A gestão dos recursos hídricos é um tema crucial quando falamos em promover sistemas mais resilientes e sustentáveis. E, nesta matéria, há muito para fazer de forma a trabalhar eficiências, evitar desperdícios e promover a circularidade. Mas vamos por partes.
Embora sejamos um país mediterrânico, com carências de água em muitas regiões, agudizadas em anos de secas severas, ainda gerimos este recurso de forma algo leviana. Veja-se a forma como regamos espaços verdes nas cidades, que tipo de água usamos, que tecnologias de regadio são utilizadas. Na maioria dos casos, rega-se com água potável, com aspersores mal localizados e automatismos duvidosos. A sensorização e a rega de precisão ainda não estão democratizadas nas urbes, com desperdícios brutais. Isto para não falar da escolha inadequada de espécies para os jardins públicos e espaços verdes. Começamos a observar algumas mudanças tímidas e muitas vezes alavancadas em projetos piloto que ‘morrem’ depois da fase de ensaio. Diga-se que há bons exemplos, mas, infelizmente, não são a regra.
Ainda nas cidades, com o padrão de chuvas cada vez mais concentradas, o risco de inundações aumenta e há milhares de hectolitros de água a correr para o mar, levando consigo detritos, lixo e a preciosa terra. Não há capacidade de escoamento, tão pouco de retenção desta água preciosa, que podia e devia ser armazenada para múltiplas utilizações.
Na área agrícola e industrial, as eficiências já são trabalhadas com maior robustez, até porque o binómio água e energia tem um peso direto na rentabilidade dos negócios. Mas há um longo caminho a percorrer na capacidade de reter águas pluviais, e isto não passa apenas por construir mais barragens. Passa por trabalhar interligações entre bacias hidrográficas, por simplificar o licenciamento de charcas, por trabalhar a circularidade com a utilização de águas residuais tratadas. Tal como na energia, as soluções para a gestão sustentável da água terão de passar por um mix, adequado a cada região e necessidades específicas.
Nesta edição focamos no tema da água para promover a reflexão sobre um recurso escasso e mal utilizado, para o qual é preciso encontrar soluções estruturadas, com rapidez.