Enquanto muitos ainda discutem se os consumidores estão prontos para embalagens mais sustentáveis, a Sovena já tirou o rótulo. Literalmente. A nova garrafa da Oliveira da Serra, feita com plástico PET 100% reciclado e sem etiqueta frontal, é mais do que design, é uma afirmação de que a sustentabilidade pode sair da teoria e passar ao linear.
Este foi o tema do último podcast da Sustentável, dedicado à inovação e sustentabilidade em embalagens, onde estivemos à conversa com Joana Oom de Sousa, diretora de Sustentabilidade do Grupo Sovena, e Loara Costa, diretora de Marketing & Trade Marketing da mesma empresa.
Joana Oom de Sousa começou por evocar a história da empresa e garantiu que não consegue imaginar a Sovena sem uma política de sustentabilidade – mesmo que, nos primeiros tempos, essa política não estivesse formalmente escrita. “Digo muitas vezes que para a Sovena a sustentabilidade é sinónimo de prosperidade”, afirmou, sublinhando que esta se manifesta nas vertentes ambiental, social e económica e está presente desde a génese da empresa.
Segundo a diretora de Sustentabilidade, este compromisso está enraizado na história do grupo, herdeiro do legado da antiga CUF, fundada por Alfredo da Silva, cuja preocupação com as pessoas e com o ambiente marcou toda a sua estratégia empresarial. “A Sovena, por seu lado, herda esse legado, verticaliza a sua atividade, expande o negócio para uma série de novas geografias e procura todos os dias garantir que faz bem e o bem”. E explicou ainda que a empresa tem hoje uma presença sólida e contínua ao longo de toda a cadeia de valor, desde a produção agrícola à distribuição, mas que “atuando num setor de margens curtas, se não otimizarmos todos os recursos todos os dias e se não inovarmos, não vamos ser sustentáveis a nível de negócio”.
Ao longo da última década, o grupo tem publicado o seu relatório de sustentabilidade de forma voluntária e, no ano passado, iniciou um novo ciclo estratégico, que assenta em três pilares: descarbonização, cadeia de valor responsável e pessoas. Neste último ponto, Joana Oom de Sousa destacou a implementação de cerca de 50 iniciativas para promoção do bem-estar e desenvolvimento dos colaboradores, bem como a certificação da Sovena como empresa familiarmente responsável em Portugal, um reconhecimento que o grupo pretende estender a outras geografias. Trabalham também com a Academia e com várias organizações para promover o ensino profissional, numa aposta clara na formação e valorização de competências.
Já no sector agrícola, a empresa investiu em sistemas de rega gota a gota, suportados por tecnologia de ponta, com imagens de satélite e sondas no solo, que permitem regar apenas quando e onde é necessário, na quantidade certa. “A gestão da água, por exemplo, é de extrema relevância”, sublinhou. No que respeita à descarbonização, a empresa vinha já de um ciclo anterior com reduções significativas nas emissões operacionais e, em 2024, deu mais um passo: conseguiu cortar mais 6% nas emissões. Atualmente, 100% da eletricidade consumida nas instalações da Sovena em Portugal, Espanha e Estados Unidos tem origem renovável. Foram também instalados painéis solares nas herdades e em várias fábricas, e as caldeiras de biomassa, alimentadas com caroço de azeitona e casca de girassol, operam já em três localizações. No campo das embalagens seguem princípios de ecodesign, o que significa apostar na redução de materiais, na reciclabilidade e na incorporação de matérias-primas recicladas e certificadas.
Nasce assim uma garrafa de azeite, sem rótulo, mas cheia de intenção, a mais recente inovação da Oliveira da Serra.
Pioneirismo
Como explicou Loara Costa, a nova garrafa da Oliveira da Serra é um marco no setor. E isto porque se trata da primeira embalagem em Portugal, no segmento do azeite, feita com PET 100% reciclado e sem rótulo frontal. “[a garrafa] é despida de rótulo frontal, mas também atrás há um esforço de reduzir ao limite”, explicou, apontando ainda que a equipa interna batizou esta abordagem de Minimal Label. Para além de reciclada, a embalagem é também reciclável, e a área do rótulo traseiro foi reduzida em cerca de 30%, mantendo apenas o essencial, sem comprometer a informação obrigatória nem a identidade visual.
Segundo a diretora de Marketing, esta inovação obrigou a uma abordagem pedagógica junto do consumidor. “O mote da campanha é ‘sem rótulos, de propósito’”. A campanha teve presença em vários canais – desde o digital aos pontos de venda, com sinalética própria nas lojas – sempre com o objetivo de reforçar que a ausência do rótulo frontal não é erro, mas sim escolha.
“Acreditamos que ficou uma garrafa muito elegante”, disse. “Tem um impacto diferente e temos muito orgulho em afirmar que a Oliveira da Serra foi pioneira no setor com esta abordagem”.
Esta inovação está, para já, disponível na referência Virgem Extra Clássico da marca, mas outras iniciativas estão em desenvolvimento. Loara Costa lembrou, por exemplo, o processo de repackaging de toda a gama, realizado há cerca de três anos, com aplicação de princípios de ecodesign – como a redução do número de cores utilizadas nas embalagens e nas caixas de transporte – numa lógica extensível a todos os formatos, do vidro aos sprays.
Outro marco relevante foi a certificação RecyClass, que a Oliveira da Serra recebeu em 2022 para as garrafas de plástico PET de 750 ml e 1,5 litros. Trata-se de uma certificação europeia e voluntária que avalia a compatibilidade das embalagens com toda a cadeia de gestão de resíduos e a capacidade do material reciclado substituir matérias-primas virgens e ser reutilizado. “Na prática, é um selo de garantia de que a embalagem cumpre todos os requisitos técnicos para ser reciclada de forma eficaz e eficiente”, explicou Joana Oom de Sousa. As garrafas obtiveram a classificação máxima e foram as primeiras no sector em Portugal a consegui-lo. A certificação será renovada este ano e o objetivo é alargar este reconhecimento a outras embalagens do portefólio.
Loara Costa sublinhou que estas certificações, além do valor técnico, têm também relevância comunicacional. “Sabemos que ainda temos muito por fazer e é isso, no fundo, que nos dá energia”. Referiu ainda a campanha de comunicação da marca que, no ano anterior, foi distinguida com o Prémio Nacional de Sustentabilidade do Jornal de Negócios, pelo cuidado colocado em toda a linha de produção, desde os veículos elétricos usados no transporte da equipa, ao controlo rigoroso dos consumos durante as filmagens. Também os materiais de ponto de venda são recicláveis ou feitos a partir de materiais reciclados, numa lógica transversal de redução de impacto. “Acreditamos que pequenas ações consistentes fazem a diferença. E se todos pensarem em conjunto, a transformação acontece”.