Biodiversidade

“É urgente proteger as espécies que mantêm as engrenagens ecológicas a funcionar”

“É urgente proteger as espécies que mantêm as engrenagens ecológicas a funcionar” iStock

A atividade humana está a provocar a perda de espécies a nível global, afetando todos os ecossistemas do planeta e comprometendo o papel dos animais que asseguram o equilíbrio e a resiliência da natureza. É a conclusão de um estudo internacional, considerado o mais abrangente já realizado sobre biodiversidade.

Publicada na revista Nature, a investigação, liderada por cientistas do Instituto Federal Suíço de Ciência e Tecnologia Aquática (EAWAG) e da Universidade de Zurique, analisou dados de mais de 2.000 estudos científicos, cobrindo cerca de 100.000 locais em todos os continentes.

“É urgente proteger as espécies que mantêm as engrenagens ecológicas a funcionar. Sem elas, colocamos em risco não só os ecossistemas, mas também o bem-estar humano”, sublinhou a equipa de investigação responsável pelo estudo.

Os cientistas descobriram que as alterações induzidas pelo ser humano, nomeadamente a destruição de habitats, a poluição, as alterações climáticas e a introdução de espécies invasoras, reduziram, em média, 19% o número de espécies nos ecossistemas afetados.

“Estamos a observar um declínio generalizado da biodiversidade, causado pela atividade humana, que está a acontecer em todos os lugares do mundo, não apenas em áreas isoladas,” afirmou uma das autoras do estudo e investigadora da Universidade de Zurique.

A análise abrangeu cinco fatores de declínio: mudança de habitat, exploração direta de recursos (como caça ou pesca), alterações climáticas, espécies invasoras e poluição.

A equipa de investigadores analisou habitats terrestres, de água doce e marinhos, além de incluir todos os grupos de organismos, como microrganismos, fungos, plantas, invertebrados, peixes, aves e mamíferos.

O estudo mostrou ainda que os mamíferos, répteis e anfíbios são os grupos mais vulneráveis, tendo estes grupos sofrido grandes perdas em diversidade local, “o que pode comprometer o equilíbrio ecológico de regiões inteiras”, alertam os cientistas.

“Sabíamos que o impacto humano era significativo, mas não tínhamos uma visão global comparável até agora. Este estudo fornece uma imagem clara e preocupante do que está a acontecer com a biodiversidade em todo o mundo”, sublinhou a autora.

Além da perda de espécies, os cientistas alertam também para a diminuição das funções ecológicas desempenhadas por elas, como a polinização, a regulação do clima ou a fertilidade dos solos, enfatizando que a ausência destas funções pode comprometer a capacidade dos ecossistemas de se adaptarem a novas pressões ambientais.

Os autores sublinham que as estratégias de conservação devem ser repensadas, com foco não só nas espécies ameaçadas, mas também naquelas que garantem a resiliência dos ecossistemas. O estudo sugere ainda que decisões políticas e económicas devem integrar esta perspetiva, com base científica, para travar a perda de biodiversidade.

“Não estamos apenas a perder espécies — estamos a perder os alicerces que mantêm os nossos ecossistemas vivos. É tempo de agir com base em dados, e este estudo mostra-nos exatamente por onde começar”, concluíram os cientistas.

Não perca informação: Subscreva as nossas Newsletters

Subscrever