Manuel Pizarro, responsável pela empresa ZOR Thermal, empresa de logística na cadeia de frio, esteve à conversa com a LOGÍSTICA&TRANSPORTES HOJE. Dos desafios enfrentados durante a pandemia, a questões de sustentabilidade, este empresário fala-nos também de uma solução desenvolvida para o transporte das vacinas contra a Covid-19.
Anunciaram durante o ano de 2021 a alteração do nome da vossa empresa. Se antes eram conhecidos como APP Thermal Chain, agora designam-se ZOR. A que se deveu esta mudança?
Acima de tudo, tínhamos alguma dificuldade quando queríamos comunicar o negócio internacionalmente. Tínhamos convencionado que era APP (Advanced Products Portugal), APB (Advanced Products Brasil) e APA (Advanced Products Argentina). Isto não fazia muito sentido, até porque nós, com o evoluir do tempo, começámos a ter outras empresas ligadas a outras áreas de negócio, que estão na ZOR More, que incide na segurança. Ou seja, tínhamos que ter um nome quer pudesse abranger outras áreas de negócio que não só o térmico. Então, criámos a ZOR Thermal and More. A nossa valia continua a ser proteger, dar segurança, qualidade, protocolos… O grande propósito foi poder comunicar a ZOR como marca e poder arranjar mais negócio além do Thermal. Não faz sentido numa empresa, hoje em dia, que o seu ‘guarda-chuva’ é vender a cadeia térmica, depois se calhar também estar a vender proteção microbiológica em embalagem. Assim, achamos que ficou uma comunicação mais limpa e interessante. No benchmarking que fizemos, utilizamos um ‘O’ nórdico porque a logística é, acima de tudo, precisão. Não pode falhar. A Maersk a Dachser são nórdicas… O nosso laboratório de soluções, mesmo para o Brasil e Argentina, é aqui na Europa, mas queríamos comunicar que continuamos na Europa, mas muito ligados às eficiências logísticas associados à precisão nórdica. É um pouco de marketing, mas acho que está a funcionar bem.
Depois de quase duas décadas a penetrarem no mercado nacional onde desenvolvem grande parte da vossa atividade, têm agora um objetivo cada vez mais claro: A internacionalização. Como está a correr este processo e quais são os vossos objetivos a médio prazo? Têm perspetivas de crescimento para novos países para além de Brasil e Argentina?
A ZOR tem, como parceiros, empresas totalmente similares, uma na Argentina e outra no Brasil. Trabalhamos exatamente o mesmo negócio, a cadeia térmica na área dos alimentos ou medicamentos, por isso procuramos responder com soluções. O Brasil não é um país muito fácil para importação. Grande parte da internacionalização que fazemos para o Brasil acabamos por produzir quase tudo lá. A ZOR Portugal desenvolve aqui e acaba por produzir lá. O mesmo acontece na Argentina. Quando trabalhamos para a Argentina, não falamos só de Argentina, mas de todos os países daquela zona: Paraguai, Uruguai, Chile, Peru… Não faz sentido, se calhar, sair tudo a partir de Portugal, até porque lá podemos produzir e ter vantagens. A ZOR Thermal tem-se preocupado mais em abranger a zona de Europa e um pouco da Ásia. A estratégia também mudou um pouco, sobretudo por esta necessidade de logística de proximidade. Ou seja, neste momento, estamos a entrar numa missão que é a Escandinávia. Temos uma vertente muito tecnológica, por exemplo a nível dos têxteis, em que nós estamos muito junto dos centros de inovação a procurar ter uma melhor resposta de materiais sustentáveis, sensorização dos processos, e isso tudo pode trazer vantagens para a ZOR de ter um padrão mais europeu, ser competitivo, mas, claro, sempre incorporando inovação, sensores e materiais. Acho que é aí que podemos fazer a diferença: fazer design to value e não design to cost. Ou seja, incorporar mais valor do que custo. Com a imprevisibilidade do mundo, não havendo agora tanta possibilidade de programação, estando próximo do cliente, podemos ser nós a ser alternativa. É isto que estamos a procurar.
Têm objetivos de internacionalização, mas o vosso grosso de faturação será em Portugal. Já tem um objetivo definido em termos de países onde gostariam de estar presentes e em termos de metas de faturação?
Para lhe dar uma ideia, em três anos crescemos 40%. Se conseguirmos manter esta trajetória e incorporar faturação internacional, será bastante mais sustentável para a ZOR. Portugal é um mercado pequeno, de alguns milhões, mas procuramos que o nosso portefólio possa ser alargado a outros países, onde, aliás, podemos ser competitivos. Por isso, acredito que o nosso ritmo se manterá, mas com a preocupação que temos com materiais, sensorização, o poder obter e usar dados, acho que nos vai permitir manter este crescimento nos próximos cinco anos, crescendo 30 ou 40%. Temos feito alguns case studies em Portugal que podem, perfeitamente, ser alternativa em mercados maiores. Criámos um programa de fowards, que são agentes recomendados, que têm todas as valias todas da ZOR, mas depois têm formação técnica local para poderem penetrar no mercado. Estamos praticamente a abrir um escritório na Suíça, que abrangerá a Alemanha, e essa proximidade permite-nos crescer com maior serviço de proximidade. O processo de internacionalização não é muito fácil. Tivemos escritório em Moçambique, parceria em Angola, tivemos um escritório participado na Polónia. Chegámos à conclusão que, se não houver muito compromisso de lá para cá, investe-se muito dinheiro e nunca conseguimos agregar os clientes com a proximidade que desejamos. Com este tipo de programas, nós queremos replicar o nosso laboratório lá [em qualquer país], num formato mais reduzido.
A cadeia de frio foi uma das mais ‘testadas’ durante os últimos meses, sobretudo se atendermos a que muitas das vacinas contra a Covid-19 tinham de ser conservadas a baixa temperatura. Como correu este período para a ZOR?
Posso dizer-lhe que o nosso processo na distribuição das vacinas foi paradigmático. Como partilhamos laboratório na Argentina, o nosso sócio estava a trabalhar na distribuição de medicamentos para a Pfizer lá. Tivemos acesso muito cedo que a vacina precisaria de soluções de temperatura baixa controlada. Então, rapidamente nos pusemos em campo para uma caixa a -60ºc. Fizemos todo o desenvolvimento e, quando foi o processo de vacinação em Portugal, nós já tínhamos a caixa desenvolvida. Como empresário, tive de tomar o risco de comprar o material suficiente para, se fossemos chamados a jogo, estarmos prontos. Isso, felizmente, aconteceu. Fomos utilizados e ainda hoje somos chamados para o programa CoVax, quer para alocação de vacinas em Portugal e ilhas, quer para realocação de vacinas, nomeadamente para África. Por termos dado esse passo, por nos termos adaptado para o sistema mais difícil, a -60ºC, que era o sistema da Pfizer – também tivemos o da Moderna -, isso permitiu-nos agarrar a distribuição das vacinas, quer em termos de produção das caixas quer dos registadores. Isto relacionado com as dificuldades que se sentiram na cadeia de frio no início da pandemia. Sentimo-nos valorizados por termos conseguido apoiar o país nesta situação, mas não podemos falar só de medicamentos. A nossa preocupação foi definir prioridades, definir fornecedores, porque, como sabe, os aviões pararam. Tínhamos acabado de implementar um projeto com a Sonae, do Continente Online, um projeto que incorpora vários princípios, desde a sustentabilidade a aumento de e-commerce… e posso dizer que não foi fácil. Os fornecedores e as fábricas estavam a fechar. Com muito esforço e resiliência, conseguimos arrancar com o projeto, com um atraso de cerca de dois meses. Conseguimos, com o e-commerce a disparar, implementar o projeto, transformá-lo num sucesso, e, só para ter uma ideia, com os nossos sistemas, o Continente, através do Continente Online, consegue fazer todos os envios de produtos refrigerados e congelados em carros normais. Estamos a falar de retirar da cidade 75 carros de motor refrigerado, sendo estas entregas feitas por carros normais. Isto teve um impacto brutal. Este sistema permite, na operação da Sonae, produzir mais encomendas, ou seja, ter maior rapidez. Antes o produto ambiente e de frio era separado, o frio só era preparado quase quando o carro estivesse à porta, e hoje conseguem preparar no dia anterior e, por isso, escoar mais encomendas. Foi uma aventura difícil pelo período que vivíamos, mas, até hoje, não deixou de ser tendência. Temos sido resposta praticamente com todos os retalhistas, desde Auchan a Jerónimo Martins, através do parceiro Mercadão, o DIA… não me quero esquecer de nenhum. A solução da Sonae é uma solução própria para eles. Mas aplicámos outros sistemas para as outras cadeias de retalho. Conseguimos responder, e acho que esta tendência de e-commerce vai continuar, mesmo que quebre um bocadinho. Há uma tendência de as pessoas receberem as encomendas de acordo com o seu ritmo de trabalho. Não sabemos o que vem aí, mas os dados mostram que estas dinâmicas não vão decrescer muito.
Avalia, então, positivamente toda a cadeia logística neste período que vivemos por causa da pandemia?
Acho que fomos fantásticos. A logística provou que se adapta às situações com os meios disponíveis e com os recursos possíveis, mas a verdade é que mostrou que se consegue adaptar. Acho que aprendemos lições para o futuro, porque todo o paradigma produtivo mudou um pouco. Há uma maior tendência para a proximidade, para a melhor escolha dos fornecedores, para não se olhar só para a variável custo. Para se ter uma ideia, o preço dos contentores que vêm da Ásia quintuplicaram. Isto vai sentir-se na prateleira. Ou nos reindustrializamos numa lógica de proximidade ou alguns preços não vão continuar iguais. Foi isso que tentamos fazer na ZOR. Não foi fácil. Acho que foi tudo uma mensagem que podemos produzir cá e levar lá para fora.
Em todas as conversas deste âmbito que vou mantendo, a par da palavra resiliência, das expressões que mais oiço é colaboração. Também se tornou mais óbvia esta necessidade de mesmo empresas concorrentes carecerem numa lógica de colaboração para fazer face aos desafios que vamos enfrentando enquanto sociedade?
Totalmente. Eu já tinha esta postura. Já não olhava para o concorrente como adversário, mas como ponto de aprendizagem ou até um parceiro de partilha de conhecimento. Num país como o nosso, que não é grande, para a ZOR, a Europa é muito partilhada. A lógica colaborativa é total. Já não tomamos uma decisão sem recorrer a um centro de inovação, a uma universidade, sem ter colaboradores a ver o que de melhor se faz no mundo. Temos, de forma crescente, uma aposta naquilo que já falámos: design to value. Fazer para criar valor, para agregar valor. Só assim conseguimos ser recompensados pelo esforço que vamos fazendo. Não conseguimos aumentar salários, reter as pessoas mais qualificadas, se não agregarmos valor. Temos perfeitamente consciência que este é o caminho. Se incorporarmos o melhor que cada um faz, conseguiremos ser melhores. Não somos empresas de capital muito grande e com estas colaborações conseguimos dar passos muito maiores.
A integração de tecnologia nos processos logísticos, nomeadamente, por exemplo, soluções que permitem o tracking geográfico e de condição dos produtos transportados são hoje uma realidade. Para onde estamos a caminhar neste domínio? O fator humano continuará a ser essencial no processo logístico?
Os dados e inteligência artificial vão criar tantas eficiências na logística que vai mudar muita coisa. O que não quer dizer que vá haver perda de mão de obra humana, vão é haver outros tipos de qualificações e de necessidades de trabalho que vão fazer com que, porventura, não vá existir espaço para o trabalho logístico tradicional. O mundo está a viver uma grande mudança e acho que vai haver uma maior possibilidade de todos colaborarem, de haver um processo organizativo diferente, isso é algo que a própria tecnologia nos vai dar. Lembro-me de ir uma vez a uma entrega de prémios em logística e tinha ganho, numa das categorias, a Seur, porque tinha desenvolvido um sistema de inteligência artificial que previa o máximo de entregas que conseguiam fazer num dia. Imagine que eram 10000 entregas. A partir daí, eles sabiam que não podiam receber mais pedidos de entrega, ou tinham de subir o preço ou passar para um concorrente. Esse tipo de informação, não vai destruir postos de trabalho. Vai é permitir planear e, em colaboração, arranjar outro operador para responder aos pedidos caso eles cheguem. As sensorizações, por exemplo: o projeto da Sonae tem sensorização, tem geolocalização, conseguimos saber, no momento, se as encomendas estão na rua. Isso permite acesso a toda essa informação e traduzi-la em ganhos de eficiência. Mas há uma coisa muito importante que tem que ver com sustentabilidade. Esses sensores permitem perceber onde é que o processo não correu bem, corrigir e, no futuro, essa mesma operação torna-se mais eficaz. Recentemente lançámos um projeto e registámos patente de uma manta que permite o transporte em avião com muito mais volume que uma caixa tradicional, quer seja de bens alimentares ou medicamentos, e também tem sensorização e toda a outra tecnologia. Isso permite-nos, cada vez mais, essa avaliação de dados, saber se o cliente recebeu, se recebeu em condições… O CeNTI ajudou-nos a incorporar PCM, um químico que permite dar energia positiva ou negativa ao produto que vai ser transportado. Com a sensorização conseguimos ter acesso aos dados imediatos para poder responder em caso de alguma falha. Isso para o desperdício é muito importante. Vamos a meio de um transporte, sabemos que as coisas já não estão bem, podemos ter uma ação preventiva. Acho que é muito importante.
Os recursos humanos portugueses estão preparados para esta transição tecnológica na logística? Há cada vez mais investigação, mas há também essa aproximação entre academia e empresas?
A minha experiência, e a ZOR gosta de ser consistente nisso, é de incorporar estagiários e estar sempre disponível para inovar… O que acho que tem de haver, positivamente falando, é de trazer as empresas para as universidades. Qual é a diferença principal entre uma empresa ou um centro de inovação e uma universidade? As empresas e os centros de inovação não podem falhar. Mas se calhar precisamos de abandonar um pouco essa ideia. É a falhar que inovamos e fazemos coisas melhores. Por isso, nunca precisámos tanto de universidades. Qual é a minha visão aqui? A presidente da União Europeia tomou a decisão de estender o Erasmus à área do emprego. Isso permite abrir mentes, permite aos alunos ter uma experiência num país estrangeiro e ganhar outra abrangência de conhecimentos. Isso permitirá aos estudantes portugueses regressarem ao país com outra visão e capazes de agarrar outros processos.
Mas aqui não teremos outro problema? Somos um país que tradicionalmente perde alguns dos seus elementos mais qualificados que vão para o estrangeiro em busca de melhores condições do que as que encontram aqui….
O nosso país é um país em que é agradável de viver e não é por acaso que algumas grandes empresas se estão a instalar cá. O grande problema é segurar as pessoas com os salários que temos. Mas, com a globalização que existe, podemos cada vez mais trabalhar de Portugal para fora e de fora virem também coisas para Portugal. Essa troca bilateral vai permitir-nos ir mudando um pouco o paradigma. Hoje, por exemplo, ir estudar para o Reino Unido já tem alguns entraves. Mas reconheço que tem razão, temos de ser resilientes. Temos de apostar em inovação, trazer as universidades para as empresas, mas levar também as empresas para as universidades. Um estudante que vá estagiar lá para fora, conhecendo a tecnologia que é produzia em Portugal, pode levar uma empresa lá para fora. É esse tipo de colaboração possível no curto prazo. Não é fácil segurar talentos quando as grandes empresas estão noutras geografias.
A sustentabilidade tornou-se igualmente um tema ao qual já não podemos fugir. Com o planeta à beira do colapso, com o setor da logística e transporte de mercadorias a ser um dos que se está a transformar, considera que estamos a abordar o tema da forma que ele precisa ou ainda há caminho a percorrer?
Acho que existe um excesso de politização à volta do tema sustentabilidade. O que temos é de informar as pessoas. É um tema a que somos muito sensíveis na ZOR. Desde os materiais até iniciativas de economia circular… Se não der para reutilizar tentamos que os materiais cheguem a um país que precisa deles e não os tem. Criar este aproveitamento de tudo o que é feito é o nosso princípio de trabalho. Temos de começar também a dar valor às nossas decisões: O que é mais barato, comprar uma t-shirt que vem de Taiwan, que consome contentores, emite CO2 e gasta água ou comprar uma uns euros mais cara mas que é produzida em Portugal, que cria emprego, que teve um tratamento mais sustentável? Se falarmos disto de forma muito transparente vamos tomar melhores decisões em termos de sustentabilidade. Na Europa, acho eu, estará fora de ideia desenvolver alguma coisa que não tenha um princípio de sustentabilidade. Nós fazemo-lo na ZOR, não é fácil, mas é um princípio da empresa. Porém, vamos competir com empresas que vão vender produtos que não são sustentáveis, mas são mais económicos. Por isso é que temos de incorporar valor na nossa produção.
Mas isto bastará?
O mundo é muito rápido a adaptar-se. Se calhar não há muito tempo não reciclávamos nada e hoje o “amarelo, verde e azul” já está na cabeça de todos nós. Eu vou regularmente ao Brasil e faz-me imensa confusão ter os desperdícios para deitar fora e tem de ser posto tudo no mesmo sítio. Faz-me muita confusão, mas são processos. O processo de sustentabilidade é mais um.
E o problema do plástico?
Está tudo contra o plástico, mas o plástico, se for reutilizado, é dos melhores materiais. Não existem muitos outros tipos de materiais para determinados produtos que consumimos. Fala-se muito do papel, mas a celulose, e tudo o que vem da floresta, causa um grande impacto. Se podermos tornar o plástico circular é melhor do que devastar florestas inteiras para produzir papel. Temos de encontrar o equilíbrio entre usar bem e mal. Essa informação tem de ser muito transparente e temos de ser pedagógicos. Existe um bocadinho a tendência que agora temos de transformar tudo em carros elétricos. Mas o que fazemos depois às baterias? Se calhar temos de ter um pouco de calma e tomar decisões um pouco mais concertadas, com algum experimentalismo, mas boa informação.
O repensar da ação humana tornou-se também eixo central de qualquer política empresarial no âmbito da sustentabilidade. Como vê a ‘revolução’ a ser operada neste domínio? A mudança passará também por um eixo educativo?
Claramente que tem de começar pela educação. Temos de criar outro tipo de hábitos, mas isso demora tempo. Para mim é claro que as cidades terão de ser ‘fechadas’. A semana passada estive em Paris e a quantidade de bicicletas e motorizadas, e a quantidade de carros que já não se vê… é brutal. Isto também vai acontecer cá. A ZOR trabalha muito a logística à loja. Antes os camiões iam duas vezes por dia levar mercadorias e agora já não podem fazer isso. O camião tem de levar o produto frio, o produto à temperatura normal e, se for preciso, produto de bazar. Passa muito por aí. Eu acho que este movimento de tratar da mobilidade urbana passará, inicialmente, muito por Lisboa e Porto, é o que se faz lá fora. O projeto de drones, por exemplo, o único que funciona é, salvo erro, em Singapura, com canais muito próprios por causa da segurança, mas acho que vai haver situações em que não é não estarmos preparados, é temos de nos preparar. Eu gosto deste exemplo de logística, de, por exemplo, Lisboa poder ser fornecida, em alguma parte, por barco. Não tem de ser tudo rodoviário. Se calhar, em certas partes da cidade, podíamos ter canais em que podíamos carregar alguma mercadoria e desbloquear a rodovia. Se calhar temos de não ser tão agarrados a princípios tão exagerados mas ter alguma criatividade para olhar para o que é feito lá fora e aos pouco mudar hábitos. Somos um país com uma população que está habituada a deixar o carro à porta de todos os sítios para onde vai. Isto vai ter de mudar.
Uma das inovações que apresentaram nos últimos tempos ao mercado foi o e-Kool Smart Cover. Fale-nos um pouco mais sobre este projeto…
Cada vez mais a ZOR focava-se muito em fazer o seu crescimento com as empresas exportadoras. Não temos um mercado muito grande, mas queríamos ir à boleia das exportadoras, fossem elas farmacêuticas, alimentares, da indústria vitivinícola. Em todas estas empresas, gostávamos de fazer parte do processo de exportação, e, como trabalhamos a cadeia de frio, temos que fazer com que os produtos chegassem bem. Quando desenvolvemos esta solução tratava-se de suprir necessidades em alguns circuitos não tão extensos. Podemos falar de medicamentos, até podemos falar de vacinas, onde são utilizadas caixas muito grandes e pesadas e que, depois, devido ao sistema de frio que é utilizado têm volumes muito curtos, são pesadas e caras. O reaproveitamento em logística inversa era quase impossível. A manta (e-Kool Smart Cover) é uma solução que conseguimos encontrar. Para ter uma ideia, uma caixa leva à volta de 600 litros e, com a nossa manta, conseguimos levar 1000. Levamos quase mais 40%. Tem outra vantagem: Imagine que estamos a mandar daqui para a Alemanha. A manta não consegue ter uma performance como a caixa, mas consegue ter boa performance em ambientes mais controlados. Conseguimos mandar para a Alemanha 10 mantas e depois, de avião, conseguimos fazer a logística inversa de forma muito económica. Podemos reutilizar todo o material. Imagine que enviávamos caixas. Eles teriam de ficar lá e, para novo envio, teriam de ser enviadas novas. Agora conseguimos facilmente fazer isto com esta manta, seja a uma temperatura de -22ºC, de 0.º C, 4.º C, ou 15-20ºC, os medicamentos usam muito esta faixa. Com custo controlado, reutilizando o mesmo sistema, mantemos a sensorização incorporada e conseguimos inovar. Isto começou por uma ideia muito interessante para resolver um problema de fornecimento, do Uruguai para o Brasil, de medicamentos de uma farmacêutica muito conhecida. Neste processo, que era muito burocrático, as mercadorias ficavam 20 ou 30 dias retidas até a situação estar resolvida. Mas era um medicamento muito necessário na altura, então desenvolvemos uma solução que pudesse ser enviada por meio rodoviário, dentro de um outro ambiente: o camião ia todo a 18.º C e nós íamos mandar duas paletes a menor temperatura. Percebemos que tínhamos de criar uma solução para evitar este processo burocrático e aproveitar a exceção aberta pelas autoridades para fazer chegar lá os medicamentos por rodovia. Em termos de sustentabilidade é brutal, porque podemos sempre fazer a logística inversa da manta sem comprometer a qualidade.