Os relatórios de sustentabilidade divulgados por empresas portuguesas revelaram falhas significativas na avaliação do impacto financeiro dos riscos climáticos.
A conclusão é do estudo “ESRS: lições aprendidas para o futuro”, da KPMG, que analisou os relatos de sustentabilidade de 20 empresas, e determinou que metade ainda não quantifica os efeitos financeiros associados às alterações climáticas, apesar dos progressos já alcançados.
O estudo identificou tendências, boas práticas e pontos a melhorar, ajudando a fortalecer o relato de sustentabilidade em Portugal. A KPMG comparou ainda estes resultados com os de 270 empresas internacionais que reportam segundo as ESRS, permitindo perceber como se posicionam as empresas portuguesas face ao exterior.
Segundo as ESRS, a identificação de Impactos, Riscos e Oportunidades através da Análise de Dupla Materialidade é o núcleo do reporte de sustentabilidade. Falhas como a ausência de avaliação financeira dos riscos climáticos comprometem a aplicação rigorosa deste exercício, um dos pilares da diretiva europeia, e reduzem a utilidade da informação para investidores, reguladores e mercados.
“Esta primeira vaga de reporte representa um marco importante na consolidação das práticas de sustentabilidade em Portugal. As empresas estão a adaptar-se a um normativo de relato de sustentabilidade exigente, num processo de aprendizagem que exige tempo, rigor e investimento. O verdadeiro desafio residirá em transformar estes dados em ações concretas relevantes para os stakeholders, em resiliência e em criação de valor. Há ainda uma grande margem para melhorar relativamente aos processos de recolha, de tratamento e análise destes dados”, referiu João Torres, Associate Partner de ESG na KPMG Portugal.
E continua: “este estudo revela-nos que as empresas dependem também muito das informações de fornecedores e parceiros na cadeia de valor, mas poucas descrevem, de forma detalhada, os procedimentos de recolha e validação desta informação. E é de extrema importância sublinhar que as ESRS requerem uma divulgação clara da metodologia sempre que são utilizados dados estimados ou aproximados”.
O estudo mostrou ainda que a maioria das empresas portuguesas apresentou a sua Análise de Dupla Materialidade a um nível “bastante agregado”, resultando em divulgações menos específicas e difíceis de comparar. Em contraste, oito empresas optaram por uma abordagem mais detalhada, desagregando a análise até ao nível dos sub-subtemas definidos na ESRS 1. Esta granularidade permitiu identificar com maior precisão os datapoints relevantes e produzir divulgações mais claras e eficazes sobre os IROs identificados.
As vinte empresas portuguesas analisadas consideraram a norma S1 – Mão de Obra Própria como material, tanto do ponto de vista do impacto como da materialidade financeira, evidenciando a relevância crescente da gestão de recursos humanos no contexto da sustentabilidade.
No âmbito da norma G1 – Conduta Empresarial, 16 das 20 empresas analisadas consideraram-na material, quer em termos de impacto, quer de materialidade financeira. Contudo, apenas metade definiu metas concretas e poucas apresentaram mecanismos claros para monitorizar a eficácia das políticas adotadas.
O estudo concluiu ainda que muitas empresas portuguesas já definiram metas concretas para reduzir as suas emissões de Gases com Efeito de Estufa, alinhando-se com iniciativas como a Science-Based Targets Initiative (SBTi).
Das 20 empresas analisadas, nove têm metas de curto prazo aprovadas pela SBTi, três delas com objetivos Net Zero, e duas estão em processo de validação, evidenciando um compromisso crescente com a diminuição da pegada de carbono.
Segundo a análise, este avanço na definição de metas credíveis demonstra uma maturidade crescente na integração da sustentabilidade e na adaptação às exigências das European Sustainability Reporting Standards (ESRS), acompanhando a tendência que se verifica também a nível internacional.

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