A Ervideira – uma das empresas vitivinícolas seculares em Portugal, que produz vinho desde 1880 – tem primado pelo pioneirismo ao apostar em métodos e produtos inovadores no País ou na região do Alentejo. Assim, decidiu focar-se nos topos de gama, o “que obriga a ter muito mais investimento em estágio, e a médio prazo (três a quatro anos) nos obrigará a ter mais espaço físico para armazenamento: mais cubas, mais barricas e mais espaço de estágio de garrafas”, afirma Duarte Leal da Costa.
O diretor executivo da Ervideira, produtor alentejano sediado na Herdadinha (Reguengos de Monsaraz), explica-nos que “desde que se deu o início da crise, entendemos que apenas acompanhar o mercado seria um caminho difícil, (senão um caminho de suicídio), pelo que decidimos focarmo-nos nos vinhos que dificilmente os outros são capazes de produzir”. Duarte Leal da Costa, o rosto da empresa familiar, adianta que “temos então invertido por completo a pirâmide de produção de vinhos, crescendo em vinhos topo de gama” e acrescentando: “isto obriga a Ervideira a ter mais espaço de inovação e obriga a ter muito mais investimento em estágio, o que a médio prazo (três a quatro anos) nos obrigará a ter mais espaço físico para armazenamento: mais cubas, mais barricas e mais espaço de estágio de garrafas”.
O responsável destaca a “enorme eficiência [da empresa] em termos de logística”, uma vez que “qualquer encomenda que nos chegue até às 13:00 horas, será entregue no dia seguinte, em qualquer ponto de Portugal continental, ou numa semana nas Ilhas e na Europa” e salienta que “temos sempre vinhos prontos, engarrafados e paletizados para entrega imediata, o que faz de nós uma das empresas mais eficientes do setor de produção de vinhos”.
O armazém da Ervideira “tem capacidade para cerca de 200.000 garrafas, mas como vendemos bem mais do dobro, temos de recorrer ao armazém de secos e, acima de tudo, a uma rotação do armazém, que é quase um sistema FIFO, mas que não podemos considerar em plenitude”, refere o diretor executivo à LOGÍSTICA & TRANSPORTES HOJE.
O “armazém de ‘secos’: garrafas, caixas, etc., não tem estantes, e encostado à zona de engarrafamento temos o armazém de produto acabado com um sistema de estantes drive-in. Todo o stock está informatizado sendo possível fazer balanço na hora. Qualquer engarrafamento faz reduzir automaticamente o stock de garrafas, rótulos, caixas, etc., e aparece de imediato no armazém de acabado, o mesmo acontecendo com a faturação que imediatamente abate o stock”, acrescenta.
Duarte Leal da Costa faz ainda questão de frisar que a Ervideira “é uma em presa nacionalista”, comprando a grande maioria dos materiais fornecedores nacionais.
Produtor reestrutura vinhas até 2020
A empresa alentejana vinifica as uvas provenientes do Monte da Ribeira e da Herdadinha, propriedades da família Leal da Costa – que remonta até ao Conde de Ervideira, que recebeu o seu título do rei Carlos I em reconhecimento pelo seu trabalho social na região –, e começou a produzir vinho em 1880. Hoje são 160 hectares de vinha – 110ha na Vidigueira, para os Brancos, e 50ha em Reguengos de Monsaraz – que dão origem aos vinhos da Ervideira. “Aqui [em Reguengos] vamos ter rega mas vamos deixar as melhores terras sem ela”, explica-nos Manuel Leal da Costa, irmão de Duarte e também sócio da Ervideira, que nos acompanhou na visita.
O produtor tem agora um plano de reestruturação das vinhas, que irá implantar até ao ano 2020, pois pretende reforçar as vendas dos vinhos topo de gama, área em que tem tido maior crescimento. “Já tivemos, produções de 1,1 milhões de quilos, mas hoje temos algumas vinhas velhas que estão a reduzir drasticamente a produção, pelo que estamos a reestruturar vinhas quer em Reguengos, quer na Vidigueira”, diz Duarte Leal da Costa, adiantando que “a adega está estruturada para trabalhar 1,4 milhões de quilos, o que é praticamente equivalente a 1,2 milhões de garrafas, sendo que esta produção de vinhos tem sempre que estar repartida pelos diversos pontos: barrica, cubas de inox, garrafas em estágio e vinhos rotulados prontos a sair”.
Uvas ‘viajam’ em camião refrigerado
O diretor executivo conta-nos também que o transporte das uvas “da Vidigueira até Reguengos é efetuado recorrendo às empresas Transportes M. Silvério e Transbesouro, tendo sido a Ervideira a primeira empresa portuguesa, em 2000, a transportar as uvas em camião refrigerado”. E explica: “trouxe este tipo de transporte, pensando na Austrália, onde chegam a transportar uvas a mais de 600 km de distância”. Duarte Leal da Costa lembra ainda que “a uva é um produto fresco que deve ser trabalhado imediatamente após ser recolhido e com a temperatura mais fresca possível. Por isso, pensámos que se colhêssemos de noite estaríamos a trabalhar com temperaturas mais baixas, e se imediatamente após ser colhida, a uva fosse colocada em camião refrigerado, não só estaria ao abrigo da luz como estaria a baixar mais a sua temperatura, fatores importantes para que não existam fermentações nem oxidações indesejadas”.
O responsável frisa que “isto obriga a que o camião esteja disponível 24 sobre 24 horas, e apenas se consegue com ligações muito estreitas com os parceiros transitários”.
A área de transporte é a única que em todo o esquema de produção (desde as uvas à vinificação), que a empresa não trata diretamente. “Sempre a Ervideira procurou ser um produtor ‘integral’, ou seja, temos todo o ciclo e não alugamos ou recorremos a prestação de serviços, mas nos transportes optámos por não ter, por isso recorremos à TorresTir que, desde há vários anos, tem sido um parceiro inseparável, dada a sua eficácia”, considera.
Aposta em distribuidores regionais
A empresa trabalha diretamente os grandes clientes, nomeadamente hipermercados, “neste caso apenas trabalhamos com Continente e Pingo Doce”, mas “em Portugal temos 12 clientes distribuidores regionais”.
O diretor executivo do produtor alentejano explica que “como política da empresa, queremos estar mal em todo o lado! O que quero dizer com isto? Queremos ter o nosso mercado pulverizado o que, por um lado, nos dá um fortíssimo potencial de crescimento mas, por outro, se por qualquer motivo perdermos um cliente, esse acontecimento nunca provocará qualquer problema na empresa”.
A empresa tem uma linha de engarrafamento, com capacidade de 15.000 garrafas/dia, “pelo que não trabalha todos os dias, e é a mesma equipa que faz todos os processos de vinificação, desde a receção de uvas até à sua expedição, diria eu quase numa ‘estrutura familiar’”, refere, salientando que a Ervideira efetua também “muitos testes de controlo, em cada fase diferente: desde a qualidade das uvas e sua maturação, quer durante a fermentação, estágio, engarrafamento, até quase à expedição. Procuramos ter um controlo muito apertado e recorremos a auditorias externas para que estejamos sempre a ser avaliados quanto à nossa qualidade e controlo”.
S de Sol é referência campeã
A produção da Ervideira tem rondado as 700.000 garrafas, “mas temos possibilidade de aumentar, porque vendemos vinho a granel”, refere Manuel Leal da Costa, sendo a referência campeã o S de Sol (para mercados como Bélgica, Holanda, e Alemanha), “mas as marcas que mais se têm notabilizado são sem dúvida o Invisível, Vinha D’Ervideira e Conde D’Ervideira, com taxas de crescimento nos vinhos premium, verdadeiramente notáveis e que nos deixam a sorrir para um bom futuro que se pretende”, afirma o produtor.
A empresa procura apostar mais no canal HoReCa, porque “nas grandes superfícies ou as marcas são muito fortes ou apenas se afirmam pelas promoções, que deixam os produtores sem margem”, considera o responsável, adiantando que, por agora, “apenas temos o Lusitano Seleção Tinto nas cadeias Continente e Pingo Doce”, mas admite disponibilizar mais referências no futuro.
Vendas de 2M€ em 2016
A Ervideira registou vendas de 1,7 milhões de euros em 2014, “prevemos 1,8 M€ em 2015 e em 2016 a aposta será passar a barreira dos 2 milhões, que acredito ser relativamente fácil de atingir, dado a trajetória que temos agora”, adianta.
O produtor vitivinícola do Alentejo registou uma faturação de cerca de 885 mil euros nos primeiros seis meses de 2015, registando um crescimento de 2% face ao período homólogo. Desta faturação, dois terços dizem respeito à especial dedicação que a empresa tem dado aos mercados externos, nomeadamente Brasil, China, Alemanha, Holanda e Luxemburgo.
Respondendo à questão de quais os países em que quer apostar a médio prazo, o responsável defende que “a exportação não é mais do que encontrar mais mercados onde vender os nossos vinhos e reduzir a dependência de mercados que sejam muito fortes”, salientando que “seguramente que gostaríamos de melhorar muito nos Estados Unidos e Canadá, mas gosto de dar passos pequenos e consistentes, bem como entrar nos mercados pela qualidade, diferenciação e nunca pelo preço, assim não abriremos novos mercados em que o que nos é pedido é preço”.
A Ervideira exporta mais de 60% da produção, para cerca de 20 países, sendo em 2015 a Europa a região mais forte, quando no ano passado foi o Brasil e há dois anos Angola. Também lá fora, a empresa procura “sempre estar bem no canal HoReCa, se bem que estamos a atingir alguns supermercados que nos estão a procurar para fornecer volumes de vinho de gama média / superior”.
Portugal fica com mais de 30% da produção, “é por isso o nosso melhor mercado e onde gostamos mesmo de ser bem reconhecidos pela consistência da excelência dos nossos vinhos”.