Economia

Os receios de uma curva em “L”

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A economia mundial vai enfrentar a pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Esta constatação é difícil ser contrariada e, segundo o estudo “Reopening the world: Beware of false steps”, recentemente publicado pela Euler Hermes, o PIB mundial poderá atingir os -3,3%, em 2020, equivalente a uma perda de mais de 8,3 biliões de euros. Trocado por miúdos: a soma do PIB da Alemanha e do Japão. O cenário, antecipam os economistas, será mais de duas vezes pior do que o da crise financeira global de 2009.

Neste sentido, lê-se na mesma análise, só em 2020, as perdas com o abrandamento do comércio mundial podem chegar aos 3,2 biliões de euros. Apesar de os Estados estarem a tomar medidas sem precedentes de apoio às empresas, as insolvências vão crescer pelo quarto ano consecutivo, e na ordem dos 20% (+25% nos EUA, +15% na China e +19% na Europa) e o volume de negócios das empresas terá quebras de entre -30% e -40% no segundo trimestre de 2020, em relação ao período homólogo, nomeadamente na Zona Euro.

A análise revela ainda que, só na Zona Euro, existem cerca de 70 milhões de trabalhadores abrangidos por medidas de desemprego parcial. Nos países onde este regime se limita a cerca de seis meses, como acontece em Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica ou Reino Unido, até um terço destes trabalhadores estão em risco de perder o emprego até ao final do ano, sobretudo em setores em que o regresso à normalidade será muito lento, como hotéis e alojamento, viagens ou comércio de retalho.

Assim, estima-se que a taxa de desemprego na Zona Euro aumente 2 pontos percentuais, para 9,5% em 2020. Espanha será o país mais afetado, com uma taxa de 18,5%. Itália deverá atingir os 11,8%, França, os 10,5% e Alemanha, 6%. No Reino Unido, estima-se que a taxa de desemprego quase duplique, subindo de 3,8% para 6%.

Para Portugal, a Comissão Europeia projetou, recentemente, uma taxa de desemprego de 9,7% em 2020, correspondendo a um agravamento de 3,2 pontos percentuais face a 2019.

De “U” a “L” em sete passos
Apesar de o cenário base ser o de uma recuperação em “U”, os analistas da Euler Hermes alertam para a possibilidade de a retoma ser mais lenta, e de a crise se prolongar. Se for esse o caso, a contração da economia portuguesa pode situar-se nos -17% em 2020 e nos -3% em 2021. Nesse contexto, as estimativas de inflação são de -1% este ano e -0,1% em 2021.

O estudo elenca sete fatores que podem levar a uma recuperação em forma de “L”. Em causa estão i) o surgimento de uma segunda vaga do vírus, que levaria a que a economia mundial ficasse abaixo dos níveis pré-crise até ao final de 2021; iii) a manutenção de um clima de incerteza no longo prazo, que atrasaria o investimento e aumentaria as poupanças dos consumidores, por precaução; ii) erros políticos, como  apoio insuficiente dos bancos centrais ou uma partilha desadequada dos encargos orçamentais entre os países da Zona Euro, podem desencadear uma recaída e uma crise das dívidas soberanas; iv) uma crise bancária ou do setor imobiliário, que poderia levar a um aumento muito significativo dos empréstimos de alto risco e do não pagamento por parte de empresas com dificuldades de liquidez; v) uma má gestão das desigualdades sociais, resultando num aumento do descontentamento das populações e em tensões políticas, sobretudo nos mercados emergentes; vi) cadeias de abastecimento mais curtas, que conduzem a medidas protecionistas à escala global e resultam em margens de lucro estruturalmente mais baixas; vii) risco moral elevado (de mudança de comportamento dos agentes económicos), que pode traduzir-se num risco coletivo de maior inflação, reestruturação da dívida e aumento dos impostos.

Para evitar uma crise prolongada, os economistas consideram essencial que se assegure liquidez (a mercados, bancos e empresas) e se reforce confiança dos consumidores nas instituições.

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