A propósito da recente distinção com o prémio Carreira atribuído pela Logística & Transportes Hoje, José Luís Simões comenta, em entrevista, o estado da arte do setor, os grandes desafios e as tendências que irão garantir a competitividade no futuro. Como sublinha, com a logística em “processo de transição” para “avançar para modelos de negócio mais competitivos”, a sustentabilidade e a logística 4.0 “são os principais desafios do setor”.
José Luís Simões foi a personalidade distinguida, no final de novembro do ano passado, nos Prémios LOGÍSTICA & TRANSPORTES HOJE, em reconhecimento do seu percurso profissional e da sua contribuição para o desenvolvimento da logística e transportes portugueses.
Ao cabo de mais de 45 anos a assumir a gestão de uma empresa que, como defende, se baseia na veneração pelo trabalho e no foco no cliente, o presidente do Conselho de Administração da Luís Simões (LS) defende que esta “é uma empresa de pessoas”. Elas são o “ativo mais valioso” do operador logístico de referência em Portugal e em Espanha que, num mercado em constante evolução e adaptação, “desde há muito aposta na tecnologia ao serviço das operações”, investindo na modernização de processos e operações.
A par de um modelo de negócio assente na inovação, a LS foca-se na inevitável sustentabilidade, tendo atualmente em curso 17 iniciativas, através das quais estima uma redução de 370,3 toneladas de CO2e.
O que significa para si a distinção com o Prémio Carreira atribuído pela Logística & Transportes Hoje, e que o destaca como a personalidade com maior mérito no setor?
Receber esta distinção é, sem dúvida, motivo de enorme orgulho. Representa o reconhecimento de muitos anos de dedicação ao setor da logística por parte de uma empresa de origem familiar que nasceu há 70 anos e que hoje é líder nos fluxos de transporte rodoviário e um operador logístico de referência na Península Ibérica.
Este prémio não é só motivo de alegria a título pessoal. Representa a dedicação e o esforço de todos e cada um dos colaboradores que fazem parte da Luís Simões, e que tornaram possível o crescimento da companhia, ano após ano. Sem eles não estaríamos a celebrar 70 anos de história. O nosso esforço e a nossa entrega para cumprir a missão de sermos o melhor operador logístico e de transportes da Península Ibérica refletem-se diariamente no nosso trabalho, sempre que conseguimos conquistar a confiança dos nossos clientes, que contam connosco como parceiro estratégico tanto em Portugal como em Espanha.
Como se enquadra a sua visão de liderança baseada no valor e talento das pessoas como condição essencial para criação de riqueza no atual contexto marcado por desafios globais e tecnológicos? Face a esse contexto, que novo significado ganha uma gestão estratégica assente na segmentação, na aposta na competitividade e na inovação como fator de sobrevivência?
A Luís Simões é uma empresa de pessoas. Elas são o nosso ativo mais valioso. Juntos, e com base em pilares tão relevantes para uma organização como a inovação e a sustentabilidade, estamos a construir um modelo de negócio responsável e sustentável de longo prazo. Tudo isto, aliado ao know-how acumulado nestes 70 anos, permite-nos posicionar-nos como um operador de referência no setor logístico à escala ibérica.
Por outro lado, o setor logístico encontra-se num importante processo de transição, em que as empresas estão a adaptar as suas operações desde a base com o objetivo de avançar para modelos de negócio mais competitivos, nos quais a sustentabilidade se converte num fator estratégico. Assim, a inovação revela-se como elemento-chave para garantir uma evolução e um crescimento sustentados e sustentáveis.
Na Luís Simões acreditamos que a inovação é fundamental para garantir a competitividade, e um elemento diferenciador que permite situar-nos na vanguarda do setor. É, de facto uma constante da LS. Desde há muito apostámos na tecnologia ao serviço das operações, investindo montantes consideráveis na renovação e modernização de processos, operações e nos próprios Centros de Operações Logísticas (COL).
Na sua opinião quais são as principais tendências e desafios nos transportes e logística, e quais deverão ser as grandes preocupações dos gestores neste setor?
Como comentava, o setor logístico, em geral, encontra-se num processo de mudança e adaptação tanto a novos requisitos do mercado como dos consumidores, que são cada vez mais exigentes.
A sustentabilidade e a logística 4.0 são os principais desafios do setor hoje em dia. Para além disso, tendências em alta (como a logística para o e-commerce) vão ser fundamentais para garantir a competitividade do setor no futuro. A flexibilidade e capacidade de adaptação às necessidades dos nossos clientes, que demandam uma cada vez maior e mais rápida capacidade de reação e resposta, são elementos fundamentais para continuar na senda do crescimento e para definir as tendências logísticas.
Investir em inovação
Ao longo da última década a Luís Simões totalizou um investimento de 100 milhões de euros em inovação nos seus Centros de Operações Logísticas e Plataformas Logísticas a nível ibérico, incluindo um investimento de 17 milhões de euros, em 2017, num novo modelo de Centro de Operações Logísticas em Espanha. Com que resultados está a empresa a implementar o automatismo como mecanismo operativo e estratégia diferenciadora?
A Luís Simões aposta desde sempre na inovação. Resultado deste compromisso é o investimento de mais de 100 milhões de euros na última década. Foi um esforço relevante, destinado à renovação, adaptação e/ou abertura de Centros de Operações Logísticas em todo o território ibérico, tendo como elemento diferenciador a automatização. O nosso objetivo é e será consolidar a nossa posição de liderança em Portugal, respondendo sempre (ou mesmo antecipando) às necessidades e expetativas dos nossos clientes e de um mercado em constante mutação.
A automatização foi uma das grandes apostas da empresa na área da logística, uma vez que aumenta a eficiência e otimiza os processos e operações, o que nos permite oferecer aos clientes um serviço diferenciador e de qualidade, num mercado cada vez mais competitivo.
A implementação de soluções automatizadas permite-nos imprimir maior rapidez e eficácia nas operações, assim como aumentar a produtividade, garantindo sempre a segurança, o rigor e a flexibilidade. Desta forma a Luís Simões consegue ganhos de eficiência, ao mesmo tempo que se adapta às novas tendências, oferecendo um serviço integral aplicado a toda a cadeia de abastecimento.
Que tecnologias destaca, entre as já implementadas no vosso armazém automático do Carregado ou no COL em Cabanillas, por exemplo, como a ferramenta tecnológica que permite automatizar a expedição de paletes ou os equipamentos suspensos que libertam espaço no solo para operações tradicionais? Em que medida estas tecnologias têm permitido à empresa ganhar eficiência e responder às novas exigências dos clientes, sem incorrer num aumento de custos?
Investimos cerca de 10 milhões de euros para o arranque do nosso COL (Centro de Operações Logísticas) de Cabanillas del Campo. Conta com ferramentas tecnológicas que permitem a automatização na expedição de paletes e soluções especialmente adaptadas aos requisitos da logística para o e-commerce. Este novo modelo, aliado a soluções como o pick & put to light, consegue melhorar o rácio de produtividade nas operações de alta rotação, como é o caso do comércio eletrónico, já que incrementa a eficiência em funções como o picking e reduz ao mínimo a probabilidade de erro.
Por outro lado, já em 2008, e com um investimento de 30 milhões de euros, a Luís Simões pôs em marcha o COL do Futuro, no Carregado, um armazém automático único no mundo, uma vez que o equipamento automatizado circula suspenso a 19 metros de altura e não sobre carris, como é habitual neste tipo de centros. Este armazém tem capacidade para 56 mil paletes e circulação in/out de 600 paletes/hora. Neste espaço tudo funciona de forma autónoma 24 horas por dia, sete dias por semana. Uma das principais vantagens da circulação suspensa é a possibilidade de utilizar o primeiro nível para operações logísticas com pessoas, combinando a atividade automatizada com a convencional.
O COL de Leixões, com cerca de 23 mil metros quadrados e capacidade para mais de 35 mil paletes, conta com um sistema inovador de Radio shuttlle, racking system via wifi, sistema de armazenagem semiautomático de alta densidade, carga e descarga de alta precisão e tempos de carga reduzidos.
Destacamos a nossa aposta em Guadalajara como centro nevrálgico e espinha dorsal de todas as operações realizadas em Espanha, transformando a província num ponto estratégico para a empresa. No nosso compromisso com Guadalajara, vamos inaugurar um novo centro no polígono Puerta Centro Guadalajara no primeiro trimestre deste ano. O COL, com 89 mil metros quadrados e capacidade para cerca de 180 mil paletes, é composto por três armazéns, um deles totalmente automatizado.
Sendo já incontornável que a otimização dos negócios depende hoje de tecnologias como a automatização e a inteligência artificial, como crê que está Portugal a acompanhar esta evolução no setor da logística e transportes?
Vivemos atualmente numa era em constante transformação, a que os setores da logística e do transporte não são exceção. A revolução tecnológica está a chegar a todas as indústrias e é fundamental que saibamos acompanhar as alterações do mercado. Abraçamos o desafio de agregar valor a toda a cadeia de abastecimento através da melhoria contínua, com a capacidade de responder tanto às exigências dos clientes como às da sociedade em geral.
Portugal pode ter um papel fundamental no impulso das novas tecnologias aplicadas à logística, mas para isso é necessário que todos quantos somos atores neste setor de atividade trabalhemos na mesma direção. Na Luís Simões continuaremos a desenvolver o nosso modelo de negócio tendo a inovação e a sustentabilidade como eixos transversais a toda a companhia, contribuindo assim para situar Portugal como país na vanguarda da logística e prescritor de tendências futuras.
Desafios ambientais
Como encara as atuais transformações do setor no que respeita às novas exigências ambientais decorrentes dos desafios climáticos? Na sua opinião qual será o combustível do futuro e como estão os transportes, a distribuição e a logística a adaptar-se a esta nova realidade?
A estratégia da Luís Simões baseia-se no compromisso inequívoco com a sustentabilidade, nas suas vertentes económica, social e ambiental. O futuro passa inevitavelmente por tecnologias mais limpas e menos dependentes de combustíveis fósseis. Investimos cada vez mais em novas soluções de transporte e armazenagem que proporcionem ao mercado respostas responsáveis que marquem pela diferença.
A adaptação do setor da distribuição e logística passa pela implementação de frotas mais sustentáveis e menos contaminantes, de que destacamos veículos como os Gigaliners, ou combustíveis alternativos como o GPL/GNL. Para além disso, a criação de infraestruturas mais amigas do ambiente também são investimentos a ter em conta numa sociedade cada vez mais exigente em termos ambientais.
Que medidas está a desenvolver a LS no âmbito da sua responsabilidade ambiental (utilização de energias limpas, aposta em entregas nas horas de vazio, etc.), e que metas têm a curto e médio prazo nesta matéria?
Na Luís Simões estamos conscientes de que um dos grandes desafios que enfrenta o setor é a transição para um modelo logístico mais sustentável, e por isso temos em curso vários projetos, que constam do nosso relatório anual de sustentabilidade. São 17 as iniciativas atualmente em curso, através das quais estimamos uma redução de 370,3 toneladas de CO2e. A título de exemplo, com o Projeto Ecodriving conseguimos reduzir 16% das emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) nos últimos dez anos.
Fomos também pioneiros na utilização sustentada de Gigaliners na Península Ibérica. Estes reduzem a emissão de GEE em 30%, uma vez que a capacidade de carga de dois Gigaliners equivale a três veículos convencionais, contribuindo assim para a redução da taxa de consumo de combustíveis fósseis e das emissões de GEE. Isto representa uma redução de 203 toneladas de CO2e/ano.
Podemos dizer, orgulhosos, que o nosso compromisso com o meio ambiente se materializa de forma muito concreta na renovação da nossa frota nos últimos anos. Iniciámos em 2014 um novo ciclo de renovação da frota e adquirimos viaturas com motorização EuroVI, nomeadamente oito Gigaliners. Em 2016 introduzimos 212 veículos Euro VI, e em 2017 mais dois Gigaliners para operarem em Espanha. Completámos o investimento com a aquisição de 300 semirreboques, para garantirmos uma frota jovem, mais económica, mais sustentável e mais segura. Atualmente a frota da Luís Simões é composta em 97% por veículos com motores Euro V e Euro VI.
Como encara o investimento em mobilidade – urbana (redes de Metro), rodoviária, ferroviária e aeroportuária – anunciado no âmbito do PNI 2030, cuja maior aposta estratégica é nos transportes e mobilidade, para os quais o Governo calcula ser necessário investir mais de 12 678 milhões de euros entre 2020 e 2030?
Não temos comentários a fazer a este respeito. Estamos a trabalhar num modelo de negócio sustentável no tempo, sempre atentos às novas tendências e ao enquadramento socioeconómico do setor.
Como perspetiva a criação do novo aeroporto do Montijo, no que respeita ao impacto e mais-valias que poderá significar para o setor da logística e transportes? Com a continuidade do aeroporto da Portela, onde devem ficar as operações logísticas, considerando que se trata de duas realidades totalmente distintas?
Este não é um tema para a Luís Simões. Estamos demasiado ocupados a trabalhar para colocar Portugal na vanguarda do setor logístico.