O porto de Roterdão é o maior porto marítimo da Europa e até 2002 foi o porto mais ativo do mundo. Atualmente tem de lidar com a concorrência de outros grandes portos à escala mundial, como Singapura e Xangai. Como vê o papel do porto de Roterdão no futuro?
Preparámos a visão do porto de Roterdão para 2030 com diferentes cenários que influenciam o maior ou menor crescimento do porto. Temos de ser honestos, há vários cenários. Por exemplo, se existir um aumento do preço do petróleo então temos de reconhecer que não vamos crescer tanto quando gostaríamos. Por outro lado, quando olhamos para as tendências de desenvolvimento das vias de transporte atualmente, percebemos que temos oportunidade de crescer. Porque temos dois clusters: um cluster industrial que é muito importante e, por outro lado, uma função logística de hub muito atrativa. Nesse sentido temos a ambição e a esperança de crescer nos próximos anos porque somos o hub da Europa. O porto de Roterdão movimenta hoje 450 milhões de toneladas por ano. Em 2030 esperamos chegar aos 475 milhões de toneladas, num cenário pessimista, ou aos 750 milhões de toneladas, num cenário otimista.
Quais são as principais linhas do vosso plano estratégico?
Ter uma posição competitiva muito forte na Europa e torná-la cada vez mais forte. Os dois elementos essenciais para criar um hub global passam por criar uma cadeia logística fantástica e um cluster industrial europeu para empresas que querem investir e ter lugar nesse cluster.
Não existem verdadeiras ameaças por parte de outros portos europeus?
Temos concorrentes, Antuérpia e Hamburgo são os números dois e três na Europa e temos de ser realistas. Claro que gostaríamos de conseguir a carga deles e eles a nossa mas sabemos que temos de cooperar pois juntos temos uma voz mais forte na Europa.
Como vê a posição do porto de Roterdão à escala mundial? É inevitável uma diminuição do peso face aos portos asiáticos?
Na minha opinião é necessário que a Europa consiga competir como um continente face aos mercados emergentes, India, Rússia, Brasil, em parte a Ásia. Talvez no futuro não olhemos para Roterdão mas sim para a Europa como um delta, constituído por Hamburgo, Antuérpia e Roterdão. O nosso trabalho também é pensar maior e ver a Europa como um continente competitivo face ao americano e ao asiático. O acordo de livre comércio entre a União Europeia e os EUA é importante pois estamos a criar mais mercado livre e a reduzir as barreiras comerciais.
Tem opinião formada sobre a competitividade dos portos portugueses? Se sim, quais são os maiores desafios que os portos nacionais enfrentam, na sua opinião?
Posso dar-lhe a minha opinião sobre os portos do sul da Europa. É sempre um tema sensível porque há algum tipo de competição entre o Norte e o Sul da Europa. As restrições no Norte da Europa são muito mais fortes do que no Sul e isso é injusto mas, por outro lado, o mercado europeu está dividido entre o Noroeste, que vale cerca de 70%, e o Sul, que representa 30%. Existe esta discussão sobre como a Europa deve dividir o dinheiro no que respeita aos projetos de investimento para eliminar os estrangulamentos das vias de transporte. É um assunto sensível. O que nós, portos do noroeste europeu, dizemos à Comissão Europeia é: “vejam como aplicam o dinheiro pois a rota mais eficiente para o transporte de contentores é através dos portos do noroeste europeu”. Claro que isto cria discussões com os portos do sul. Mas o importante, e a Comissão Europeia fez muito bem, foi criar uma rede integrada de transporte constituída por 9 corredores conectados que ajudam a ligar o Norte e o Sul. O porto de Roterdão é parte de três destes corredores: Reno-Alpine, que liga Roterdão a Génova, e que é para nós o corredor mais importante, Mar do Norte – Mediterrâneo e Mar do Norte – Báltico. Temos de louvar essa ambição da Comissão.
Leia esta entrevista na íntregra na edição de Novembro/Dezembro da LOGÍSTICA & TRANSPORTES HOJE