A apresentação do serviço Pro+ da Renault Portugal foi o pretexto para uma conversa com o diretor-geral da marca no nosso país. No mercado que, cada vez mais, fala de soluções alternativas aos tradicionais veículos de combustão, Fabrice Crevola, admitiu à LOGÍSTICA&TRANSPORTES HOJE que são as cidades e não tanto os países que estão a tomar a dianteira no combate às emissões.
A eletrificação veio para ficar. Qualquer que seja o fabricante automóvel é, hoje, obrigado a ter no seu portfólio uma oferta de veículos elétricos. O advento do e-commerce veio alterar – em muito – esta equação para os operadores que efetuam as entregas e Fabrice Crevola, diretor-geral da Renault Portugal, salienta que, no futuro, há que olhar para a logística de uma forma diferente.
Que estratégia é que a Renault possui para Portugal, conhecidas que são as tendências em torno das soluções de combustíveis alternativos para os Veículos Comerciais Ligeiros (VCL’s)?
Hoje, falar de mobilidade, de VCL’s, da questão do last mile e de como iremos entregar nos centros das grandes cidades, passa obrigatoriamente pela questão da eletrificação dos veículos.
Já existem muitas cidades na Europa que proíbem o acesso ou limitam o acesso a veículos de combustão, diga-se, diesel, mas nos particulares. Contudo, sabemos, também, que essas limitações, mais tarde ou mais cedo, irão chegar aos comerciais. Daí ser muito importante antecipar e não estar à espera de algo que todos sabemos que irá acontecer.
Por isso, temos de preparar tecnologias, produtos e outras soluções de futuro que podem passar por outro tipo de formas de entrega.
No futuro, não vai ser possível fazer entregas nos centros urbanos com os atuais veículos e, principalmente, com a logística atual.
Mas dentro do portfólio da Renault e dada a problemática das entregas nos grandes centros urbanos, há que pensar mais em soluções do tipo Kangoo em vez de Trafic ou Master?
Sim, isso está a ser pensado. Com o desenvolvimento do e-commerce e da rapidez com que é necessário entregar os produtos, o volume, e não tanto o peso, é primordial.
Isso leva-nos a saber que a solução Kangoo que temos hoje não vai ser suficiente no futuro. Vamos ter de oferecer soluções maiores e, por isso, é que já temos como primeira solução o Master elétrico que, contudo, não foi pensado de raiz, tratando-se de uma adaptação do Master atual.
Posso hoje dizer que a futura geração do Master, que já está a ser trabalhada, terá toda a componente de eletrificação no seu ADN.
Em termos de mercado, Portugal é muito diferente dos restantes mercados mais desenvolvidos nesta questão da eletrificação?
Na verdade, hoje é complicado comparar diretamente os países, porque na verdade, não são os países que fazem a diferença, são as cidades. Não sei se é uma tomada de poder, mas são as cidades que estão a tomar as iniciativas e são elas que estão a dar os passos mais importantes.
Nós já nos reunimos com os responsáveis de cidades como Lisboa e Porto que estão a dar passos importantes nesta questão, mais nos veículos particulares do que nos comerciais.
A questão da autonomia
Uma questão indissociável aos veículos elétricos é a autonomia dos mesmos. Como é que explicam ao vosso cliente a poupança que poderá ter com um veículo elétrico, apesar da questão da autonomia?
A problemática é mais do que a autonomia real, passa, fundamentalmente, pela organização da logística. Os nossos parceiros vão ter de mudar a sua organização no futuro. Não vão poder continuar a pensar que vão fazer entregas tal como fazem hoje. Hoje em dia, um furgão pode circular durante todo o dia, os carros elétricos de hoje não podem, ou melhor, não conseguem, dadas as limitações de autonomia.
O nosso papel é ajudar o cliente com o desenvolvimento de carros com autonomia cada vez maior, mas também com outras soluções. Estamos a trabalhar numa solução de carro elétrico, mas com um pequeno motor a diesel que vai servir para recarregar a bateria durante a utilização, ou seja, um range extender.
Não vamos ter, nos próximos tempos, furgões com 500 km de autonomia. Em 2050, não sei, mas para já, isso é impossível.
Por isso, vamos ter de arrancar com soluções já existentes. Nós somos muito pró-ativos, as câmaras também e os nossos clientes idem. E todos já perceberam que, quem não fizer nada, quem não apostar na investigação e desenvolvimento, vai ficar para trás e perder.
Antigamente, podia fazer-se e ter vantagem, ou seja, “can do”. Hoje, tem de se fazer ou morrer-se, ou seja, vivemos no “must do”. Quem fizer em primeiro, ficará em vantagem.
Há toda uma perceção e toda uma obrigação de se passar a mensagem da sustentabilidade em, praticamente, tudo. O setor automóvel não é diferente?
Sim, os próprios clientes e a sociedade em geral está a mudar. Há 10 anos ninguém fazia questão de saber como é que o meu novo telemóvel seria entregue. Quero receber e pronto. Hoje já não é assim. As pessoas já se preocupam em saber se a entrega é feita de forma mais ou menos amiga do ambiente.
O operador, hoje e no futuro, terá de saber passar a mensagem real de que está preocupado com as questões ambientais e nós fabricantes temos de saber responder às exigências dos nossos clientes.
Quem nos diz que no futuro, não tão distantes, os operadores logísticos não terão de oferecer a possibilidade dos seus clientes escolherem a forma como o seu artigo será entregue? E eventualmente até cobrar um pouco mais, e aqui reforço o pouco mais, por essa entrega ser feita com zero emissões.
Elétrico ou não
Mas relativamente às tecnologias ou soluções que estão a ser pensadas em alternativa ao diesel, não existe só a eletricidade. Há outras?
Sim, há outras e a Renault está a trabalhar em todas. Não é por termos sido os primeiros a lançar o carro elétrico que reduzimos os investimentos em I&D noutras soluções.
O nosso compromisso e papel é tentar antecipar e trabalhar com todas as tecnologias alternativas.
Nós já somos os especialistas nos carros elétricos, mas para o ano vamos lançar carros híbridos, quer no Clio – o carro mais vendido na Europa -, no Kaptur – que é o segundo carro mais vendido na Europa – e também no Mégane.
Por isso, além dos veículos elétricos, estamos a trabalhar noutras tecnologias. É obrigatório e é uma das vantagens que temos na Renault com a aliança com a Nissan.
Está-se a avançar mais agora nesta última década do que se avançou nos últimos 50 anos?
Diria que sim e de forma muito mais rápida. A mobilidade não mudou assim tanto, já existem automóveis há mais de 100 anos. Mudou-se muito no interior do carro, depois veio a questão da evolução dos motores a diesel e gasolina, mas os últimos 20 anos, em termos de desenvolvimento e tecnologia, tem sido muito mais rápido e exigente.
Por isso, digo que temos de preparar e investir em diferentes soluções para o futuro e não numa só. O facto de sermos líderes em vários segmentos, permite-nos investir em várias tecnologias, de forma a estar na linha da frente. Os construtores mais pequenos não possuem esta capacidade que temos enquanto Renault e Aliança.
Enquanto nós somos os pioneiros, existem os “seguidores”, os “followers”.
Quando acha que os veículos elétricos poderão atingir uma quota de mercado “interessante” dentro da própria Renault?
O ganho de quota vai ser muito mais rápido nos veículos de passageiros quando comparado com os comerciais. 50% da gama de passageiros vai ser eletrificada até 2022.
Além das soluções das energias alternativas, existe, também, a questão dos veículos autónomos onde, naturalmente, também estamos a trabalhar.
Mas na questão da automatização dos veículos, essa está mais dependente das infraestruturas existentes?
Sim, e por isso é que não vai ser tão rápido. A tecnologia é muito cara, mas já existe. Contudo, é preciso toda uma infraestrutura nas cidades para que possamos ver veículos autónomos a circular. Poderemos ver a automotização dos veículos em armazém, dentro das fábricas, mas nas cidades vai levar ainda muito tempo. Aliás, essa tecnologia autónoma já está no terreno, mas como digo, em ambientes controlados e fechados.
O pós-venda de veículos eletrificados é diferente? Há serviços novos a prestar, soluções diferentes a oferecer?
Sim, claramente. A manutenção de um veículo elétrico é muito diferente e reduzida face a um carro térmico. Não existem filtros, óleos, é uma manutenção diferente, até na tecnicidade da mesma.
Vamos deixar de ter mecânicos para ter engenheiros de software a fazer a manutenção dos veículos?
É quase isso. As formações que vamos dar à nossa rede de concessionários tem de ser diferente. A manutenção de um Zoe não é igual a uma 4L do antigamente. A própria atividade dos concessionários vai ser alterada.
Muito vai passar, também, pelos serviços conectados que passaremos a oferecer não só enquanto marca automóvel, mas também através de outras soluções como, por exemplo, aa nossa financeira RCI.
O e-commerce veio impulsionar as vendas de VCL’s?
Claramente. O advento do comércio eletrónico veio dar um novo impulso aos serviços de entregas e, com isso, os VCL’s ganharam e ganharão. E no caso português o potencial do e-commerce é enorme, já que a penetração ainda é muito reduzida.
Por isso, antevejo um futuro risonho para os VCL’s e, naturalmente, que a Renault cá estará para liderar este mercado com todas as suas soluções e tipologias de veículos.
Um show de Kangoo Z.E.
Durante a apresentação da estratégia da Renault para o seu programa PRO+ para o mercado nacional, os responsáveis pela marca gaulesa no nosso país levantaram um pouco do véu do que será o próximo Kangoo Z.E.. Tratando-se ainda de um show-car, urbano e elétrico, que antecipa a renovação da gama Kangoo esperada para 2020, este modelo, ainda concept, representa a visão de um workshop de mobilidade que pode ser adaptado às mudanças do trabalho e dos modos de mobilidade.
De design tecnológico e distintivo, o concept Kangoo Z.E. apresenta, junto da grelha totalmente transparente e envidraçada, uma nova assinatura luminosa, com uma linha que junta as duas óticas em forma de C, especifica da gama Renault e que envolve o logotipo Renault ao centro. Uma linha luminosa envolve as laterais e traseira do concept Kangoo Z.E., o que enfatiza o aspeto tecnológico do veículo.
Visto como um objeto eletrónico, o design do concept Kangoo Z.E. reflete-se no acabamento refinado e cuidado de diversos equipamentos: painéis interiores, vidros, óticas, painéis das portas, grelha frontal, etc. As grelhas dos para-choques frontais e traseiros apresentam um design que fazem lembrar os aquecedores para dispositivos eletrónicos.
Veículo-robô concebido para a logística urbana
Num mundo em que a crescente urbanização fará com que, até 2030, mais de 70% da população resida nas cidades, não é apenas a circulação das pessoas que se impõe repensar. É também uma nova era que se abre para a circulação de produtos: rapidez, flexibilidade e fiabilidade são as novas expetativas dos consumidores, numa altura em que o número de compras online cresce exponencialmente. Esta procura por ritmos de entregas cada vez mais acelerados e rigorosos é acompanhada por condicionantes regulamentares cada vez mais restritas nas cidades e nos centros urbanos.
Esta visão é materializada pelo Renault EZ-PRO. Um protótipo de um veículo-robô vocacionado para a logística urbana da “Última Milha”. 100% elétrico, conectado, autónomo e partilhado, o EZ-PRO é composto por dois elementos diferentes designados por ‘pods’, baseados na mesma plataforma altamente personalizável e que pode ser adaptada para uma grande diversidade de utilizações e formatos.
O protótipo Renault EZ-PRO acompanha a evolução do tradicional motorista/distribuidor para a sua nova função de assistente. Aquele que organiza e supervisiona as entregas de uma frota completa de veículos, a partir do seu espaço de trabalho móvel.
De acordo com os responsáveis da Renault, o EZ-PRO representa uma solução de transporte de produtos ou mercadorias e de fornecimento de serviços adaptada a uma vasta gama de exigências comerciais específicas, destinando-se, assim, aos especialistas da distribuição e da logística da “Last Mile”, mas também aos artesãos, empresários e comerciantes que exercem atividade na cidade e no centro urbano.
Um novo ecossistema
O ‘pod principal’ do protótipo EZ-PRO pode efetuar entregas e, graças ao assistente, está apto a “conduzir” uma frota de ‘pods auxiliares’ e a supervisionar as respetivas entregas.
É composto por duas partes distintas: uma cabina reservada ao assistente e um compartimento de carga para as mercadorias transportadas.
O ‘pod principal’ está dotado de funções de condução autónoma que permitem ao assistente dedicar o máximo do seu tempo à supervisão e à organização das entregas dos vários ‘pods’, ou concentrar-se em outras tarefas de valor acrescentado.
A cabina, com um design simples e ergonómico, dispõe de um cockpit evolutivo, com duas configurações de utilização: uma posição lateral, que serve de escritório móvel, e uma posição orientada para a frente para controlar a condução.
Um joystick permite ao assistente dirigir e manobrar o veículo, quando o modo autónomo não está ativado.
Os ‘pods auxiliares’ do protótipo EZ-PRO utilizam a mesma plataforma rolante que o ‘pod principal’, mas são totalmente moduláveis, em função dos pedidos dos clientes.
Os ‘pods auxiliares’ funcionam de forma totalmente autónoma, sem condutor a bordo. Estes veículos são reversíveis, sendo a cor dos faróis (branco à frente e vermelho atrás) indicadora do sentido de deslocação.
Estão equipados com portas laterais que se abrem para cima, de forma a dar acesso ao compartimento de carga ou ao espaço de serviço, consoante a respetiva configuração.