O design assume-se como um “aliado estratégico e poderoso” na concretização dos objetivos ambientais da União Europeia (UE), nomeadamente a meta de reciclar 65% das embalagens até ao final de 2025.
Esta é a principal conclusão de um estudo europeu coordenado por docentes e investigadores do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), em Coimbra, e da Academia de Belas Artes de Catânia, em Itália. O trabalho destaca o papel fundamental do design enquanto ferramenta para prolongar o ciclo de vida dos materiais, promovendo a reciclagem de resíduos e a redução do seu impacto ambiental.
Publicado em abril na revista académica Convergências, o estudo intitulado “Reutilizar para criar: Métodos alternativos de impressão de calcografia em Tetra Pak” demonstra de que forma o design pode contribuir para a redução do desperdício e impulsionar a transição para uma economia circular, através da reutilização criativa de materiais de difícil reciclagem.
Um exemplo prático são as embalagens de cartão plastificado, como as utilizadas em pacotes de leite ou sumos, cuja reciclagem é complexa e dispendiosa devido à sua composição — 75% papel, 20% plástico e 5% alumínio. No entanto, estas embalagens podem ser reaproveitadas como matrizes de gravura, permitindo a impressão de materiais de pequena escala, como cartazes, folhetos e suportes de comunicação visual com fins promocionais, promovendo assim uma alternativa com menor impacto ambiental.
“Ao reaproveitar estas embalagens como base para impressão, o design transforma resíduos em recursos sem aumentar a pegada ambiental”, afirmou Maria Luísa Costa, professora e investigadora do Instituto Superior Miguel Torga e uma das autoras do estudo.
E continua: “esta abordagem dos materiais pelo design contribui para a redução do consumo de novas matérias-primas e prolonga o ciclo de vida de objetos que, de outra forma, iriam para aterro ou seriam incinerados. O design aplica, em termos práticos, os princípios da economia circular”.
Parte do estudo assenta num workshop internacional realizado em Castelló, que funcionou como um laboratório pedagógico e experimental. Nesta atividade académica, estudantes de instituições de três países reutilizaram embalagens de cartão plastificado como matrizes de gravura, aplicando a técnica de ponta seca com tintas não tóxicas e métodos de impressão sustentáveis. A escolha deste material teve como objetivo sensibilizar os participantes para os limites da reciclagem convencional e promover abordagens criativas na reutilização de resíduos.
O artigo científico sublinha ainda o papel fundamental das universidades na promoção de soluções sustentáveis. Ao incorporarem práticas de “upcycling” e design ecológico nos seus currículos, as instituições de ensino superior têm a capacidade de formar profissionais conscientes, preparados para intervir de forma informada e responsável nos sistemas de produção e consumo.
“As metas climáticas não se atingem apenas com novas tecnologias ou diretivas legislativas”, afirmou a docente do Instituto Superior Miguel Torga, em Coimbra. Segundo Maria Luísa Costa, estas “atingem-se também nas salas de aula, nos estúdios e nos laboratórios, onde se formam os profissionais que vão redesenhar os sistemas económicos do futuro”.

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