No final da década de ’90 do seculo passado, o mundo começava a acordar para a necessidade de descarbonizar e de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, em especial na mobilidade. Foi nessa altura que começaram a nascer projetos de biocombustíveis, na época, para todos os gostos. Se o Brasil produzia bioetanol, a partir de cana-de-açúcar, a Europa também poderia fazê-lo a partir de outras culturas. O mesmo no biodiesel, com o girassol e a colza à cabeça como grandes matérias-primas.
Começavam a circular os primeiros autocarros anunciando que se moviam com combustível com biodiesel adicionado. As agroindústrias cujo core eram as gorduras (óleos alimentares, essencialmente) começavam a olhar para uma nova área de negócio. Mas rapidamente se instalou a válida discussão sobre a competição entre alimentação e energia. Faria sentido utilizar terras agrícolas para produção de culturas dedicadas à produção de combustíveis? Que impacto isso poderia ter na disponibilidade e preço de alimentos tão importantes como os cereais? O tema esfriou com a regulamentação comunitária, com a introdução de critérios de sustentabilidade que basicamente proibiram a produção, na Europa, a partir de culturas agrícolas dedicadas.
Com a pressão para atingir as metas de descarbonização, os biocombustíveis ganham agora um novo fôlego, com a tecnologia de segunda geração. Trata-se de produzir a partir de resíduos e subprodutos de várias indústrias e atividades, transformando-os em biocombustíveis avançados. Ou seja, valorizar aquilo que seria lixo para produzir combustível, trabalhando circularidade e transição energética. Dos líquidos aos gasosos, a panóplia é vasta e a dinâmica parece imparável. Biogás, biometano, metanol, HVO, SAF, hidrogénio verde, o mundo das bioenergias tem várias rotas tecnológicas e especificidades. A proliferação de projetos industriais nesta área revela que este é um comboio em andamento acelerado, e que pode ser decisivo no mix energético, em especial nos setores onde a eletrificação não é solução. Vai ser preciso escalar e ganhar maturidade para perceber até onde podemos ir e com que resultados, mas esta é uma janela aberta para uma mobilidade mais sustentável. Definitivamente, os biocombustíveis estão de volta. E ainda bem!