Dois projetos de investigadoras na área da sustentabilidade foram premiados na última edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência. Inês Fragata, do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e Liliana Tomé, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (Universidade Nova de Lisboa) destacaram-se pelos seus projetos na área do impacto de metais pesados no solo para plantas e herbívoros e captura de CO2, respetivamente.
Recuperação de solos
Quais os impactos que o cádmio presente no solo tem para as plantas que o absorvem e para os herbívoros que delas se alimentam? Esta foi a pergunta que serviu de base para o projeto de Inês Fragata, que vai centrar a sua investigação num caso específico e estudar os impactos do cádmio na cultura do tomateiro e nos ácaros-aranha, minúsculos herbívoros que se alimentam de centenas de espécies de plantas – incluindo o tomateiro e muitas outras importantes culturas agrícolas – devastando-as.
“Sabemos que os metais pesados, quando estão presentes no solo em concentrações elevadas, se tornam tóxicos para vários organismos e sabemos também que o tomateiro acumula cádmio, mas queremos perceber o que acontece quando os ácaros-aranha evoluem em altas concentrações deste metal pesado”, explica a investigadora.

Inês Fragata
Ou seja, é importante saber se a acumulação de cádmio em tomateiro pode levar à extinção ou proliferação de várias espécies de ácaros-aranha (praga agrícola), para avaliar a viabilidade de usar o tomateiro como fito remediador, na recuperação de solos contaminados com este metal.
Para saber se esta hipótese se confirma, Inês Fragata vai investigar se os ácaros conseguem adaptar-se à presença de cádmio na planta e quais as consequências desta adaptação. “Por exemplo, quero analisar se a evolução em plantas com cádmio modifica a capacidade de sobrevivência dos ácaros-aranha em ambientes mais desafiantes (por exemplo, ambientes com temperaturas mais altas ou pesticidas) e tenciono também quantificar as consequências ecológicas desta adaptação, testando se a presença de – e a evolução com cádmio – muda a capacidade de coexistência de diferentes espécies de ácaro-aranha na mesma planta. Finalmente, vou também identificar genes importantes para a adaptação à toxicidade causada pelo cádmio”.
O objetivo final é conseguir perceber as várias dimensões do impacto da exposição prolongada ao cádmio num agroecossistema.
Resgate de CO2
Como isolar e capturar com maior eficácia o CO2 libertado em centrais de energia, impedindo que se escape para a atmosfera? Liliana Tomé vai centrar-se nesta questão e tentar encontrar respostas mais eficientes para capturar os gases que emitimos, nomeadamente o dióxido de carbono (CO2), com o desenvolvimento de um novo conjunto de materiais mais eficientes para o sequestro deste carbono, por exemplo em gases de exaustão libertados durante a produção de energia, e impedir a sua libertação para a atmosfera.
“Vou desenvolver novas membranas para capturar o CO2. O carácter inovador destas membranas consiste na combinação de três componentes – líquidos iónicos, redes de polímeros de líquidos iónicos e materiais orgânicos porosos – todos eles baseados em líquidos iónicos”, explica. Apesar do nome que muitos desconhecem, os líquidos iónicos não são mais do que sais orgânicos que têm um ponto de fusão baixo (apresentam-se em estado líquido), com estruturas que podem ser recombinadas para produzir novos materiais. As suas propriedades físicas, químicas e biológicas têm levado à sua crescente aplicação nos mais diversos setores, incluindo indústria farmacêutica, ótica, eletrónica e ‘química verde’.

Liliana Tomé
Liliana Tomé identifica como “uma das características mais interessantes dos materiais baseados em líquidos iónicos a sua extraordinária afinidade para o CO2”. Outra é a versatilidade destes líquidos iónicos para que os novos materiais possam ser “desenhados à medida”, adaptando estruturas químicas e propriedades à função pretendida, o que terá um papel central no desenvolvimento do que a investigadora chama de ‘iongel matrix membranes’.
Estas membranas potenciam eficiências ímpares face a outros materiais utilizados na captura de CO2, e vão permitir alcançar vantagens importantes através do fornecimento de materiais avançados para a tecnologia de membranas, um processo sustentável, não só do ponto de vista ambiental como económico, com uma escalabilidade simples e de baixo custo, e com baixos requisitos energéticos.