A agricultura regenerativa é uma solução promissora para produzir mais alimentos, utilizando menos recursos, com práticas mais sustentáveis. O projeto TomAC – Agricultura de Conservação em Tomate Indústria é um exemplo de um modelo de produção sustentável que está a ser testado no Ribatejo.
Os agricultores confrontam-se com um enorme desafio: produzir mais alimentos, utilizando menos recursos, com práticas mais sustentáveis. A agricultura regenerativa é uma solução promissora para este desafio. Trata-se de uma abordagem integrada que visa melhorar a saúde do solo, promover a biodiversidade e capturar dióxido de carbono da atmosfera. Estas práticas agrícolas regenerativas e de conservação, combinadas com o uso de novas tecnologias de proteção das plantas contra pragas e doenças e com o cultivo de variedades vegetais mais resilientes às alterações climáticas, são um caminho para uma agricultura sustentável, sem diminuir a produtividade da terra.
A agricultura regenerativa engloba práticas tradicionais de conservação, como a cobertura vegetal do solo durante todo o ano, a rotação de culturas, a mobilização mínima do solo ou sementeira direta, a integração de animais e plantas no mesmo sistema produtivo, resultando na melhoria da estrutura e da fertilidade do solo, na retenção de água e na ciclagem de nutrientes.
Mitigar as alterações climáticas
As práticas de agricultura regenerativa têm também o potencial de mitigar os efeitos das alterações climáticas na agricultura. Solos saudáveis, férteis e equilibrados retêm maior quantidade de carbono, que é fixado no solo pelas raízes das plantas, contribuindo para a redução das emissões de gases com efeito de estufa. Além disso, estes solos têm maior capacidade de retenção de água, tornando-os mais resilientes à seca e à escassez de água, reduzindo a vulnerabilidade da agricultura às alterações climáticas.
A importância de apoiar os agricultores
Embora a transição para a agricultura regenerativa seja imensamente promissora, é crucial reconhecer os desafios que os agricultores enfrentam durante este processo transformador. Muitos agricultores trabalham com margens de lucro muito reduzidas, o que dificulta o investimento em novas práticas ou tecnologias. A UE e os governos nacionais devem investir em mais apoio financeiro e em assistência técnica para facilitar a transição dos agricultores para práticas mais regenerativas.
São necessárias novas tecnologias para promover a agricultura regenerativa, como os novos produtos químicos fitofarmacêuticos de ponta, o controlo biológico ou os bioestimulantes. O mesmo acontece com as novas técnicas de melhoramento vegetal, a agricultura digital e a agricultura de precisão, mas infelizmente todas elas enfrentam múltiplos obstáculos à sua introdução no mercado. Se estes obstáculos não forem rapidamente ultrapassados, as novas tecnologias não estarão disponíveis a tempo de ajudar na transição para a agricultura regenerativa do maior número possível de agricultores.
Partilha de conhecimento e colaboração
O caminho para esta agricultura sustentável exige partilha de conhecimento e colaboração entre agricultores, investigadores, empresas da cadeia de valor alimentar e decisores políticos. Em Portugal, o projeto TomAC – Agricultura de Conservação em Tomate Indústria é um exemplo dessa colaboração, investigando a aplicação de práticas regenerativas para melhorar a sustentabilidade agronómica, ambiental e económica da cultura do tomate para indústria. Refira-se que Portugal exporta tomate transformado no valor de 330 milhões de euros/ano.
O consórcio do TomAC é constituído pelo MED-UÉvora, o AG-Innov – Centro de Excelência do Grupo Sugal, a APOSOLO – Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo e a Syngenta. Este projeto é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pela Syngenta.
O TomAC estuda a viabilidade da aplicação dos 3 princípios da Agricultura de Conservação (1 – mínima perturbação do solo; 2 – cobertura permanente do solo com plantas ou resíduos vegetais; 3 – rotação e diversidade de culturas) como alternativa ao atual sistema de produção de tomate em monocultura, com intensa mobilização do solo, e solo descoberto no inverno.

Agricultura Regenerativa – Campo de tomate plantado sobre um solo enriquecido com os restos vegetais da cultura anterior.
O ensaio decorre num campo de produção de tomate com 12 hectares, na Lezíria de Vila Franca de Xira, e tem a duração de quatro anos. O consórcio encontra-se a testar uma nova forma de plantar o tomate, mobilizando o solo apenas na linha da plantação e deixando a restante extensão de solo intacta e coberta com resíduos de gramíneas e leguminosas semeadas no outono. Também se está a avaliar a rotação bienal de culturas, entre tomate, girassol e milho. O girassol e o milho são instalados por sementeira direta, sem mobilizar o solo.
Pedro Jiménez, coordenador do AG-Innov, considera que “a agricultura de conservação é atualmente um tema fulcral, visto que vivemos alterações climáticas constantes, escassez de recursos, e imposições políticas agrícolas que nos obrigam a olhar de forma diferente para as nossas culturas. No AG-Innov, estamos convencidos de que este tipo de projeto reúne um conjunto de possíveis soluções para estes desafios, sejam eles a nível de melhoramento da qualidade e estrutura do solo, redução de operações e, acima de tudo, procurar alternativas sustentáveis à prática da cultura do tomate de indústria que nos permitam de forma eficiente aproveitar ao máximo os nossos recursos”.
Felisbela Campos, responsável de Sustentabilidade da Syngenta em Portugal, afirma: “na Syngenta acreditamos que atuando em parceria podemos caminhar mais rapidamente para criar um sistema alimentar mais sustentável na Europa, produtivo e com menos emissões, numa conjuntura de enormes desafios climáticos. O projeto ‘TomAC’ é um exemplo perfeito de cooperação baseada na Ciência ao serviço da Agricultura Regenerativa”.

Projeto TomAC – Esta máquina mobiliza o solo apenas na linha onde são instaladas as plantas de tomate. A fertilidade e a estrutura do solo são preservadas. Campo em Vila Franca de Xira.