Supply Chain 4.0

Etiqueta inteligente? É portuguesa, com certeza

Projeto Vi tag CeNTI scaled

Com o processo logístico cada vez mais digital, com necessidades ao que ao detalhe de informação sobre as mercadorias transportadas diz respeito, a Viatel ‘encomendou’ ao CeNTI o desenvolvimento de uma etiqueta que pudesse armazenar energia e permitir a recolha de dados. Agora, com a ‘invenção’ já na rua, mostra-se o bom resultado da colaboração entre academia e empresas. Fique a conhecer este projeto.

Com o mundo a tornar-se cada vez mais tecnológico e digital, os novos projetos neste âmbito têm surgido com uma velocidade voraz. Entre as soluções desenvolvidas no âmbito da logística e transportes, há muita inovação prestes a chegar às ‘ruas’, mas a verdade é que também Portugal se vai posicionando para dar passos no sentido de se estabelecer como produtor na área de investigação e desenvolvimento.

Se durante anos assistimos a uma chamada de atenção para a necessidade de maior ligação entre empresas e Academia, o exemplo que a LOGÌSTICA&TRANSPORTES traz nesta edição mostra como CeNTI e Viatel colaboraram para a criação da Vi-TAG, uma etiqueta RFID ativa com algumas capacidades disruptivas.

Ouvidas ambas as partes, e antes de irmos à tecnologia per si, mostra-se como pode ser profícua a ligação (crescente) entre organizações de cariz científico e organizações empresariais que, de forma acelerada, vão procurando soluções ‘independentes’ para o seu desenvolvimento tecnológico.

Paulo Soeiro

Como nos conta Paulo Soeiro, Head of Engineering and Innovation na Visabeira Global, empresa-mãe que detém a Viatel, com o processo logístico e de transporte a complexificar-se, é cada vez mais necessário tornar as operações eficientes e… os dados são essenciais. “O projeto Vi-TAG dá resposta a uma necessidade, identificada pela Viatel como uma carência interna, identificada pelo controlo de qualidade e gestão dos stocks que circulam permanentemente no interior de carrinhas de operação/distribuição e localização de equipamentos, estes stocks estão sujeitas a diferentes fatores externos tais como como a temperatura, humidade, choque/impacto, entre outros, que podem alterar ou danificar a qualidade final do produto e/ou equipamentos”, começa por explicar o gestor.

Porém, se este é um pressuposto de cariz mais tecnológico, há outro aspeto que se tornou igualmente essencial: a qualidade do serviço. “Este projeto procura otimizar a qualidade do serviço prestado atualmente pela Viatel, estimulando a criação de uma nova área de negócio paralela à atividade principal, propiciando desta forma uma resposta mais completa aos serviços já prestados”, explica Soeiro, explicando também que a rastreabilidade de todo o processo de distribuição se tornou essencial.

“A área da logística, geralmente, está repleta de situações que carecem de melhorias e redução de custos. Tal, estende-se também à gestão de stock de mercadorias, que, quando mal gerido, pode comprometer seriamente as finanças de uma empresa. Por estas razões, pretendeu-se desenvolver uma TAG-RFID, ou etiqueta, que permita monitorizar, em tempo-real, as caixas de cartão, e não só, que contêm a mercadoria, não só quando estão dentro da carrinha de distribuição, mas também quando estão fora (espaço entre a carrinha e o local de entrega)”, acrescente o responsável da Visabeira.

Tecnologia não é nova, mas esta tem valências acrescidas

Se a tecnologia RFID (radio frequency identification – identificação por radiofrequência) não é novidade, esta projeto desenvolvido com o CeNTI traz algumas novidades. É que, para se ter uma ideia, por norma, estas ‘etiquetas’ são parte passiva do processo logístico, sendo que, com a Vi-TAG, todo o processo se altera.

“Apesar de existirem no mercado outras etiquetas nomeadamente as RFID passivas, a Vi-TAG apesar de utilizar alguma da tecnologia RFID, integra bastantes outras, trata-se de uma solução inovadora com integração de sensorização ativa (temperatura e humidade), de gestão de carregamento e comunicações por eletrónica impressa, e ainda com um sistema de colheita de energia rádio (Energy Harvesting), e de armazenamento de energia, o que na verdade coloca a Vi-TAG na classe das etiquetas ativas inteligentes, e tornando Vi-TAG capaz de integrar sistemas de gestão de dados corporativos”, explica Soeiro.

Contudo, as valências deste ‘produto 100% português’ não termina aqui. É que o desenvolvimento desta solução permite, para lá das óbvias vantagens na vertente de monitorização do estado das mercadorias e da gestão da sua localização física, “ter capacidade de computação própria, capacidade de aquisição de sinais na sensorização aplicada, capacidade de suportar tecnologias de comunicação avançadas, capacidade de autocarregamento por “Energy Harvesting” e autonomia de energia. Este quadrante completo de capacidades colocam a Vi-TAG na classe de dispositivos autónomos o que a torna apetecível para qualquer aplicação de transporte complexo e/ou de alto valor”.

Aqui, sobrepõe-se um ponto que interessará a todos: assegurar que os produtos transportados não ‘perdem valor’ à medida que fazem o seu caminho até às mãos do destinatário. Mas de todo este desenvolvimento subjaz um aspeto ainda mais significativo, isto porque é um estreitar da ligação academia-tecido empresarial.

Cada vez mais interconectados para… gerar valor acrescentado

Se Portugal foi durante décadas um dos países considerado mais atrasado, no âmbito europeu, no que ao desenvolvimento interno tecnológico diz respeito, após anos de investimento e de discurso positivo, a ligação entre empresas e centros de inovação é cada vez mais.

A Visabeira assume que a parceria desenvolvida com o CeNTI se tornou essencial, dando mostras de que as duas partes podem beneficiar-se significativamente com esta ligação. “O grupo Visabeira posiciona-se como um utilizador desta tecnologia desenvolvida conjuntamente com o Centi, a qual se encontra integrada nos sistemas de gestão de dados do Grupo Visabeira, o nosso roadmap para esta tecnologia é o de realizar uma cobertura progressiva do sistema nos nossos sistemas de suporte ás operações”, explica Paulo Soeiro.

“O CENTI tem demonstrado nos vários projetos conjuntos de desenvolvimento tecnológico com o Grupo Visabeira ser uma instituição com uma capacidade científica muito elevada, conseguindo também realizar a aplicação dessa capacidade científica na entrega á Viatel de sistemas tecnológicos de grande maturidade e estabilidade, resilientes nas operações, e escaláveis á dimensão das operações da Viatel, o que á partida não é tarefa fácil”, acrescenta o gestor, terminando, de seguida, sobre este ponto. “Esta parceria múltipla entre o Grupo Visabeira e o CENTI, tem sido construída sobre vários projetos desafiantes de investigação integrada em consórcios de âmbito Nacional e Europeu, em que a equipa de investigadores do CENTI tem demonstrado de uma forma constante a capacidade de estar á altura dos desafios e das expectativas da Viatel.”

Portas abertas à partilha da ‘descoberta’

Com chegada prevista ao mercado para o próximo ano, a Visabeira não teme a partilha da solução encontra, até porque, como testemunha a empresa, esta etiqueta inteligente tem capacidade para ser usada em diversas indústrias. “Apesar dos desenvolvimentos do projeto estarem centrados na VIATEL, é objetivo do consórcio estender a tecnologia para outras empresas na área da Logística (alimentar, farmacêutica, etc).O consórcio prevê a sua colocação no mercado durante o ano de 2022”, começa por explicar Soeiro, garantindo que “a introdução desta tecnologia noutros mercados será sempre fruto de outras empresas também demostrarem interesse em aplicar funcionalmente esta tecnologia nas suas operações”.

“Nos últimos anos temos assistido a uma maior procura e abertura das empresas para a área da investigação e desenvolvimento de soluções chave-na-mão. Esta tendência irá acelerar nos próximos tempos devido à abertura de novos avisos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, mas também do P2020/P2030 e Horizon Europe. Devido a algumas ações de divulgação e até por clientes da Viatel, o consórcio tem sido contactado por outros agentes da área da logística e distribuição”, explica fonte oficial do CeNTI, lembrando que outras empresas também já colaboram com este organismo. ”O CENTI tem desenvolvido projetos para a gestão de stocks e apoio à toma de medicação na área farmacêutica, como por exemplo o WIRELOX em parceria com a Linde Saúde e o projeto DOSEA, em parceria com a Neutroplast e a BeyonDevices”, remata-se.

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