Capital Natural

Investigação revelou o impacto oculto da atividade humana na natureza

Um estudo internacional, com a participação de investigadores da Universidade de Coimbra, revelou que a vegetação natural em várias regiões do mundo carece de espécies que poderiam estar presentes, especialmente em áreas significativamente afetadas pelas atividades humanas. iStock

Um estudo internacional, com a participação de investigadores da Universidade de Coimbra, revelou que a vegetação natural em várias regiões do mundo carece de espécies que poderiam estar presentes, especialmente em áreas significativamente afetadas pelas atividades humanas.

A investigação, liderada pela Universidade de Tartu, na Estónia, foi publicada na revista Nature e envolveu mais de duas centenas de cientistas da rede DarkDivNet.

A investigação, que analisou plantas em quase 5.500 locais distribuídos por 119 regiões do planeta, identificou o conceito de “diversidade escura” — a ausência de espécies nativas que, apesar de serem potencialmente adequadas para o ecossistema, não estão presentes.

Através desta abordagem, os investigadores conseguiram compreender o impacto invisível das atividades humanas na vegetação natural e medir quanto da diversidade potencial estava efetivamente presente em cada local.

Desta forma, o estudo revelou que, em regiões com menor impacto humano, os ecossistemas apresentam mais de um terço das espécies potencialmente adequadas. Contudo, nas áreas mais afetadas pelas atividades humanas, como a desflorestação e a poluição, os ecossistemas apresentam apenas uma em cada cinco espécies adequadas.

O estudo demonstrou ainda que as medições tradicionais de biodiversidade, como a contagem simples de espécies, não são suficientes para detetar o impacto real da atividade humana, pois a variação natural entre regiões e ecossistemas oculta a verdadeira extensão desse impacto.

Em Portugal, a equipa do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da FCTUC estudou 34 locais na zona centro do país, abrangendo diferentes tipos de perturbação, desde áreas bem conservadas até campos agrícolas abandonados. Os resultados mostraram que, mesmo nas regiões com todas as condições naturais para suportar a vegetação, a presença de espécies está muito abaixo do esperado, especialmente nas zonas mais afetadas pela atividade humana.

“Este resultado é preocupante. Por um lado, mostra que os efeitos das atividades humanas, tais como estradas, desflorestação, poluição, entre outros, se estendem muito para lá dos locais, normalmente entendidos como estando perturbados. Por outro, mostram, pela primeira vez, que as plantas estão com dificuldades em recolonizar locais que seriam perfeitamente adequados para elas”, referiu Ruben Heleno, professor do Departamento de Ciências da Vida e investigador do CFE e do Laboratório Associado TERRA.

E continua: “este é um sinal de alerta para o papel fundamental dos animais selvagens, nomeadamente através da dispersão de sementes, um serviço que parece estar comprometido com o declínio de muitas populações animais”.

 

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