Acredita que é preciso dar passos maiores e mais rápidos para acelerar a transição energética, ainda que neste momento o custo possa ser mais elevado. Luís Pinho, diretor-geral da Helexia Portugal defende que trabalhar a eficiência energética nas empresas é o grande desafio, embora possa ser visto como um processo intrusivo em muitas operações.
Uma conversa à volta da energia que passou pelo armazenamento, mobilidade elétrica, circularidade e ambições futuras.
Partindo do contexto em que estamos a viver, como é que perspetiva o setor da energia a curto/médio prazo? O que é podemos esperar?
Eu gostava de poder dar uma imagem muito romântica e pacificadora, mas ainda não é tanto assim… passámos por sérias dificuldades que todos sabemos: primeiro a pandemia, que impactou e ainda está a impactar a cadeia logística, depois temos o contexto de guerra, a questão do gás, que é muito importante para Portugal e para a Europa, e tudo isto vai levar muito tempo a ser resolvido…
Por um lado, esta instabilidade tem um efeito positivo, que é forçar as empresas a olhar para o custo da energia, a forma como a consomem e que tipo de energia consomem… isso tem sido um catalisador para haver mais interesse das empresas em serem mais autónomas e mais eficientes, e esse é o aspeto positivo. Mas o contexto de energia não pode ser olhado apenas no nosso universo, no contexto nacional, porque o efeito de países da Europa, dos Estados Unidos, da Rússia, tem um impacto muito grande para a indústria. É urgente que as empresas façam esta transição, que empresas como a Helexia consigam fazer isto rápido, apesar de todas as dificuldades logísticas deste momento… Mas isso tem um efeito nos preços. Fazer uma instalação fotovoltaica hoje é mais caro do que há dois anos.
Está mais caro investir em fotovoltaico?
Os investimentos são mais caros e acredito que em 2023, mas principalmente em 2024, a tendência se inverta e os equipamentos comecem a voltar aos preços de 2019/início de 2020, porque há efetivamente uma urgência que tem a ver também com o que está a acontecer neste momento entre a Europa e os Estados Unidos.
Os Estados Unidos aprovaram o Inflation Reduction Act, que na verdade é um apoio enorme de mais de 300 biliões para ajudar as empresas na transformação energética. E isto está obviamente a desestabilizar o equilíbrio de forças comerciais e a aliciar indústrias europeias a mudarem-se para os Estados Unidos. Portanto, no short run existe uma urgência para que as empresas portuguesas e europeias se tornem mais autossuficientes e eficientes em termos de energia, e em termos de custo de energia, porque a médio prazo nós podemos aumentar o problema industrial que temos na Europa. Portanto, quando uma empresa como a gigante BASF diz que vai mudar toda a produção para os Estados Unidos, uma empresa destas não volta atrás. E quando grandes gigantes químicos, ou outros, fazem esta mudança arrastam com eles uma série de outras empresas… e isto pode ter efeitos perniciosos a médio prazo.
Ou seja, as políticas de incentivo europeias também têm de acompanhar?
Isto é um jogo de xadrez… os Estados Unidos movimentaram-se um pouco contra aquilo que defendem as regras da World Trade Organization, portanto agora a Europa tem de dar um passo. Nós não temos bolsos fundos como têm os Estados Unidos, apesar de termos alguns países com capacidade para isso, como é caso da Alemanha, mas países mais periféricos como Portugal, Espanha, Grécia ou Itália não têm capacidade para o fazer… Eu quero acreditar que a Europa se vai unir à volta de mais este desafio, é muito importante para o futuro da indústria na Europa e para a nossa sustentabilidade.
“A eficiência energética implica mexer no sistema existente, nem sempre é tangível, obriga a entrar no ciclo produtivo das empresas, é preciso mexer, ver como se produz para depois poder ajudá-los a consumir menos energia. Isto é mais intrusivo e o processo de tomada de decisão para fazer a mudança é mais demorado”
E nem todos os países estão no mesmo patamar de dependência energética. Apesar de tudo há realidades diferentes…
Eu diria que o norte da Europa deu passos pioneiros há vinte anos. A Noruega por exemplo já estava a fazer o que nós estamos a começar a fazer agora, estiveram à nossa frente, mas o impacto disso não é no imediato, é no médio prazo. A indústria vai sair da Europa para ir para os Estados Unidos e nós podemos ter um problema na fotografia. Por isso é que temos de dar passos mais largos e mais rápidos, ainda que os investimentos sejam mais elevados agora.
É possível fazer esta transição e ficarmos com uma relativa autonomia no setor energético? Ou seja, passarmos a trabalhar com uma base muito sólida de um mix de energias renováveis?
Sim. Portugal já tem um mix energético muito interessante. O passo que estamos a dar agora é possibilitar o acesso democrático à produção de energia. O autoconsumo, as comunidades de energia, o autoconsumo coletivo, são mecanismos para fazer isso e está a acontecer muita coisa em Portugal.
As comunidades de energia ainda estão muito ligadas ao consumo doméstico, ou está a mudar?
Por força da regulação sobre o qual elas assentam tendem a ser mais utilizadas pelas autarquias e pela rede doméstica. Para as indústrias, eu diria que podem acontecer algumas coisas, mas acredito nunca vai ser muito relevante. Já o autoconsumo coletivo sim, é mais fácil de implementar, é mais fácil de gerir com várias empresas, o risco do investimento e a gestão são diferentes.
Voltando ao mix…
Sim, vai permitir às empresas compensar um pouco aquilo que vem do nosso sistema integrado de energia e possibilita-lhes produzirem uma grande parte da sua energia. Sem pensarmos em armazenamento, uma empresa pode produzir entre 20 e 40% da sua energia em período diurno. Pode fazê-lo nas suas instalações, se tiver espaço, ou numa distância pequena para conseguir integrar um autoconsumo coletivo. Portanto, a regulação do autoconsumo coletivo vem ajudar empresas que têm um grande consumo de energia, mas não têm espaço para instalar sistemas fotovoltaicos. Com isto conseguem produzir 20, 30 ou 40%, em alguns casos até um pouco mais, da sua própria energia. Isso é muito importante.
O segundo aspeto é que as empresas vão ter também de olhar para o seu processo produtivo. Lembro-me de um caso de uma empresa que nos disse que quando têm muito trabalho fazem horas extras durante a semana… se calhar não faz sentido fazer horas extras durante a semana, pode fazer mais sentido trabalhar um sábado de manhã do que mais uma hora por dia de segunda a sexta… este ajuste é necessário e por isso é que não devemos falar só em produção de energia, devemos falar em eficiência energética… é preciso conhecer que energia é que se consome e como é que se consome essa energia, fazer uma auditoria energética. Eu diria que hoje há uma sensibilidade maior das empresas para isso, que tem a ver obviamente com a subida do custo de energia…
Este conhecimento do ciclo de energia é crucial, mas não é assim tão comum nas empresas portuguesas…
Há aqui dois aspetos. Por um lado, existem as auditorias regulatórias, que as empresas consumidoras intensivas de energia são obrigadas a fazer, e são produzidos relatórios que são bem feitos e têm algumas consequências. Mas o que eu acho, daquilo que observo, é que apesar de todas as sugestões e indicações das auditorias, com indicações de paybacks de investimentos, etc., depois nada acontece, não se tomam decisões… A produção de energia é mais simples, porque limitamo-nos a construir um sistema que vai produzir uma parte de energia. Mas a eficiência energética implica mexer no sistema existente, nem sempre é tangível, obriga a entrar no ciclo produtivo das empresas, é preciso mexer, ver como se produz para depois poder ajudá-las a consumir menos energia. Isto é mais intrusivo e o processo de tomada de decisão para fazer a mudança é mais demorado, é o que nós sentimos…
Quando se encontram ineficiências, isso não é visto como uma oportunidade para reduzir custos?
Para muitas empresas sim, mas sente-se resistência por ser um processo mais intrusivo. Mas quando o preço da energia atinge os níveis atuais, começa a fazer sentido mudar os sistemas de iluminação, mudar os sistemas de ventilação, todas as implementações…
Onde é que sentem que há mais trabalho a fazer ao nível eficiência da energética?
Eu diria, e repito isto muitas vezes, que o aspeto mais importante e fundamental é o comportamento. Nós vemos isso em todas as empresas, vemos isso nas nossas casas, vejo isso no nosso escritório… quando alguém se esquece de desligar a luz isto é comportamento… O ponto é educar as pessoas a terem esse cuidado, porque este comportamento tem um impacto muito grande e é mais difícil de avaliar e de acompanhar quando se fazem implementações.
Depois temos as coisas mais simples, como trocar uma iluminação antiga por uma iluminação LED, isto tem um impacto muito grande, existem empresas que poupam mais de 60/70% na iluminação… há processos ainda mais intrusivos que implicam mexer no sistema produtivo, mexer no sistema de geração de calor, mexer no sistema de geração de frio, otimizar os sistemas que têm… porque vemos casos de empresas em que numa parte do processo produtivo estão a consumir energia para produzir calor e mais à frente estão a consumir energia para produzir frio e no meio estão a perder calor e frio. Mas esta avaliação é intrusiva, implica auditorias que são muito intensas, muito profundas, que vão mesmo ao âmago do que as empresas fazem e como fazem, mas é aí que se pode fazer a diferença. É muito mais profundo e obriga-nos também a ter um conhecimento da indústria muito mais aprofundado, porque um relighting é relativamente simples, mas ir a uma indústria na área da cerâmica ou de processamento de carne ou de plásticos, tudo isto são realidades diferentes e precisamos de competências eletrotécnicas, mecânicas, térmicas, de fluídos, é um leque muito vasto de competências que têm de evoluir durante muito tempo. Há muito conhecimento acumulado para conseguir ajudar.
E não há um modelo único que se possa aplicar a todas…
Não, cada caso é um caso, obviamente que há setores em que o ciclo do processo produtivo é semelhante, mas na prática nunca é igual, portanto, tudo isto implica muito conhecimento.
Voltando ao armazenamento, pode ser um fator importante para uma mudança mais acelerada? O que vai acontecer a curto prazo ao nível das baterias?
Olhando para o nosso portefólio, quando vemos que temos um leque de clientes em que em média 15 a 20% da energia é injetada na rede, porque é produzida durante o fim-de-semana quando as indústrias não consomem energia, há aqui uma oportunidade que é: como é que fazemos com que esta energia não seja injetada na rede? E como é que fazemos com que estas empresas acumulem energia ao sábado e domingo, por exemplo, para consumirem na segunda e terça-feira? Este é um cenário. Outro cenário são as empresas que produzem energia, mas têm capacidade para produzir mais, mas para ser consumida num raio relativamente curto, num mecanismo de autoconsumo coletivo que inclui storage.
A tecnologia existe, mas ainda não é economicamente viável, comparada com o custo da energia. Bem, se tivéssemos feito este exercício na altura do pico de preços de energia se calhar houve ali momentos em que era viável… mas olhando no long run ainda não é. Acredito que no prazo de um a três anos isto vai evoluir muito rapidamente e aí sim, terá um impacto grande.
“Precisamos de produzir novas baterias, mais eficientes, mas neste momento tendencialmente elas vão para uma área diferente, estão a ser encaminhadas para a mobilidade”
Falta escalar tecnologia para que o preço baixe, ou neste momento há outras condicionantes que impedem?
Há tecnologia existente, que tem de ser escalada para baixar preço, mas também há a questão da extração dos minerais, que tem de ser feita em algum sítio e isso tem a ver com a regulação de vários países, com a disponibilidade desses materiais e com a capacidade de produzir baterias e de as reutilizar, porque não podemos só pensar em produzir baterias, temos de pensar em reutilizá-las, as dos carros elétricos por exemplo…
Ou seja, levantam-se as questões de sustentabilidade no ciclo de vida das baterias…
Exatamente, mas aqui tem de haver um ciclo virtuoso no tempo, precisamos de produzir novas baterias, mais eficientes, mas neste momento tendencialmente elas vão para uma área diferente, estão a ser encaminhadas para a mobilidade, para conseguirmos que haja uma maior autonomia nos carros, nos autocarros, nos transportes pesados, e só depois para as indústrias para armazenar parte da energia que produzem.
Depois temos a segunda via que é reutilizar as baterias, por exemplo, dos automóveis e aqui há ainda muita coisa a ser feita e a tecnologia tem de evoluir. É possível reutilizar baterias da mobilidade elétrica em fim de ciclo de vida, que ainda podem ter utilização para baterias estacionárias e podem funcionar desde que haja retrofit… ainda há espaço para evoluir.
Ou seja, o storage não está mais desenvolvido porque a produção de baterias está focada na mobilidade?
Sim, eu diria que isso está a acontecer na origem… e isso faz com que as baterias para armazenar energia na indústria sejam mais caras, porque na origem elas estão a ser encaminhadas para todas as marcas que estão a apostar na eletrificação, como a Tesla, a Mercedes, a BMW, etc… a capacidade produtiva está a ser direcionada para aí, e para a produção de energia ou vem pouco, ou vem com um custo que ainda não é economicamente viável.
E como está a reciclabilidade dos painéis fotovoltaicos? Já conseguimos ter esse ciclo mais afinado no sentido de haver uma reciclagem desses materiais e um ciclo de vida mais longo destes equipamentos?
Sim, tudo o que é metal é reciclável… nos painéis tem havido uma evolução muito grande, há entidades que fazem esta recolha e processamento. O que nós temos assistido, no histórico dos nossos projetos e da nossa experiência, é que os painéis fotovoltaicos são a componente mais importante e têm um ciclo de 25 anos. Ao fim deste tempo há uma garantia de produção de 80%, o que é ótimo, mas o que temos observado com todas as marcas com que trabalhamos é que estes painéis ainda produzem mais. Portanto, o ciclo de vida não é de 25 anos, pode ser alongado. O que eu acho que vai acontecer a determinada altura é que o processo de recuperação dos materiais dos painéis existentes vai ser tão eficiente que vai justificar fazer o retrofit de um sistema fotovoltaico que ainda não tenha 25 anos, talvez com quinze. Porque o processo de reciclagem vai ser tão eficiente que vai permitir fazer a substituição por equipamentos mais viáveis e eficientes. Ou seja, ficam com uma vida mais curta, mas não uma vida útil, porque acabam por entrar outra vez no sistema. E as pessoas e empresas vão poder comprar equipamentos mais eficientes. Mas isso ainda não acontece, e neste momento está-se a estender ao máximo o tempo de vida dos equipamentos.
O que é que se está a fazer aos equipamentos danificados ou antigos atualmente?
Há recolhas por entidades certificadas, é feita a separação dos vários componentes, do vidro, do alumínio, etc…
E existe responsabilidade de empresas como a Helexia em recolher esses equipamentos antigos quando vão instalar painéis novos?
Todas as empresas são responsáveis, e quando se compram módulos está implícito no preço um valor para isto. Por exemplo, quando estamos a fazer uma construção e se partem um determinado número de equipamentos, a recolha é feita por uma entidade a custo zero. Já está incorporado no preço e no processo.
“O processo de reciclagem vai ser tão eficiente que vai permitir fazer a substituição por equipamentos mais viáveis e eficientes.”
Uma das críticas recorrentes neste setor são os processos de licenciamento e burocracia. Como tem evoluído esta questão?
Eu tenho sido crítico do processo administrativo e, em conformidade, tenho de deixar de o ser. Obviamente que nós queremos sempre que haja uma maior agilidade dos serviços administrativos e regulatórios da DGEG [Direção Geral de Energia e Geologia] mas o que temos visto nos últimos tempos é que houve uma evolução muito grande. Ainda há tempos de espera que não são cumpridos, é verdade, mas deram-se passos bastante grandes e muito importantes ao nível da regulação. O que acontecia tendencialmente era que a regulação demorava muito tempo a chegar ou a acompanhar aquilo que era a necessidade da indústria. Neste momento isso já não está a acontecer. Saiu uma regulação para o autoconsumo coletivo, para as comunidades de energia, o storage já está a ser endereçado também, na mobilidade elétrica a regulação tem evoluído…. Tivemos processos que demoravam dois anos, dois anos e meio que agora se consegue resolver em dois, três meses. Portanto, desta vez não vou ser crítico, acho que evoluímos muito e é importante manter este passo e assegurar que estas entidades têm os recursos necessários para responder on time. Mas a evolução tem sido muito boa.
O hidrogénio é um tema na ordem do dia, mas precisa de muita energia para ser produzido. É exequível juntá-lo a este mix?
Eu diria que sim, mas aqui já não tão democraticamente. Porque para o produzir temos de estar perto de zonas onde possamos produzir muita energia, é preciso que ela seja excedente para poder ser usada e precisamos de ter muita disponibilidade de água. Sines é um caso onde isto poderá fazer obviamente sentido, porque existe espaço, água e há capacidade de interligação. Poderá haver outros casos em que existem áreas grandes, e estou a pensar na indústria, onde muitas vezes há muito espaço e não há muito consumo de energia, por exemplo na área logística.
Acho que ainda há muito a ser feito nesta área, confesso que ainda não estamos a olhar para isso com toda a atenção. Em 2023, provavelmente a partir do segundo semestre, vamos olhar para este tema.
Focando na Heléxia, a empresa chegou a Portugal em 2016 e tem tido um crescimento muito interessante. Por onde é que passa a vossa estratégia?
Nós replicamos na Helexia em Portugal aquilo que é o nosso core, a produção de energia e eficiência energética. Obviamente que em Portugal, como noutros países onde a Helexia está, a primeira alavanca do nosso crescimento foi o fotovoltaico. Como já referi, nesta área o processo de decisão é mais rápido, é mais fácil de fazer projetos, é mais fácil de avançar e, obviamente, de criar a sustentabilidade económica para o negócio crescer. Em Portugal também assim foi, crescemos muito no fotovoltaico e como investidores dos projetos fotovoltaicos que construímos. Em 2021/22, consequência do mercado, abrimos a porta para fazer também projetos chave na mão, projetos em que não fomos investidores, mas fizemos a engenharia, a construção, comissionámos os projetos e depois fizemos a sua operação e manutenção. Tendencialmente gostamos de ser o investidor, temos essa capacidade e queremos ajudar as empresas a fazer esta transição energética sem terem de alocar o seu capital. Acreditamos na eficiência energética e por isso optámos por fazer uma aquisição, [ver caixa] comprámos uma empresa que foi uma das primeiras a trabalhar na eficiência energética em Portugal, já o fazem há 17 anos, e já têm esta componente de conhecimento da indústria, nas várias áreas de saber. Isso é muito importante para conseguirmos dar uma resposta rápida, eficiente e séria aos nossos clientes industriais, não só para fazer a auditoria e perceber como é que eles consomem energia, mas para os ajudar num processo de descarbonização ou transição energética. Portanto, começamos agora a equilibrar um pouco o nosso foco para além da produção de energia, o nosso objetivo é cada vez mais a área da eficiência energética e prevemos que os serviços energéticos cresçam pelo menos 30 a 40% volume no nosso de negócios.
Ewen permite reforçar a área da eficiência energética
A Helexia adquiriu, em 2022, a maioria do capital (60%) da consultora portuguesa Ewen Energy, com sede no Porto e especializada em serviços energéticos e eficiência energética. A empresa portuguesa tem uma carteira de cerca de 200 clientes, que representam um consumo anual de eletricidade de 4 terawatt/hora (TWh) e mais de 17 TWh por ano de consumo de gás natural e com uma faturação de cerca de 1,3 milhões de euros.
E a mobilidade elétrica? Também estão a investir nesta área…
Sim, fizemos alguns projetos pilotos, a Helexia Portugal foi primeira a investir na mobilidade elétrica [dentro do Grupo] e agora estamos também a alavancar isso para outros países. Os primeiros projetos foram testes, foi um pouco para ver e aprender, eu diria que tivemos aqui um momento em que não nos focamos tanto nesta área, porque estávamos num processo de aprendizagem que era importante para garantirmos a sustentabilidade dos nossos projetos e do nosso modelo. Já estamos aí, fizemos o fine tuning que acreditámos que era necessário e, portanto 2023 vai ser um ano em que vamos apostar ainda mais, e chegar a mais clientes, sempre tendo em mente que nós vemos a mobilidade elétrica como não podendo estar desgarrada da produção de energia. Idealmente temos um cliente onde fazemos auditoria, ajudamo-lo a ser mais eficiente, produzimos energia e temos mobilidade elétrica. Numa lógica integrada.
A mobilidade elétrica na estrada pública não é muito o nosso foco, estamos mais orientados para a indústria, para a área de retalho, em que o carregamento elétrico funciona como um complemento à atividade, como conveniência.
Apostaram num Centro de Competências de Engenharia. Porquê?
Portugal geograficamente não é um país muito grande. Mas quando comparamos resultados entre países, no Grupo Helexia, Portugal tem um peso muito importante. Se pensarmos que o Grupo está em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Itália, Brasil e a abrir geografias como Roménia, Polónia e Hungria, Portugal representa mais de 30% quando geograficamente é um dos mais pequenos, ou provavelmente o mais pequeno destes todos… Eu não quero chegar a uma determinada altura e ver que o nosso peso diminuiu. Sabemos que o nosso mercado a determinada altura vai estar saturado, apesar de na eficiência energética ainda haver muita coisa a ser feita… O que eu percebo é que temos engenharia que é boa, tão boa ou melhor, portanto não vejo aqui nenhuma vantagem de conhecimento dos outros países, e se o pudermos fazer bem, se o pudermos fazer de forma competitiva, acho que é minha obrigação perante a minha equipa assegurar que continuamos a crescer de uma forma sustentável. E quando o mercado, porque vai acontecer, mudar e ficar saturado, nós temos capacidade para fazer outras coisas. E o que estamos a fazer é começar a vender serviços de engenharia de fotovoltaico para todos os países. Todos os estudos de fotovoltaico são feitos em Portugal pela equipa portuguesa. Há outros serviços que nós vamos querer fazer, como a gestão de ativos e a performance dos ativos em que nós somos investidores dos sistemas fotovoltaicos, desde o Brasil até a Hungria ou em África. Vamos fazer isso em Portugal e, portanto, é preciso consolidar aqui a capacidade, por um lado, de fazer engenharia e fazê-la bem feita, porque a seguir nós vamos fazer também a gestão dos ativos. E se fizermos mal a engenharia vamos ter problema mais à frente. Estamos a criar capacidade, competências, mas também garantia para os outros países de que os projetos que eles vão fazer estão bem feitos desde a génese, e que nós vamos garantir também a sua performance, e com isso fazer um centro de competências que podemos exportar.
É um fator diferenciador dentro do grupo?
É um elemento diferenciador dentro do grupo e, curiosamente ou não, é um bocadinho também o que faz a Voltália, que é o nosso acionista, que tem em Portugal o centro de engenharia e competências para os países onde opera. Obviamente em projetos diferentes, utility-scale… Nós estamos a fazer a mesma coisa, não temos um mercado para crescer, mas temos engenharia, competências, boas escolas e queremos utilizar e capitalizar isso porque conseguimos fazer, e não quero ferir suscetibilidades, mas conseguimos fazer melhor que os outros e de forma mais competitiva.
Quais são as ambições futuras da empresa?
Queremos continuar a crescer pelo menos nos próximos cinco anos, há uma estratégia de crescimento contínuo, vamos fazer algumas alguns ajustes no percurso, obviamente. Sabemos que o fotovoltaico a determinada altura vai ter de mudar, os projetos vão ser diferentes, vamos ter essa capacidade e dinâmica para ajustar. Mas vemos um crescimento muito grande a acontecer do lado de eficiência energética, existem muitas empresas, muita indústria com necessidade de conhecimento nesta área e nós temos a capacidade para ajudar a identificar o que é que pode ser melhorado, como é que podem ser mais eficientes, e mais do que isso ter a capacidade de fazer a implementação e ter a capacidade para investir e ajudar as empresas a serem mais eficientes energeticamente, sem terem de fazer investimento. Eu diria que nos próximos anos esse vai ser este o shift, ou seja, vamos ter um peso menor do fotovoltaico e vamos cada vez mais ter um maior foco do lado de eficiência energética, é isso que vai alimentar o nosso crescimento e a nossa sustentabilidade.
Qual a previsão de faturação prevista para 2023?
Em 2022 vamos fechar na casa dos 15 milhões e prevemos para o próximo ano crescer mais 30%.
“O que estamos a fazer é começar a vender serviços de engenharia de fotovoltaico para todos os países”