O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA – também conhecido como UNEP na sigla em inglês) apresentou um roadmap que permite diminuir a poluição do plástico em 80% até 2040 e adotar uma economia circular do plástico. O relatório surgiu no âmbito das negociações para um acordo global de combate a este tipo de poluição, que se iniciam a 29 de maio em Paris.
A mudança para a economia circular resultaria numa poupança de 1,27 biliões de dólares (1,18 biliões de euros), considerando as receitas e custos. Seriam ainda poupados 3,25 biliões de dólares anuais (3,03 biliões de euros) adicionais por evitar-se custos relacionados com a litigação e com a degradação da saúde, clima, poluição do ar e do ecossistema marinho. A mudança resultaria em 700 mil empregos novos até 2040, principalmente em países com baixos rendimentos.
Como fazer a transição?
O document “Turning off the Tap: How the world can end plastic pollution and create a circular economy” sugere, primeiramente, eliminar todos os plásticos problemáticos e desnecessários para reduzir o tamanha do problema.
Depois, o relatório aponta que é necessário fazer mudanças em três sentidos:
- Reutilização: promover as opções de reutilização, incluindo garrafas com sistema refill, dispensadores a granel, sistemas de depósito e reembolso, sistemas de retoma de embalagens – pode reduzir em 30% a poluição plástica até 2040. Para tal, seria necessário os governos incentivarem a reutilização.
- Reciclagem: Se a reciclagem se tornar um negócio mais estável e rentável, pode diminuir a poluição em 20% até 2040. A eliminação de subsídios para os combustíveis fósseis, a adoção do ecodesign e outras medidas poderia aumentar a percentagem de plásticos economicamente recicláveis de 21 para 50%.
- Reorientar e diversificar: Substituir cuidadosamente produtos como invólucros plásticos, saquetas e itens de takeaway por produtos feitos de materiais alternativos (como o papel ou materiais compostáveis) poderia contribuir para uma diminuição adicional de 17% da poluição plástica.
Mesmo tomadas as medidas acima, 100 milhões de toneladas métricas de plásticos de produtos descartáveis e de curta duração ainda precisariam de ser tratados com segurança anualmente até 2040.
Para solucionar esse problema, o relatório sugere o estabelecimento e implementação de normas de conceção e segurança para a eliminação de resíduos de plástico não recicláveis e da responsabilização dos fabricantes pelos produtos que libertam microplásticos, entre outros.
O investimento necessário
Os custos de investimento para a mudança sistémica recomendada são de 65 mil milhões de dólares (60,56 mil milhões de euros). O valor é inferior às despesas sem esta alteração sistémica: 113 mil milhões de dólares (105,28 mil milhões de euros) por ano.
A PNUA aponta que parte deste montante pode ser mobilizado através da transferência dos investimentos planeados para novas instalações de produção – que deixaram de ser necessários devido à redução das necessidades de materiais – ou de uma taxa sobre a produção de plástico virgem para a infraestrutura circular necessária.
O relatório deixa um alerta: “Um atraso de cinco anos pode levar a um aumento de 80 milhões de toneladas métricas de poluição plástica até 2040”.
Os custos mais elevados, tanto numa economia descartável como na economia circular, são operacionais.
“Com a regulamentação destinada a garantir que os plásticos são concebidos para serem circulares, os regimes de responsabilidade alargada do produtor podem cobrir estes custos operacionais para assegurar a circularidade do sistema, exigindo que os produtores financiem a recolha, a reciclagem e a eliminação responsável dos produtos de plástico em fim de vida”, aponta o documento.
O relatório recomenda ainda a existência de um enquadramento fiscal global, que poderia fazer parte das políticas internacionais para permitir que os materiais reciclados compitam em pé de igualdade com os materiais virgens, criar uma economia de escala para soluções e estabelecer sistemas de monitorização e mecanismos de financiamento.