Os números do desperdício alimentar são assustadores. Se pensarmos que 1/3 dos alimentos produzidos não são consumidos e acabam no lixo, podemos quantificar os recursos, desde logo a tão preciosa água, mas também nutrientes e agroquímicos utlizados inutilmente.
E quando olhamos para a fonte de todo este desperdício as famílias são, sem margem para dúvida, as grandes responsáveis por este cenário. Mais do que apontar culpados, é preciso refletir nas soluções que, vão muito para além de uma ‘educação’ para a sustentabilidade na hora de comprar, manipular ou reaproveitar alimentos.
Nos últimos anos, tem sido visível o trabalho dos retalhistas em tentar encontrar alternativas que permitam reduzir perdas e, inclusive, dar origem a novos produtos de valor acrescentado, numa lógica circular. Mas não chega.
As indústrias agroalimentares começam a pensar na importância da gestão dos seus resíduos e de como estes podem passar de problema a oportunidade de negócio. Fazem-se parcerias, desenvolvem-se soluções. Mas não chega.
Multiplicam-se também as soluções para ‘salvar’ hortofrutícolas e outros bens alimentares que, quer pela sua estética quer pela aproximação do prazo de validade, iriam para o lixo. Mas não chega.
Não chega mesmo, por muito louváveis que sejam todas as iniciativas e projetos que conhecemos nesta matéria.
Acredito que é preciso pensar no contributo determinante que a Investigação & Desenvolvimento pode ter. Na criação de soluções que prolonguem o prazo de vida dos alimentos, quer seja através da biotecnologia, quer de revestimentos e embalagens mais adaptadas para promover a durabilidade de produtos frescos.
Educar o consumidor para fazer compras mais planeadas e uma gestão mais cuidada é um caminho necessário, mas pouco realista como solução efetiva. Precisamos de aprender novos hábitos, é bem certo, mas há que colocar em marcha planos de circularidade robustos e integrados, que incluam a oferta de alimentos mais adaptados às necessidades do consumidor do ponto de vista da sua durabilidade. Este é um enorme desafio, mas que tem de ser agarrado rapidamente, sob pena de continuarmos a alimentar o desperdício.

