As redes de carregamento de veículos elétricos estão a robustecer-se a um ritmo acelerado. Com um número crescente de utilizadores, a rede pública nem sempre é suficiente para suprir todas as necessidades. A Revista Sustentável foi conhecer alguns casos de empresas a atuar no mercado português que estão também a apostar na transformação das suas garagens, permitindo aos colaboradores usufruírem dessa infraestrutura, mas potenciando também a aceleração da conversão de frotas empresariais. À boleia, fomos também conhecer um empreendimento de luxo em Cascais que está, de raiz, a acomodar uma oferta eletrificada.
A revolução elétrica está em pleno andamento e as empresas em Portugal, tal como noutros pontos do globo, estão a acelerar os seus esforços para construir uma infraestrutura sólida de recarga para veículos elétricos. À medida que a conscientização ambiental cresce e as regulamentações governamentais se tornam mais rígidas, o segmento empresarial está a apostar fortemente na expansão de redes de carregamento elétrico.
Neste cenário, surge a pergunta: qual será o futuro das redes de carregamento privadas para veículos elétricos e como estão esses investimentos a moldar o panorama da mobilidade para os próximos anos e décadas?
O crescente interesse das empresas na implantação de redes de carregamento elétrico não reflete, porém, apenas uma mudança de direção rumo a veículos mais sustentáveis, mas desencadeia também uma série de transformações na infraestrutura. As garagens de muitas empresas estão a transformar-se, mas também a aposta residencial é já pensada de raiz para acomodar os elementos necessários para responder à crescente procura de pontos de carregamento.
Neste artigo, exploramos as motivações por trás desses investimentos e analisamos as implicações dessas redes para os utilizadores. À medida que a eletrificação dos veículos se torna cada vez mais inevitável, compreender como as empresas estão a adaptar-se a essa nova realidade torna-se fundamental para decifrar o futuro da mobilidade urbana.
Criar a infraestrutura para responder a uma procura crescente
Eleita start-up do ano em 2020, a EVIO tem vindo a crescer fortemente no mercado nacional e internacional. Desenvolvendo alguns projetos em parceria com a Helexia, a empresa tem sentido um crescimento da procura por parte das empresas para criação de redes internas de carregamento. “A EVIO tem atualmente muitas empresas multinacionais para as quais presta serviços quer ao nível de gestão de redes internas de postos de carregamento e de gestão de consumos de frotas. Continuamos a destacar-nos no mercado empresarial impulsionados pela nossa oferta de soluções premium e integradas que são essenciais para a gestão eficiente e sustentável de frotas elétricas e postos de carregamento”, começa por explicar Carlos Almeida, CEO da EVIO, quando instado a fazer um balanço do crescimento da empresa.
Assumindo, sem sombra para dúvidas, que “as empresas estão todas progressivamente a tornar as suas frotas mais sustentáveis através da compra de veículos elétricos que vêm substituir os poluentes”, o gestor lembra que esta reconversão de frotas tem levado ao surgimento de novas necessidades, desde logo a criação das “suas próprias infraestruturas de carregamento e redes internas, quando têm várias localizações geográficas”. Mas há benefícios em ter uma rede interna ou, fruto dos custos, ainda não compensa fazer este investimento? “Carregar internamente, além da redução de custos, permite tirar partido da própria energia renovável produzida na empresa. Nesse sentido, temos observado um aumento significativo na procura das nossas soluções de gestão integrada de carregamento elétrico”, esclarece Carlos Almeida.

“As empresas estão todas progressivamente a tornar as suas frotas mais sustentáveis através da compra de veículos elétricos que vêm substituir os poluentes”
Carlos Almeida, EVIO
Reconhecendo que parcerias enriquecem a oferta disponibilizada aos clientes, o responsável da EVIO diz que é desta forma que a empresa continua a conseguir “apostar em investigação e desenvolvimento, continuando a inovar nas nossas plataformas”, pelo que o lançamento de funcionalidades disruptivas para o mercado está completamente alinhado com a visão desta start-up em “fornecer soluções completas e inovadoras no setor da mobilidade elétrica”.
E é aqui que começa a poupança. Com o software desenvolvido pela EVIO entre funcionalidades como o controlo de carregamentos em tempo real, relatórios detalhados ou integração com sistemas existentes é também possível criar oportunidades para redução de custos através da gestão dinâmica da potência de cada posto de carregamento, bem como a utilização de energia fotovoltaica própria. “Isto permite às empresas otimizar os seus processos de carregamento e fornecer uma experiência personalizada aos seus colaboradores. As empresas podem ainda criar e customizar vários grupos de utilizadores, respetivas tarifas de utilização e realizar a gestão de acessos em diferentes postos e locais”.

Mas há mais pontos em destaque. O acompanhamento e gestão de frotas, algo que até há bem pouco tempo era um ponto trabalhoso dentro da empresa, simplifica-se com esta solução. “Através da plataforma EVIO, as empresas podem monitorizar e controlar a atividade da sua frota em tempo real”, começa por explicar. “A nossa plataforma foi concebida para tornar a gestão de consumos numa tarefa descomplicada. Com uma ampla gama de funcionalidades, é possível atribuir plafonds de carregamento por viatura ou cartão, controlar custos em tempo real, controlar kms, restringir acesso a postos de carregamento, aceder a estatísticas e extrair relatórios detalhados. Além disso, a plataforma permite a gestão centralizada de faturas, agregando carregamentos efetuados em todas as redes, rede própria da empresa, rede MOBI.E, redes internacionais e em casa dos colaboradores”, referindo Carlos Almeida que é possível através da plataforma o colaborador carregar o veículo em casa e a fatura ser imputada diretamente à empresa.
Responder aos desafios ambientais… e não só: Os casos do Bankinter e ISQ
Com objetivos e metas coletivas para atingir em termos sociais, as empresas estão também a enveredar esforços para se tornarem mais ‘verdes’. Neste sentido, o Bankinter tem operado uma transição a passo rápido para novos patamares de sustentabilidade. Como explica à revista SUSTENTÁVEL Pedro Ervilha, Membro da Comissão Executiva do Bankinter Portugal com o pelouro Financeiro, Gestão de Pessoas e Comunicação, fruto dos objetivos assumidos no Compromisso Lisboa Capital Verde Europeia 2020, bem como no Plano de Sustentabilidade do Bankinter Portugal, lançado em 2022, o Grupo “tem vindo a desenvolver ações concretas em prol do respeito pelo ambiente e sustentabilidade do planeta. Entre essas medidas incluímos, a partir de 2021, a renovação da frota a combustão para uma frota híbrida plug-in e elétrica”.
Assim, para tornar o processo de carregamento elétrico mais cómodo e prático para os colaboradores, bem como fomentar a utilização da componente elétrica da frota híbrida, o Bankinter instalou uma rede de carregamento interna em algumas instalações, “criando condições para carregamento dos veículos no local de trabalho em alternativa à utilização dos carregadores públicos”.
Além deste passo, o Grupo, em Portugal, tem vindo também a transformar a sua frota. Ainda em processo de transformação, Pedro Ervilha garante que, até ao final do ano, 100% da frota disponibilizada pela empresa será composta por veículos híbridos plug-in e 100% elétricos. “No âmbito do processo de eletrificação da frota, torna-se necessário criar condições para o carregamento das viaturas, estando em curso a instalação de postos de carregamento nas várias instalações do banco com condições para o efeito”, explica o gestor. “O banco está também a realizar um estudo para desenvolver as ações mais adequadas às especificidades de cada local. Este é um caminho que estamos a percorrer para alcançar uma frota ecológica e limpa”, assevera.

“No âmbito do processo de eletrificação da frota, torna-se necessário criar condições para o carregamento das viaturas, estando em curso a instalação de postos de carregamento nas várias instalações do banco”
Pedro Ervilha, Bankinter Portugal
João Ganchas, Gestor de Infraestruturas, Património e Frota do ISQ, também com instalação de postos nos seus edifícios, começa por explicar que esta decisão “surgiu de forma estratégica, tendo por base o processo de migração da frota do ISQ, para uma frota de maior sustentabilidade”. Neste âmbito, a empresa tem vindo a encontrar alguns obstáculos no seu percurso sustentável, isto porque o mercado ainda não tem uma oferta robusta para corresponder às necessidades de hoje. “Seria nosso objetivo transformarmos a nossa frota com uma maior sustentabilidade, mas a falta de soluções de mercado que nos permitam percorrer distâncias elevadas em espaços curtos de tempo, tem-nos dificultado essa transformação, que ainda assim temos vindo a fazer paulatinamente, de acordo com a nossa estratégia e definição de objetivo”.
Desta forma, por agora, os postos de carregamento já disponibilizados têm por objetivo, numa primeira instância, servir as viaturas do ISQ, mas, claro, “também os colaboradores que já tenham feito essa migração para viaturas particulares eletrificadas”.

“[A aposta em postos de carregamento] surgiu de forma estratégica, tendo por base o processo de migração da frota do ISQ, para uma frota de maior sustentabilidade”
João Ganchas, ISQ
Defendendo que parcerias com a desenvolvida com a Helexia Portugal asseguram uma transição mais acelerada, João Ganchas defende que, na perspetiva do ISQ, “nada se consegue atingir de uma forma isolada ou unitária, sendo a mais-valia do ISQ, a relação entre os parceiros, que também nos fortalece, para além das competências internas”.
Semelhante perspetiva é partilhada pelo Bankinter, que defende que a sustentabilidade é um tema transversal que reflete a importância de trabalharmos em rede, através de parcerias. “Alinhados com a mesma visão, o Bankinter Portugal e a Helexia uniram-se com um só propósito: minimizar o desperdício e o respetivo impacto no planeta. As soluções integradas e sustentáveis da Helexia permitiram-nos melhorar o uso, a exploração e a produção de energia. É desta forma que pretendemos manter esta parceria, contribuindo para uma transição energética, sustentável e bem-sucedida”, sintetiza Pedro Ervilha.
Legacy Cascais: O luxo também se eletrifica
O Legacy Cascais, um projeto desenvolvido pela Reformosa, é um condomínio fechado com todas as comodidades de um hotel de luxo onde se apostou em espaçosos estacionamentos subterrâneos, com vagas privativas para todos os apartamentos, ladeados por garagens semi-privadas. Neste espaço, estão instalados carregadores para veículos elétricos, uma infraestrutura indispensável para um projeto desta dimensão. “A Reformosa está empenhada em proteger o ambiente, e ser um exemplo a seguir no mercado nacional. Somos uma empresa cada vez mais direcionada para a sustentabilidade, seguindo também o padrão cada vez mais presente em toda a Europa. Portugal não poderá ficar para trás nesta transição sustentável”, explica-nos fonte oficial da empresa.
Apresentando ao mercado três tipos de tipologia imobiliária/residencial (apartamentos, townhouses e hotel), tentámos perceber como o Legacy Cascais pensou a mobilidade elétrica e, nomeadamente, os postos de carregamento, atendendo a que o tipo de utilização pode ser muito diversificado. “Depende muito do utilizador final, do qual não temos um grande controlo. Devemos sim estar preparados para uma utilização diária para todas as tipologias. Para facultar uma melhor performance para o presente e futuro, colocámos os carregadores das townhouses ligados diretamente a cada moradia e os apartamentos ligados às zonas comuns, existindo um posto de gestão de energia e de dados para posteriormente ser gerido pelo condomínio”, explica-nos a mesma fonte.
Com a possibilidade de crescentes necessidades, tentámos também perceber de que forma, neste espaço privado, é essencial estar ‘ligado’ a um parceiro que permita escalabilidade. Neste âmbito, a Reformosa afirma-se satisfeita com o trabalho desenvolvido com a Helexia Portugal, lembrando que depois de uma fase de adaptação, “irão com certeza surgir dúvidas e parte do sucesso da implementação destas medidas sustentáveis é garantir soluções e a apoio. Isto dará credibilidade ao sistema e confiança aos seus utilizadores, fulcral para a continuidade do projeto”.

Esta rubrica tem o apoio de Helexia

