em conjunto com a perda da biodiversidade, avança o New York Times. Os especialistas afirmam que, se continuarmos a lidar com os dois problemas em separado, nenhum irá ser abordado de forma efetiva.
“Estes dois tópicos estão mais profundamente entrelaçados do que se pensava inicialmente”, diz ao NYT, o copresidente do comité científico que produziu o relatório, Hans-Otto Pörtner. O responsável afirmou ainda que as políticas globais geralmente visam uma ou outra, levando a consequências não intencionais.
Durante vários anos os dois problemas foram sendo abordados em separado, sendo que o aquecimento global acabou por ofuscar a crise da biodiversidade. No entanto, os investigadores alertam que as perdas de biodiversidade podem levar a um colapso do ecossistema e colocar em risco as fontes de alimentação e água da humanidade.
“As alterações climáticas de quatro ou cinco graus são uma ameaça existencial para as pessoas, é difícil de imaginar”, diz Paul Leadley, um dos autores e ecologista da Universidade Paris-Saclay, ao NYT. “Se perdermos uma grande fração de espécies da Terra, isso é uma ameaça à existência”, acrescenta.
Os especialistas alertam também que plantar árvores para absorver carbono, como método de equilibrar as emissões globais de carbono, não é suficiente. A presidente do Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES), Ana María Hernández Salgar, citada em comunicado, refere: “A terra e o oceano já estão a fazer muito – absorvendo quase 50% das emissões humanas de CO2 – mas a natureza não pode fazer tudo”.
Já Hans-Otto Pörtner afirma: “Uma primeira prioridade clara são a redução de emissões, a redução de emissões e a redução de emissões”.
Por sua vez, Paul Leadley declara que “algumas pessoas estão lá fora a vender esta mensagem de que se cobrirmos todo o planeta com árvores, isso resolverá o problema climático”. “É uma mensagem errada a vários níveis”, defende.
Possíveis soluções
As intervenções climáticas tendem a prejudicar mais a biodiversidade do que o contrário, e algumas trocas devem ocorrer, escreveram os autores.
Os parques solares, por exemplo, retiram espaço ao habitat da vida selvagem, uma preocupação particular para locais com espécies ameaçadas. Mas, por outro lado, geram energia limpa. O relatório salienta formas de mitigar os danos causados à biodiversidade, por exemplo, pastando os animais à sua volta, melhorando os stocks de solos para sequestro de carbono e evitar habitats intactos. Os autores sugerem ainda jardins polinizadores de forma a ajudar os insetos e as aves a se alimentarem.
Os especialistas notam que, embora os parques eólicos possam ferir as aves migratórias, as turbinas modernas causam muito menos danos.
O relatório afirma ainda que o foco deve estar na proteção e restauração da natureza, uma vez que poderá ajudar a limitar o aquecimento e até encontrar proteção para consequências da crise climática como inundações e tempestades.
As áreas urbanas também podem fazer a sua parte com árvores autóctones, espaços verdes e ecossistemas costeiros, segundo os investigadores.
O relatório foi a primeira colaboração entre o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) e a Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services (IPBES).

