Vivemos dias atribulados. Uma guerra na Europa, uma crise energética, inflação generalizada e um conflito no Médio Oriente cujos contornos e consequências ainda não conhecemos. Tudo isto é válido e merece reflexão sobre o necessário equilíbrio entre as medidas para proteger a economia e a sustentabilidade financeira das empresas e o igualmente necessário investimento na transição ecológica.
Como costumo dizer, é necessário fazer prevalecer o fator bom senso. Mas isso não pode significar sacrificar o caminho da sustentabilidade, numa altura em que os sinais que nos chegam começam a alertar para uma desaceleração.
As estratégias mais importantes do Green Deal estão a ser ‘empurradas’ para uma calendarização incerta. Algumas delas desapareceram mesmo e não se sabe se vão ficar na gaveta ou ressuscitar em breve. O que se sabe à data, depois de consultado o programa da Comissão Europeia para 2024, é que apesar do executivo frisar o apoio ao Pacto Ecológico Europeu, as propostas para a transição no sistema alimentar europeu não vão ser discutidas no próximo ano. E a tão falada revisão da legislação de bem-estar animal vai ficar reduzida a uma proposta sobre a proteção dos animais durante o transporte.
Não está em causa se os setores estariam preparados para as mudanças anunciadas (na verdade nunca estão), nem se o timing seria o ideal. Está em causa deixar para trás o propósito do Green Deal e recordo, citando: “transformar a União Europeia numa economia moderna, eficiente na utilização dos recursos e competitiva, garantindo que é possível acabar com as emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050(…)”.
Concordo que a ambição das propostas iniciais pode estar desajustada com a realidade da maioria das empresas, mas também sabemos que sem esse arrojo nunca se darão passos concretos para chegar aos objetivos de desenvolvimento sustentável. Porque é disso que se trata, conciliar desenvolvimento e crescimento com uma utilização sustentável dos recursos. E isto só se consegue apoiando, capacitando e financiando esta transição, mas sem medo de fazer o que é preciso ser feito.