A partilha do espaço público, com maior peso dos peões, é uma realidade que se está a tornar mais visível em grandes cidades como Paris e Barcelona. Em Portugal, começam a surgir alguns exemplos, que vão além da mera pedonalização de uma rua, mas ainda aquém do resto da Europa.
É no Porto que nasce uma das experiências, intitulada Rede 20. A Câmara Municipal do Porto vai implementar uma rede de percursos prioritários para meios de mobilidade suave que abrange cerca de 30 quilómetros de arruamentos e estabelece, em alguns casos, uma velocidade máxima de circulação automóvel de 20 quilómetros por hora.
A primeira fase começou no Centro Histórico, com a implementação de medidas “dissuasoras de velocidade” em 12 dos 30 quilómetros de arruamentos, tais como a colocação de sinalética e a elevação do espaço destinado à circulação automóvel. As ações a desenvolver serão concretizadas num horizonte de três anos, à medida que o centro deixe de sofrer os condicionalismos decorrentes das obras de metro em curso.
“No final deste plano vamos ter 30 quilómetros de ruas condicionadas ao automóvel, seja totalmente pedonal, com zonas de acesso condicionado ou zonas com velocidade reduzida. Dentro da Rede 20 cabem todas essas tipologias de arruamento”, afirmou, em comunicado, o vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, acrescentando que “57% dos arruamentos deste território vão ser condicionados ao uso do automóvel”.
Já em Lisboa, nomeadamente em Campo de Ourique, nasceu a ideia de um “superquarteirão”. Resultante das obras de expansão da Linha do metro naquela zona, um grupo de cidadãos sugeriu transformar as ruas que convergem no Jardim da Parada em zonas de coexistência e de acesso local, e por suprimir todo o tráfego em torno do jardim. Dessa forma, seria possível criar um “superquarteirão” constituído pelo jardim e pelos oito quarteirões envolventes.
Em setembro, a Junta de Freguesia de Campo de Ourique, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, testou durante nove dias a ideia de um “superquarteirão”, após primeiros testes pontuais em junho (circulação automóvel cortada) e julho (alargamento das esplanadas e do espaço público”. A ideia é menos ambiciosa que a proposta pelo grupo de cidadãos. Foi prolongado o Jardim da Parada até às fachadas dos prédios, aumentando o espaço público para usufruto das pessoas de 5,4 para 9,7 para mil metros quadrados – isto sem fazer qualquer obra, apenas com a interdição da circulação e estacionamento automóvel.
Durante os nove dias, as ruas e os cerca de 90 lugares de estacionamento em redor do jardim foram ocupados com as esplanadas dos estabelecimentos da zona e uma série de atividades familiares.
Mais recentemente, o autarca esclareceu, em entrevista ao SAPO24, que “estamos a testar o alargamento do Jardim da Parada, fachada a fachada. Chamamos “aqui há mais bairro” e é mais uma experiência de place-making do que “superquarteirão”.
Além disso, afirmou que “não adoro o conceito de ‘superquarteirão’. Havia um conceito de ‘superquarteirão’, mas não é esse que estamos aqui a testar. E não testámos nunca. Um ‘superquarteirão’ alarga um quarteirão e projeta nos quarteirões envolventes”.
Uma solução definitiva foi prometida para depois das obras do metro, que deverão durar ainda três anos.
A Junta deseja que futuramente a circulação em qualquer rua de campo de Ourique seja restrita aos 30km/h, retirar o tráfego de atravessamento, apostar em 100% de passeios livros de automóveis, ter uma árvore em cada esquina, ter passadeiras seguras e acessíveis.
Já na freguesia de Santo António, a Praça da Alegria recebeu um “superquarteirão” em moldes diferentes. Entre abril e junho, foi encerrada a envolvente da Praça da Alegria aos carros no último domingo de cada mês.