Fora do acordo ficou a principal exigência dos profissionais do setor, que pediam uma baixa de preços nos combustíveis.
A Associação Nacional de Transportes Rodoviários de Mercadorias – ANTRAM, a Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas – ANTP, e a Associação de Transportadores de Terras, Inertes, Madeiras e Afins – ATTIMA garantiram assim, numa reunião conjunta com representantes do Governo no Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que será aprovada uma resolução em Conselho de Ministros esta quinta-feira, dia 17 de março, com vários dos benefícios que os camionistas pediam.
Governo não cede nos combustíveis
No acordo assinado lê-se que será garantida a “majoração dos custos dos combustíveis para efeitos de IRC extensível ao ano de 2012, com um aumento para 140%”, assim como a “introdução de descontos no pagamento de portagens no âmbito das Scut, designadamente através da modulação horária, admitindo-se descontos até 10% no período diurno e 25% no período noturno”. Foi ainda acordada uma proposta de lei para a alteração do Código Imposto Único de Circulação (IUC), sendo agora possível abrir um regime excecional de cancelamento da matrícula caso o veículo esteja imobilizado por falta de serviço, e à criação, no prazo de 15 dias, de uma Comissão Interministerial para estudar o processo de fusão e concentrações de empresas. O Governo manteve-se fiel, no entanto, à sua palavra, quando prometeu não ceder ao pedido sobre o preço dos combustíveis.
Acordo é “desilusão continuada” para alguns
O resultado das negociações pareceu não agradar a todos. Em Leiria vários empresários mostraram-se desiludidos e, segundo relata a agência Lusa, não se observaram reações de satisfação no itinerário complementar 2, local onde desde segunda-feira camionistas e empresários iniciaram o protesto. António Morais, empresário de Pombal, afirmou mesmo que é uma “desilusão continuada” o resultado das negociações, e que a iniciativa de protesto “não adiantou nada”.
De referir que uma das condições para a consumação do acordo era o levantamento da paralisação mas o protesto, para além de parecer manter-se nas ruas, acabou por se transformar em revolta. Para já existe o relato de que mais de 20 veículos da Torrestir foram vandalizados e apedrejados, em vários pontos do país, “com especial enfoque na região do Algarve, Leiria, Coimbra, Aveiro e Lisboa”, depois de tentarem retomar a marcha para fazer a distribuição de encomendas, refere aquela empresa. “As viaturas em causa, apedrejadas enquanto circulavam na A1, estavam devidamente identificadas com sinalética nas lonas e uma cruz vermelha que alertava para o tipo de mercadoria transportada”, explica. “Trata-se de viaturas de transporte de medicamentos e, por isso, carga urgente”, explica Fernando Manuel Torres, business manager do grupo Torrestir. Segundo o responsável, “apesar de cumprirmos a paralisação, havia um acordo com as associações promotoras, a ANTP e a ATTIMA que viabilizava a circulação dos medicamentos, até pelo facto de se tratar de mercadoria prioritária”.
Consequências de uma paralisação
A Associação Portuguesa de Operadores Logísticos (APOL) divulgou um comunicado onde se mostrava “profundamente preocupada” com as consequências da paralisação e o “clima de insegurança que se sente”. Acrescentando que poderia estar “em causa” o “abastecimento de bens à população”. A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) manifestou-se entretanto com espírito idêntico: “de uma forma geral, os associados da APED conseguiram assegurar o abastecimento à população, embora existam situações pontuais em alguns dos associados da APED onde se estão a verificar dificuldades no abastecimento”.
Também a Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL) já se fez ouvir por considerar que o setor do leite poderia vir a sofrer “elevados prejuízos com a manifestação”: “Como é do conhecimento público, a fileira do leite atravessa atualmente um período de fortíssimas dificuldades e esta paralisação gerará elevados prejuízos ao setor, seja pelas dificuldades do levantamento de leite das explorações e de encaminhamento desse leite para as unidades industriais, seja pela dificuldade de fazer sair os produtos das fábricas e os encaminhar para os circuitos comerciais”.
A Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APERTO) salientou durante a paralisação que as empresas suas associadas “têm continuado a proceder à distribuição de combustíveis, embora tenham ocorrido alguns atos isolados de apedrejamento dos carros tanque e algumas ameaças verbais”.
À paralisação dos transportadores de mercadorias convocada na passada segunda-feira, em Pombal, acorreram cerca de 400 empresas do setor.